Uece lança primeira graduação em Turismo Comunitário do Brasil para comunidades costeiras
26 de setembro de 2025 - 16:38
A Universidade Estadual do Ceará (Uece) realizou, nesta sexta-feira (26), no Auditório Central, a aula inaugural do curso Tecnólogo em Turismo Comunitário, voltado exclusivamente para os povos e comunidades costeiras tradicionais do litoral cearense, das unidades de conservação federais e de outras comunidades tradicionais. Esse é o primeiro do tipo no Brasil e o primeiro curso tecnólogo da instituição. A iniciativa é ofertada no âmbito do sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), por meio da Secretaria de Apoio às Tecnologias Educacionais (Sate/Uece).
O evento foi presidido pelo reitor da Uece, professor Hidelbrando Soares, e contou com a presença de autoridades acadêmicas, representantes de órgãos parceiros, lideranças de comunidades tradicionais, indígenas e costeiras, além de estudantes e professores.
Para o momento de acolhida, uma grande e animada ciranda foi conduzida por Roberto Carlos de Lima Ribeiro, o Paim, referência na defesa do turismo comunitário da Prainha do Canto Verde.
Durante a solenidade, o reitor da Uece, professor Hidelbrando Soares, ressaltou que a universidade tem a “cara e a alma do povo cearense”, reafirmando seu caráter popular e o compromisso com os povos tradicionais, originários e movimentos sociais. Ele destacou que garantir o direito de todo cearense a uma educação superior pública, gratuita e de qualidade é a essência da missão institucional. “Somos uma universidade do povo, e por isso assumimos o desafio de criar o nosso primeiro curso tecnólogo, que é também o primeiro em Turismo Comunitário do Brasil, voltado às comunidades costeiras”, afirmou.
O reitor também enfatizou a valorização dos saberes tradicionais e ancestrais: “Essas culturas originárias e populares têm ciência, e é nela que pode estar a chave para enfrentarmos os grandes desafios ambientais, climáticos e sociais”. Professor Hidelbrando defendeu que o novo curso representa uma oportunidade de gerar trabalho, renda e inclusão, preservando as culturas locais e compartilhando modos de vida sustentáveis com o Brasil e o mundo. “É um momento histórico e motivo de grande orgulho para a nossa universidade, um dos maiores patrimônios públicos do Ceará”, concluiu.
A diretora de Ações Socioambientais e Consolidação Territorial do ICMBio, Kátia Ribeiro, celebrou a importância do diálogo de saberes e da colaboração na gestão das áreas protegidas do Ceará e do Nordeste. Segundo ela, a presença no evento com líderes e alunos foi “uma alegria e uma honra muito grande”, destacando que o estado “respira educação” e possui uma trajetória diferenciada no país. Kátia ressaltou a relevância de integrar conhecimentos diversos, promovendo um verdadeiro “diálogo de saberes” que permita aprender coletivamente e fortalecer o sentimento de pertencimento em unidades de conservação e demais territórios.
O coordenador da Secretaria de Apoio às Tecnologias Educacionais da Uece, professor Rameres Régis, destacou a importância histórica do curso de Tecnólogo em Turismo Comunitário, afirmando que “esse momento é de grande significância porque nós estamos unindo o saber tradicional com a capacidade de abraçar e mediar que a universidade tem e vai colocar à disposição das comunidades”. Ele ressaltou que a iniciativa é pioneira no Brasil, voltada às comunidades costeiras, e que vai além da formação acadêmica, buscando fortalecer a resistência cultural e econômica das comunidades. “Estamos dando um grande salto no Ceará e no Brasil para potencializar nossas comunidades, para fazer o enfrentamento, mas também para fazer a sua subsistência”, afirmou, desejando sucesso ao curso tanto para a universidade quanto para as próprias comunidades.
Representando as comunidades beneficiadas, a liderança do povo indígena Tremembé da Barra do Mundaú, Adriana de Castro, afirmou que o momento foi histórico para os povos tradicionais e indígenas. Segundo ela, levar o tema do turismo comunitário para dentro das comunidades é fundamental para fortalecer a defesa dos territórios. “É muito importante que nós mesmos sejamos donos de divulgar as nossas belezas e de fazer o nosso próprio turismo de base”, destacou.
A representante lembrou que, por muito tempo, o turismo foi visto com receio pelas comunidades devido às invasões sofridas, mas agora passa a ser enxergado como oportunidade de protagonismo e preservação. Ela ressaltou que a iniciativa permitirá divulgar modos de vida de forma respeitosa, valorizando “a cultura, os costumes, as crenças e a tradição”, ao mesmo tempo em que garante às comunidades a autonomia de decidir o seu próprio jeito de ser e de fazer dentro dos territórios.
Também fizeram uso da palavra o coordenador geral da Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas e dos Povos e Comunidades Extrativistas Costeiros e Marinhos (CONFREM), José Alberto Ribeiro; a representante do Fórum Estadual de Coordenadores de Polo UAB (FECOUAB), Virgínia Tavares; o coordenador geral da UAB/Uece, professor Fábio Castelo Branco; o representante do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), professor João César Abreu; e a coordenadora do novo Curso, professora Andrea Cavalcante.
A programação contou ainda com palestra da professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Maria do Céu de Lima, sobre o tema “Que território queremos?! Turismo comunitário em povos e comunidades tradicionais”.
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Fotos: Guilherme Oliveira