Tópicos Especiais em Filosofia Social e Política (2009.1)

24 de fevereiro de 2009 - 12:41

Tópicos Especiais em Filosofia Social e Política

 

Código: TEP 006 Créditos: 30 h/a
Docente: José Expedito Passos Lima
Semestre: 2009.1 Horário: 3CD Natureza: Teórica Classificação: Optativa

 

1 Proposta do curso
Desde o De constantia philologiae, pars posterior do De constantia iurisprudentia, de 1721, a tentativa de Giambattista Vico (1668-1744) de elaborar uma nuova scienza decorria de uma constatação: o curso das nações se revelava como um enorme edifício sem fundamentos. Não obstante os estudos realizados pelos doutos de seu tempo, as origens do mundo civil das nações permaneciam ainda obscuras. Uma nova investigação exigia mudanças no estatuto da Filologia: esclarecer a “história das coisas” (historia rerum) valendo-se da “história das palavras” (historia verborum). Se os filólogos se revelavam incapazes para tais estudos, restava ainda observar o procedimento dos filósofos. Vico critica, de início, René Descartes (1596-1650) e Nicolas Malebranche (1638-1715) de aconselharem aos filósofos o abandono da Filologia, considerando-a pouco científica. Era preciso, entretanto, justificar a Filologia como ciência a fim de possibilitar uma investigação dos primórdios da vida civil. Em oposição à impostação filosófica fundada no mos geometricus, Vico se reporta ao patrimônio retórico-poético e à cultura do humanismo cívico. A defesa de um pensar “poético” – identificado aqui como mos aestheticus – recupera  a dimensão da corporeidade, dos sentidos, das paixões, da fantasia, da imaginação, do ingenium, da memória, do senso comum: materiais retóricos e históricos. Entre os filósofos, confrontados por Vico, destacam-se ainda Benedictus de Spinoza (1632-1677) e Blaise Pascal (1623-1662) e os pensadores de Port-Royal, quer por razões epistêmicas, quer políticas: não obstante a presença de temas oriundos desses autores na formação do pensamento  viquiano. A nuova scienza, concebida como ciência da vida civil, não exclui, porém, certa prática: algo que justifica a idéia de uma “arte diagnóstica” e de uma “nova arte crítica”. Trata-se de um projeto de saber reconhecedor da idéia do pensador Pico della Mirandola (1463-1494), em suas conclusiones de omini scibilis, de integrar inumeráveis coisas da religião, das línguas, dos costumes, dos comércios, dos impérios, dos governos e das ordens, para poder chegar aos princípios de uma ciência. Pensar a crítica viquiana à racionalidade moderna e indicar os danos causados no âmbito da cultura da vida civil é o que se propõe este curso.

2 Conteúdo Programático


I. A recepção da geometria cartesiana na Itália do século XVII e XVIII
   1.1 A ciência cartesiana: Descartes e a geometria na Itália
   1.2 O cartesianismo em Nápoles e a reflexão de Vico
   1.3 Sobre a crise da ratio studiorum: a orientação cartesiana
   1.4 Os novatores napolitanos: cultura, política e vida civil
   1.5 Cultura e vida civil: preocupação viquiana

 

II. A crise dos Studia humanitatis: Vico e o cartesianismo
    2.1Descartes e a cultura clássico-humanista: a propósito do Discours
    2.2 Descartes e Malebranche: busca da verdade como questão
    2.3 Retórica e Filosofia moral: Descartes e os pensadores de Port-Royal
    2.4 L’Homme: a composição cartesiana
    2.5 Vico: crítica à mathesis universalis e defesa de Pico della Mirandola

 

III. Defesa da Filologia e proposta de nova scientia em Vico
     3.1 Vico e a Filologia como ciência: gênese do mundo civil
     3.2 Retórica e Filologia: sobre o pensar poético e um saber das origens
     3.3 Nuova scienza e antropologia-estética: o mos aestheticus
     3.4 Senso comum e Vida civil
     3.5 História sagrada e história profana: princípio da história na nuova scienza

 

IV. Scienza nuova e vida civil: filosofia e política
     4.1 Vico, crítico de Spinoza e Pascal
     4.2 Princípio da conservação da vida civil
     4.3 A barbárie e sua presença na história
     4.4 A crise do ingenium: tempos analíticos
     4.5 Arte diagnóstica e nova arte crítica: saber, história e vida civil

 

3 Metodologia

O presente curso adota, de um lado, uma orientação hermenêutica, pois se trata de interpretar a herança retórica, poética e filológica – considerada aqui como mos aestheticus –  na obra de Giambattista Vico e identificar as suas fontes filosóficas e culturais opostas ao mos geometricus ; de outro, adota, porém, a orientação de uma filosofia social e política, no sentido de pensar a reflexão viquiana sobre os rumos da racionalidade e seus danos na cultura da vida civil: algo que justifica a preocupação também com a problemática de uma nova concepção de saber.

4 Bibliografia
ARNAUD & NICOLE. La logique ou l’art de penser [1662]. France: Flammarion, 1970.
CARTESIO. L’uomo [1677], In: Opere filosofiche, Vol. I, Bari: Gius. Laterza & Figli, 2003.
DELLA MIRANDOLA, P. G. Discorso sulla dignità dell’ uomo [1486]. Parma: Fondazione Pietro Bembo-Ugo Guanda, 2007.
_____. Heptaplus. La settemplice interpretazione dei sei giorni della genesi [1489]. Carmagnola: Arktos, 1996.
_____. Conclusiones nongentae [1486]. Città di Castello: Leo S. Olschki,1995.
DELLA MIRANDOLA, P. G; BARBARO, E. Filosofia e eloquenza? [1485]. Napoli: Liguori, 1998.
DESCARTES, R. Discours de la méthode [1637]. Paris: Librairie Génerale Française, 2000.
_____. Meéitations metaphysiques [1641]. Paris: Garnier – Flammarion, 1979.
_____. Les principes de la philosophie [1644]. Paris: Librarie philosophique, J. Vrin, 1999.
_____. Les passions de l’ âme [1649]. Paris: Librairie philosophique, J. Vrim, 1990.
_____. La recherche de la verité pour la lumière naturelle [1701]. Arles: Actes sud, 1997.
MALEBRANCHE. Œuvres. France: Gallimard, 1979.
VICO, G. Opere Filosofiche. Firenze: Sansoni, 1971.
_____. Opere Giuridiche. Firenze: Sansoni, 1974.
_____. Opere. Vols. I-II, Milano: Arnoldo Mondadori, 2001.
_____. Institutiones oratoriae [1711]. Napoli: Instituto Suor Orsola Benincasa, 1989.