Necessidade de capacitação domina 1o reunião do Conselho de Ciência, Tecnologia e Inovação do CE

12 de agosto de 2008 - 11:32

Investimentos visam ampliar em oito vezes oferta no ensino técnico e tecnológico até 2010

A preocupação com a capacitação dos cearenses para as oportunidades de trabalho nos grandes projetos estruturantes que o Ceará vai receber nos próximos anos – siderúrgica, refinaria da Petrobras, mineração e energia alternativas – deu a tônica da primeira reunião do Conselho de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado, realizada sexta-feira. O órgão tem atribuição de estabelecer metas e diretrizes para o setor.

Os empreendimentos deverão abrir cerca de 5 mil postos de trabalho, disse o governador Cid Gomes, que preside o Conselho. Os investimentos previstos – US$ 11,7 bilhões da refinaria e US$ 6 bilhões da siderúrgica – deverão gerar um faturamento equivalente a 60% do PIB do Ceará, sem contar o fator multiplicador dos empreendimentos, ele informou.

O cronograma prevê o início da instalação da siderúrgica para janeiro de 2009 com entrada em produção para 2011. As obras da refinaria também são esperadas para começar no próximo ano. O governador enumerou os investimentos agendados para capacitação no Ceará até 2010.

O Cefet investirá R$ 80 milhões para triplicar a matrícula de 7 mil para 21 mil técnicos de nível médio e tecnólogos. No Centec serão investidos R$ 50 milhões em duas novas Fatecs, no Centro de Educação a Distância e na transformação de nove CVTs em CVTec. A Secretaria de Educação investirá R$ 70 milhões por ano com a introdução do ensino médio integrado ao ensino técnico iniciado este mês em 25 das 47 escolas até 2010 que oferecerão 45 mil matrículas por ano do nível técnico.

O presidente da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), Lucas Barbosa, observou que o país passa por uma crise de falta de pessoas para a matemática. O problema afeta não só ao Ceará mas também São Paulo, disse ele. “Nós temos de trazer os cearenses de volta, como fez a China na década de 70 com investimento e a criação de instituições para atrair pessoas”, afirmou.

Cid Gomes relatou que tem conversado muito sobre capacitação com o deputado Ariosto Holanda. Conforme o governador, o projeto e-Jovem, introduzido pela Secretaria de Educação, inicia no primeiro ano do ensino médio o fortalecimento das linguagens da matemática, português, informática e inglês. “Estamos recrutando mão-de-obra para o e-Jovem em parceria com o Centec”. Segundo ele, a idéia do Centro de Educação a Distância, a ser instalado em Sobral com investimento de R$ 12 milhões, visa acelerar a formação e melhorar os quadros nestas linguagens.

“O problema sério a ser enfrentado é que o Ceará não está preparado. O nível e a qualidade dos recursos humanos precisam melhorar muito”, disse o presidente da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), Roberto Macedo.

Como exemplo, o empresário observou que tem faltado soldador para a demanda dos parques eólicos em instalação no Ceará e engenheiro para a construção civil. Macedo defendeu a necessidade de saber o perfil dos empregos das empresas investidoras e o cronograma de instalação de cada uma para acelerar a formação de pessoal local.

Como fez a China, o Ceará vai precisar buscar a inteligência que foi para fora do Estado, propôs Roberto Macedo. Para ele, o Ceará é o maior fornecedor de talentos para o ITA: provou que é um celeiro de inteligência. “Agora precisa coordenar ações do governo e setor privado para capacitar pessoal local, pois sai mais caro buscar fora do Estado”, disse o presidente da Fiec. Segundo ele, só uma obra da Vale do Rio Doce e um porto no Espírito Santo demandaram 32 mil pessoas para serem terminadas.

O secretário da Ciência, Tecnologia e Educação Superior, René Barreira, disse que está sendo contatada a Universidade Corporativa da Petrobras e depois será procurada a da Vale do Rio Doce “para enfrentar o desafio da preparação da mão-de-obra qualificada em todos os níveis, senão teremos problema com as obras estruturantes”.

