A Índia vai à Lua
29 de outubro de 2008 - 10:35
País lança hoje a sua primeira missão para o satélite
Uma corrida está em curso na Ásia e a linha de chegada fica no espaço. No mesmo mês em que a China comemorou a primeira caminhada espacial de um astronauta do país, a Índia lança sua primeira nave para a exploração da Lua. A Chandrayaan-1 decola hoje de uma base espacial numa ilha na Baía de Bengala rumo ao satélite da Terra.
A nave-robô não pousará na Lua. Ficará na órbita lunar e sua principal missão é fazer um atlas tridimensional da superfície do satélite. Também deverá mapear a distribuição de minerais.
Como na China, o lançamento tem sido empregado pelo governo para fortalecer o nacionalismo. Já envolvida em outras disputas com a China, a Índia não quer ficar para trás na corrida espacial.
Missão exibe tecnologia nacional
A Chandrayaan-1 teve cinco de seus 11 equipamentos principais desenvolvidos no país. E será lançada por um foguete igualmente indiano. Ela pesa cerca de uma tonelada e meia e leva a bordo equipamentos sofisticados de análise de minerais.
A nave ficará dois anos em órbita da Lua. Um de seus objetivos é procurar hélio 3, raro na Terra, mas necessário à fusão nuclear. A fusão, o processo que gera a energia das estrelas, é vista como fonte potencial de geração de eletricidade no futuro. Embora hoje seja considerado inviável.
A Chandrayaan-1 foi projetada pela Organização Indiana de Pesquisa Espacial (Isro).
— Vamos para a Lua pela primeira vez. A China chegou lá antes, mas hoje estamos tentando alcançá-los, tentando superar essa distância tecnológica — afirmou Bhaskar Narayan, diretor da Isro.
Astronautas chineses foram tratados como heróis nacionais, no mês passado, depois de o país ter realizado sua primeira caminhada espacial. O Japão também lançou duas navesrobôs para o satélite e a Índia não quer ficar para trás.
— A Índia deseja que o mundo a veja como uma nação que está avançando em ciência e tecnologia e que pode competir no espaço também — disse Amulya Ganguli, analista de política.
Mas a Isro insiste que a missão não gira em tornosomente do orgulho nacional.
Ela também traria benefícios científicos. Durante os dois anos em que a espaçonave ficará em órbita da Lua, ela lançará uma pequena sonda de apenas 30 quilos.
A sonda pousará na superfície do satélite natural para recolher e analisar material do solo.
Em abril, a Índia colocou em órbita dez satélites levados ao espaço por um só foguete. Além disso, a Isro colabora com vários países. A Índia desenvolve um satélite meteorológico com a França e tem um projeto de foguete com grande capacidade de carga , que deve ser usado para transportar satélites mais pesados por volta de 2010. Se tiver êxito nesses projetos, poderá lucrar no bilionário mercado de veículos lançadores de satélites comerciais.
O custo da atual missão é de US$ 79 milhões, um valor considerado modesto para a exploração espacial
A corrida lunar
Estados Unidos: São o único país a ter levado seres humanos à Lua. Neil Armstrong se tornou a primeira pessoa a pisar no satélite em julho de 1969.
Porém, desde 1972 os americanos não voltam lá. O último homem no satélite foi Eugene Cernan, da Apollo 17, em dezembro de 1972. A Nasa já mandou duas naves-robôs para a Lua e tem planos de voltar a enviar missões tripuladas, mas apenas em 2020. Na verdade, hoje, até mesmo o programa dos ônibus espaciais enfrenta problemas.
Rússia: Os russos foram pioneiros no espaço (lançaram seu primeiro satélite em 1957), mas nunca pisaram na Lua.
Porém, os russos colocaram lá o primeiro carro robótico, levado pela Lunokhod em 1970. Naves russas não tripuladas coletaram ainda amostras do solo lunar nos anos 70. Os russos têm planos de lançar uma sonda lunar em 2012.
China: Lançou seu primeiro satélite lunar no ano passado. Além de EUA e Rússia, a China é o único país a ter levado astronautas ao espaço em naves próprias. Pequim planeja mandar um carro-robô à Lua em 2012.
Japão: Já enviou duas naves não-tripuladas para a Lua e tem planos de mandar mais uma em 2010.
(O Globo, 22/10)
Fonte: Jornal da Ciência 3625, 22 de outubro de 2008.