Aposentadoria do ex-reitor Jackson Sampaio marca novo capítulo na construção de seu legado na Uece
10 de fevereiro de 2025 - 11:12
Pelos corredores da Uece, no campus Itaperi, com passos firmes, ele caminha com sua mochila nas costas. Seus característicos cabelos brancos, que guardam as experiências de uma vida, o distingue de todos. Na sala de aula, tem o respeito daqueles que conhecem sua história, que muitas vezes se confunde com a da própria Uece. Aposentado desde outubro de 2024, o ex-reitor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), professor José Jackson Coelho Sampaio, escreve um novo capítulo de sua jornada, dando continuidade a um grandioso legado que continuará a beneficiar e a inspirar gerações.
Até sua aposentadoria, foram 31 anos na Uece, fazendo a diferença não apenas enquanto docente intelectual, mas, principalmente, enquanto gestor visionário que ajudou a construir a Uece que existe hoje. Professor Jackson, por oito anos foi reitor; por onze anos, foi pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa; por cinco anos, foi diretor do Centro de Ciências da Saúde (CCS); por três anos, foi coordenador do Mestrado em Saúde Pública, do qual ele esteve à frente em sua criação e que mais tarde se tornou Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva (PPSAC), que também contou com sua coordenação por dois anos.
Em cada um desses 11.315 dias contados até a sua aposentadoria, professor Jackson serviu a uma população, cumprindo o seu objetivo de contribuir para o combate às desigualdades e de devolver algo para a sociedade, como ele conta. “Eu fiz curso de medicina em universidade pública, fiz meu mestrado em universidade pública, fiz meu doutorado em universidade pública. Então, eu senti essa necessidade de, genuinamente, devolver alguma coisa para a sociedade. Eu queria ser professor universitário de uma universidade pública e poder fazer carreira, com o objetivo de servir a uma população que trabalha, que paga impostos e que ajudou a me formar”.
Como tudo começou na Uece
Foi entre 1983 e 1984, a primeira vez que o médico sobralense José Jackson Coelho Sampaio esteve na Uece como professor. À época, cursava mestrado em Saúde Coletiva, no Rio de Janeiro, onde residia com sua mulher, Célia Sampaio, após concluir o curso de Medicina, em Fortaleza, no mesmo ano em que a Uece era criada. O jovem médico estava de férias na capital cearense quando recebeu, do também médico e professor da instituição, Marcelo Gurgel, o convite para ministrar aula no curso de Especialização em Saúde Pública, no campus Itaperi. Já com o desejo de se tornar docente e pesquisador de uma universidade pública, prontamente aceitou o convite. “Meu contato começa por meio do lato sensu, dando uma disciplina de Epidemiologia”, conta o professor Jackson Sampaio.
Seu vínculo com a Uece começou em julho de 1993, aos 42 anos de idade, como professor visitante, já com o doutorado concluído no ano anterior, em Ribeirão Preto-SP. “Interessante como fui convidado. O reitor, professor Petrola, à época, tinha o projeto de transformar a Uece em uma universidade completa, que incluísse uma boa pós-graduação, que incluísse grupos de pesquisa, e ele começou a investir nisso. Começou a buscar ‘cérebros’. Marcelo Gurgel, que era meu amigo e já tinha me convidado para dar aula em especialização, me passou o convite do professor Petrola e da diretora de Centro, Mara Maracaba, para ser professor visitante e para ajudar a criar o Mestrado em Saúde Pública”, contextualiza Sampaio.
O convite não foi por acaso. Embora tivesse acabado de concluir o doutorado, Jackson Sampaio já acumulava conhecimento, pesquisas, escritas e grandes experiências, da sala de aula e de fora dela, tendo contribuído, inclusive, na luta para grandes avanços na saúde pública do país, em um cenário político marcado pela transição da ditadura militar para a redemocratização.
“Fazendo mestrado no Rio de Janeiro, eu estava junto com a equipe do comando da luta pela redemocratização, pela reforma sanitária e pela reforma psiquiátrica. Eu estava lá no centro dessas efervescências, no Rio, mas também em São Paulo. Com a redemocratização, acontece a retomada das grandes conferências nacionais, sobretudo, na área da saúde. E eu estava ali, disposto a pensar uma mudança na estruturação do sistema de saúde brasileiro. Então, eu vivi a 8ª Conferência Nacional de Saúde. Eu era presidente da Sociedade Brasileira de Neurologia, Psiquiatria, Higiene Mental e, como presidente de uma sociedade nacional, eu fui um dos mil delegados da 8ª Conferência”, lembra o ex-reitor.
