Descoberto novo vírus hemorrágico letal
13 de novembro de 2008 - 09:20
Microorganismo matou quatro pessoas na África do Sul; origem é desconhecida
Um novo vírus que causa uma febre hemorrágica letal foi descoberto no sul da África. Ele matou quatro pessoas na África do Sul e deixou mais uma doente. Porém, autoridades de saúde sul-africanas dizem que o surto está controlado, segundo o jornal “New York Times”. Vírus hemorrágicos — dos quais o Ebola é o mais conhecido — são temidos devido à elevada taxa de mortalidade.
Se não forem identificados depressa, costumam ser letais.
O vírus identificado agora é da família dos arenavírus, conhecidos causadores de febres hemorrágicas, principalmente na África e na América do Sul. Exemplos são as febres de Lassa, do oeste da África; Machupo e Guanarito, ambas sulamericanas.
Muitos desses microorganismos permanecem misteriosos anos após terem sido descobertos.
No Brasil, o arenavírus Sabiá matou uma mulher em SP em 1990 e desapareceu sem que sua origem na natureza tenha sido identificada.
A descoberta de vírus que infectam animais não é um evento incomum.
Um exemplo é um vírus de febre aftosa identificado no mês passado em cabras da Suíça. Porém, é relativamente raro descobrir microorganismos que causam doenças fatais em seres humanos, como o coronavírus que provocou a síndrome respiratória que se espalhou pela Ásia em 2002. Estudos recentes, no entanto, indicam que o número de doenças infecciosas tem crescido nas últimas décadas, possivelmente em função da globalização (que facilita viagens) e do aumento da população.
Ninguém sabe ainda como a primeira vítima do novo vírus foi infectada.
Porém, os arenavírus são comuns em roedores. A urina seca desses animais se mistura à poeira e pode transmitir o vírus, se inalada.
A descoberta foi confirmada pelo Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis da África do Sul e pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA.
A primeira vítima chamava-se Cecilia van Deventer, uma vendedora de viagens em Lusaka, na Zâmbia. Ela adoeceu em 2 de setembro e foi levada de avião para Johannesburgo, na África do Sul.
Aparentemente, Cecília transmitiu a doença para Hannes Els, o paramédico que a acompanhou na viagem, e Gladys Mthembu, a enfermeira que a atendeu na Clínica Morningside, em Johannesburgo.
A quarta pessoa a morrer foi Maria Mokubung, a faxineira que limpou o quarto onde Cecília faleceu, em 14 de setembro. Segundo jornais sul-africanos, a morte de Maria inicialmente teve erro de diagnóstico, porque ela tinha tuberculose e meningite, e já estava muito fraca e confusa quando sua família resolveu buscar socorro. A quinta pessoa a adoecer sobreviveu. Ela é a enfermeira que cuidou de Hannes Els. A mulher ainda está muito mal, mas tem respondido ao tratamento com a droga ribavirina.
A doença começa com sintomas semelhantes aos da gripe, como febre e diarréia. Em seguida aparecem manchas como as do sarampo. A próxima fase é a hemorragia que leva a colapso respiratório e circulatório.
Autoridades de saúde da África do Sul disseram que não houve casos novos, mas elas ainda vão esperar até o fim do mês para considerar o surto definitivamente debelado.
Será difícil localizar a origem do vírus. O corpo de Cecília foi cremado e Zâmbia não guardou amostras de seu sangue. Amostras de tecidos das outras vítimas só podem ser retiradas em laboratório de segurança máxima e o único na região está fechado.
(O Globo, 5/11)
Fonte: Jornal da Ciência 3636, 06 de novembro de 2008.