Ele informou que tem feito gestões no Ministério da Educação para que seja adicionado o curso Engenharia de Petróleo aos quatro cursos que o Ministério da Educação pretende ofertar na Universidade Federal da Integração Afro-Luso-Brasileira (Unilab) a partir de 2009, em Redenção.

O governador iniciou a reunião com a mostra dos investimentos do Estado em diversas áreas. O anel óptico do projeto Cinturão Digital, que levará Internet de banda larga a 82% da população urbana do estado – um investimento de R$ 47 milhões a ser concluído em 2010 -, segundo Cid, deverá ser pago em dois anos com a economia na transmissão de dados e telefonia IP.

A carteira de investimentos privados em energia eólica, solar e termoelétrica, disse ele, em menos de cinco anos fará o Ceará passar de um estado que importa 100% da energia que consome para um estado exportador do insumo. Cid disse que no dia anterior recebeu representantes da GTZ, agência de cooperação do governo alemão, para discutir o projeto de transformar o Centro Vocacional Técnico (CVTec) de São Gonçalo do Amarante em escola para formar técnicos em energia eólica e solar.

Conforme Cid, na implantação do parque de energia solar em Tauá serão investidos US$ 250 milhões de 2008 a 2010; até dezembro de 2008 será investido US$ 1 bilhão na produção de 500 MW/ano. Segundo ele, mais US$ 1,2 bilhão vai ser investido em projetos de energia termelétrica até dezembro de 2008. A usina de biodiesel em Quixadá, que já está pronta para ser inaugurada, recebeu US$ 76 milhões.

Lindberg Gonçalves, membro da SBPC no Conselho, alertou para a necessidade de reduzir as assimetrias no financiamento federal, informou que neste sentido o deputado Ariosto Holanda tem um Plano, que já apresentou no Inova. “Uma parcela dos fundos setoriais não está sendo investida no Nordeste. Alguma coisa precisa ser feita. Cabe a esse Conselho se manifestar; cabe à Região, não apenas ao Ceará”, alertou.

O presidente do Instituto Centec, Samuel Brasileiro, avalia que pela primeira vez a capacitação da população é vista pelo governo como um projeto estruturante, conceito antes aplicado às grandes obras físicas. “Nunca tivemos uma instância de ordem política como agora no Ceará”, disse ele com relação ao planejamento das ações de capacitação de modo regionalizado e interinstitucional.

Samuel Brasileiro calcula que a oferta do ensino médio e tecnológico vai ser ampliada em oito vezes mais até 2010 no Ceará. Das 11 mil vagas de hoje – 7 mil do Cefet e 3 mil do Centec e 1 mil do Sistema “S” – chegará a 80 mil matrículas por ano.

O governador observou que nos países desenvolvidos há um profissional de nível superior para cinco técnicos. Mas no Ceará a relação é de dois profissionais de nível superior para um de nível técnico. Para ele, o esforço que está sendo feito com o Ensino Médio Integrado atenderá a 1/7 dos 350 mil jovens do Estado. O presidente da Funcap, Tarcísio Pequeno, disse que a soma irá a 20% – 1/5 da faixa etária – se somadas as contribuições dos outros entes.

Tarcísio Pequeno ressaltou que esta foi a primeira reunião do Conselho, criado na Constituição de 1989. “É um marco importante do Estado do Ceará. Esta reunião não é para dizer o que o governo vai fazer, mas para nós dizermos o que podemos fazer para o Ceará – este é o espírito deste Conselho”, afirmou. Ao final do encontro, o governador disse que irá participar de todas as reuniões do Conselho e considerou “da maior valia” as contribuições dadas.

Para Cid, o governo considera o Conselho e sua área de atuação estratégica e fundamental, tanto que resolveu presidi-lo. “Há sempre o que aprender nas instâncias coletivas, que são essenciais para o governo cumprir o seu papel e estar sintonizado”, afirmou.

O vice-presidente do Conselho, René Barreira, disse que cada conselheiro recebeu uma versão preliminar do Plano de Ciência, Tecnologia, e Inovação para que acrescentem suas críticas e contribuições. No dia 22 será realizada uma segunda reunião, ele propôs, para apresentação do Plano, seguida de discussões.
(Assessoria de Comunicação da Secitece)

Fonte: Jornal da Ciência nº 3573, 11 de agosto de 2008