O mapa do câncer

11 de setembro de 2008 - 10:18

Identificação de falhas genéticas abre nova frente contra tumores em pâncreas e cérebro

Um consórcio internacional de pesquisa completou o primeiro mapa genético abrangente sobre o câncer. Mutações associadas a duas das mais agressivas formas da doença foram identificadas. Em trabalhos nas revistas “Science” e “Nature”, pesquisadores apresentaram os mapas genéticos do câncer do pâncreas e do glioblastoma, a forma mais freqüente de tumor primário no cérebro.

Num primeiro momento, os testes podem levar a diagnósticos mais precisos. O diagnóstico precoce do câncer do pâncreas é extremamente difícil e, muitas vezes, a doença só é descoberta quando está em estágio avançado. O prosseguimento dos estudos abre caminhos para tratamentos mais eficientes contra esses dois tipos de tumor.

O mapa aumenta a compreensão sobre o desenvolvimento do câncer ao revelar genes essenciais para a formação dos tumores. O trabalho permitiu ainda relacionar numerosas falhas genéticas e mostrou o papel na formação de tumores de um gene que até agora não estava associado a qualquer forma da doença.

— Isso mostra que ainda podemos ser surpreendidos ao estudar a biologia do câncer — disse o pesquisador Michael Stratton, que lidera um trabalho de mapeamento genético, no Instituto Sanger Wellcome Trust, em Hixton, Reino Unido.

Há três anos, pesquisadores do Instituto Broad (uma colaboração do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e da Universidade de Harvard), em Cambridge, EUA, iniciaram os trabalhos de um projeto pioneiro que se tornou conhecido como o Atlas do Genoma do Câncer (TCGA, na sigla em inglês). Um dos estudos sobre o glioblastoma é fruto desse trabalho.

Na Universidade Johns Hopkins, em Baltimore (EUA), pesquisadores descobriram uma potencial forma de tratamento para o glioblastoma.

— O câncer é muito complexo e varia de uma pessoa para outra. Se você tem 100 pacientes, tem 100 doenças. Por isso, é importante conhecer os princípios básicos, a genética da doença — explicou Bert Vogelstein, da Johns Hopkins.

As descobertas sugerem que algumas drogas novas podem não funcionar da maneira esperada porque têm como alvo mutações em apenas um gene. E a doença é resultado da interação de mutações numa série de genes.

A equipe da Universidade Johns Hopkins seqüenciou o genoma de 24 pacientes com câncer pancreático avançado e de 22 pacientes com glioblastoma multiforme.

Segundo Vogelstein, as descobertas sugerem que empresas devem mudar sua abordagem no desenvolvimento de novos medicamentos contra o câncer.

— Em vez de buscar drogas contra genes específicos, acreditamos que pode ser mais produtivo buscar medicamentos que bloqueiem caminhos genéticos, as interações entre os genes — explicou Vogelstein.

Michael Stratton acrescentou que os estudos ainda são muito iniciais. Mecanismos que ligam e desligam genes ainda são pouco conhecidos. Para identificá-los, seria necessário rastrear todo o genoma humano com um nível de precisão não alcançável com a tecnologia atual.

— Por enquanto, temos restrições de custo e de tecnologia — disse Stratton.
(O Globo, 5/9)

Fonte: Jornal da Ciência 3592, 05 de setembro de 2008.