Centro Brasileiro-Argentino de Nanotecnologia quer vencer limitações e expandir ações no Mercosul
5 de dezembro de 2008 - 09:51
José d’Albuquerque e Castro, um dos coordenadores brasileiros do Centro, acredita que, embora ainda esteja em fase de consolidação de sua infra-estrutura, o Cban já alcançou grande conquista com suas escolas e workshops; o físico revela planos ambiciosos da instituição
Fruto de uma das recomendações da 1a Reunião de Ciência, Tecnologia e Sociedade, realizada na Argentina em 2004, o Centro Brasileiro-Argentino de Nanotecnologia (Cban) costuma ser citado como exemplo de êxito da cooperação científica entre países sul-americanos. Três anos após sua criação, em novembro de 2005, o centro vive um momento de consolidação e de expansão de suas atividades, conforme informou um de seus coordenadores brasileiros, o físico da UFRJ José d’Albuquerque e Castro.
As conquistas do Cban são significativas ao promover a formação de recursos humanos, ao viabilizar trocas importantes de experiências entre estudantes e ao organizar workshops envolvendo pesquisadores dos dois países. As perspectivas para o Centro são ambiciosas: estender suas atividades a outros países do Mercosul e promover o envolvimento de empresas em suas atividades, contribuindo para a incorporação da inovação tecnológica nesse setor.
Em Porto Alegre, durante a 4ª reunião CTS, José d’Albuquerque e Castro falou ao “JC e-mail”:
– O Cban nasceu em 2005, de uma recomendação da primeira reunião CTS, realizada na Argentina em 2004. Depois de três anos, em que estágio se encontra o Cban atualmente? Já é um centro consolidado?
Estamos ainda na fase de montagem de uma estrutura para a gestão do Centro, que atenda não só as necessidades atuais, mas permita a expansão de suas atividades. Temos contado com o apoio da Coordenação de Micro e Nanotecnologia do MCT; no entanto, as demandas são muito altas, de modo que precisaremos montar, junto com o Ministério, uma infra-estrutura de secretaria adequada ao funcionamento do Centro.
– Qual é a fonte de recursos do Cban?
Os recursos provêm da ação Fomento a Projetos de P&D em Nanotecnologia, do Plano Plurianual. O repasse ao Centro é feito através do CNPq. Como o Cban vem expandindo suas atividades, a demanda por recursos vem aumentando anualmente. Além dos fundos necessários para as escolas e workshops, existe uma perspectiva de que o Centro venha a apoiar projetos conjuntos, bem como intercâmbio científico, com bolsas para estágios de estudantes e de pesquisadores.
– Quem articula as atividades do Cban?
O Centro conta com dois coordenadores e um comitê assessor em cada país. No Brasil, além de mim, participa da coordenação o professor Jairton Dupont, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Na Argentina, são os professores Roberto Salvarezza e Alfredo Boselli. A programação anual é definida pelos quatro coordenadores, ouvidos os comitês assessores.
– Qual é a estrutura física do Centro? Onde são realizadas as escolas do Cban?
Não temos uma estrutura física. Neste aspecto o Centro é inteiramente virtual. Em relação às escolas, a cada ano fazemos uma chamada para propostas de organização. As proposições vêm de grupos de pesquisa em diferentes instituições e as escolas são, em geral, realizadas nas próprias instituições, pois a maioria envolve atividades teóricas e experimentais. Este ano tivemos escolas em Buenos Aires, Belo Horizonte, La Plata, Recife e Córdoba, e uma sexta será realizada este mês no Rio de Janeiro. Em cada uma, os gastos com passagens e diárias dos participantes (professores e alunos) são cobertos com recursos do respectivo país. Em 2009 deveremos ter oito escolas e em 2010, dez. Um aspecto interessante é que as escolas começaram a despertar o interesse de pessoas de empresas ou mesmo de agências governamentais. Tivemos este ano a participação de algumas dessas pessoas, que, todavia, não contaram com financiamento do Centro. Um ponto que vale a pena ser destacado, e no qual viemos trabalhando, é o de dar maior visibilidade ao Centro e às oportunidades que ele oferece às comunidades científicas dos dois países. Isto vem sendo progressivamente alcançado, mas ainda precisamos avançar mais. A experiência tem nos mostrado que as escolas têm sido muito proveitosas para os estudantes. São freqüentes as manifestações de estudantes agradecendo pela oportunidade e elogiando as escolas. É fundamental difundirmos essas atividades para beneficiarmos um conjunto maior de estudantes.
– Quais foram as principais conquistas alcançadas pelo Cban desde sua criação?
As escolas são uma conquista. A avaliação por parte dos participantes tem sido muito positiva. De fato, oferecemos aos alunos a oportunidade de se beneficiarem do conhecimento e experiência dos melhores grupos e pesquisadores dos dois países. Os temas das escolas são variados. Por exemplo, nanomagnetismo, nanobiotecnologia, nanotubos de carbono, materiais poliméricos e técnicas de preparação e de caracterização de nanoestruturas. Achamos que, além da questão da formação de alunos, o fato de colocá-los em contato com colegas do outro país pode no futuro estreitar as relações entre eles. Se pensarmos na integração entre países, a possibilidade deles se conhecerem, trocarem mensagens e compartilharem referências contribui para criar uma comunidade comum. Então, a escola sem dúvida é um sucesso. Outro ponto positivo, mas que precisaremos avançar mais, é o do estímulo ao intercâmbio e à cooperação científica entre os grupos dos dois países.
– E quais foram as dificuldades?
Além de algumas dificuldades na gestão do Centro, decorrentes da falta de uma infra-estrutura adequada ao seu funcionamento, não contamos ainda com recursos para apoio a projetos conjuntos de pesquisa. Essa é uma das missões do Centro, mas que ainda não conseguimos concretizar. Isto naturalmente depende de entendimentos entre os Ministérios de C&T do Brasil e da Argentina. As perspectivas são otimistas. Esperamos também contar com recursos para bolsas.
– A procura para participar das escolas é grande?
Em cada escola, o número de candidatos é tipicamente três vezes maior que o de vagas. O limite de participantes é estabelecido em função da capacidade em receber alunos dos laboratórios onde as atividades experimentais são realizadas. Mas consideramos que a demanda deveria ser maior. A maior difusão das atividades do Centro deverá aumentar a procura pelos cursos.
– Quais são as perspectivas futuras?
Além de aumentarmos as atividades do Centro Brasileiro-Argentino, há a perspectiva de ampliá-lo, incorporando outros países do Mercosul Estendido. Temos manifestações de interesse por parte do Chile, Uruguai, Colômbia, Venezuela e outros países. Não está claro como essa participação se daria, tendo em vista as diferenças entre as dimensões das respectivas comunidades científicas, que são muito maiores no Brasil e na Argentina. Talvez seja criada inicialmente a figura de País Associado e, no futuro, o Centro venha a se tornar mais amplo. De toda maneira, isto será objeto de decisão governamental. Outro projeto, mais recente, diz respeito ao envolvimento com empresas. Em fevereiro de 2008, os presidentes do Brasil e da Argentina assinaram um programa de cooperação técnico-científica, envolvendo quatro áreas prioritárias para seus países: Energia Nuclear, Energias Renováveis, Programa Aeroespacial e Nanotecnologia. Em relação à última, o Cban foi destacado como o instrumento apropriado para o seu desenvolvimento, devendo ainda buscar o envolvimento com a empresa em suas atividades, visando contribuir para incorporar a Nanotecnologia no meio empresarial, como um fator de inovação.
(Marina Ramalho)
Fonte: Jornal da Ciência 3652, 1º de dezembro de 2008.