A 8ª Conferência Nacional de Saúde, ocorrida em 1986, é considerada um marco na história da saúde pública brasileira. Seu relatório final foi base para o capítulo sobre Saúde na Constituição Federal de 1988, resultando na criação do Sistema Único de Saúde (SUS). “O SUS vira realidade em 92. É interessante também perceber que esse momento histórico da minha chegada na Uece era o da implantação final do SUS”, acrescenta o docente.
Assim, seu histórico e seu currículo renderam o convite da Uece e, como docente visitante, professor Jackson ministrou aulas de Epidemiologia para os cursos de graduação em Enfermagem e Nutrição. Também ministrava algumas aulas em Especialização e iniciava, nesse contexto brasileiro, com os professores Marcelo Gurgel e Silvia Nóbrega-Therrien, o projeto para criação do Mestrado em Saúde Pública, que seria, então, o primeiro do Ceará. Ainda, nas horas vagas, lia livros pelas poucas calçadas que já existiam no campus, até o anoitecer, quando seus cabelos já brancos passavam a ser uma espécie de “farol” para os que o avistavam de longe.
Em 1995, professor Jackson passou a ser professor adjunto, por meio do primeiro grande concurso docente da Uece, possibilitando a continuidade de uma história que estava apenas começando.
O início da construção de um grande legado
Um dos objetivos iniciais do ex-reitor Petrola com o convite ao professor Jackson Sampaio, em 1993, foi o de desenvolver projeto e instalar o curso de Mestrado em Saúde Pública na Uece, o que virou uma missão para o médico sanitarista. Ao ingressar na instituição, existiam apenas três mestrados, nas áreas de Medicina Veterinária, Administração e Letras, nenhum ainda reconhecido pela Capes. Saúde Pública foi o quarto mestrado criado na Uece e o primeiro a ser reconhecido pela Capes. “O curso começou a funcionar em fevereiro de 94 e, em novembro de 94, estava recomendado”, conta com orgulho o professor Jackson. O curso, que se fazia necessário para a formação de profissionais, diante da recente implantação do SUS, contou com sua coordenação entre os anos de 1994 e 1996.
Também pensando no mestrado, em 1995, foi institucionalizado o Grupo de Pesquisa Vida e Trabalho (GPVT), criado por Jackson Sampaio, em 1993, ainda enquanto docente visitante. Foi o quinto grupo de pesquisa da Uece a ser credenciado pelo CNPq. Neste ano de 2025, o Grupo completa 30 anos, sob a coordenação de seu fundador.
Com seu gosto em articular, liderar, organizar e estimular, o docente ajudou a Uece a alcançar esse objetivo. “Naquele momento, eu ajudei a catalisar um conjunto de movimentos que já estava aqui. Eu poderia ter chegado e não ter acontecido nada se não houvesse uma força interna da instituição na busca disso também. Então, eu me associei muito à ideia, ao visionarismo do Petrola e, depois, ao visionarismo pragmático do Manassés”, relembra Jackson.
Professor Manassés foi o sucessor de professor Petrola na Reitoria e, ao saber dos feitos de Jackson Sampaio, o convidou para a Pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa, em 1996, ano em que o docente concluía o primeiro período como coordenador do Mestrado. Embora inicialmente tenha se assustado com o convite, aceitou, como conta sorrindo. “Ele me propõe ser pró-reitor e aí eu respondo: ‘mas, professor, eu não tenho experiência em gestão pública’. Mas o que você já fez de gestão?, ele perguntou. ‘Já cuidei da livraria da minha família e, em gestão pública, a única coisa que eu fiz foi ser diretor de um hospital psiquiátrico no Rio de Janeiro’. Ele respondeu: então pronto! Não vai ver grande diferença”, contou rindo o médico, que é também especialista em Psiquiatria Clínica. E brincou com a conclusão: “Eu achei o hospital psiquiátrico mais fácil de administrar”, acrescentou o docente com uma boa risada.
Havendo, então, aceitado o desafio de ser pró-reitor com apenas três anos na Universidade, sua primeira missão foi avaliar os mestrados existentes e saber o porquê de ainda não terem sido credenciados. Isso causou seu envolvimento direto nessa tarefa. “Eu tinha que descobrir por que não foram recomendados, tinha que ir lá ajudar a refazer o projeto, quando necessário, ver se o nome do programa era o mais adequado e outros pontos. A princípio até houve resistência, mas não mais quando eles foram finalmente recomendados”, compartilha o recém-aposentado.
Com a tão esperada recomendação dos cursos pela Capes, após intenso processo de trabalho para diagnóstico e soluções junto aos professores envolvidos, Jackson Sampaio alcança o primeiro grande objetivo como pró-reitor.
Logo, o então gestor observou a necessidade de melhorar a posição da Uece no ranking existente à época, do MEC, considerando os benefícios, a médio e longo prazos, que isso traria para toda a Universidade. Pois bem, ele conseguiu!
Esses foram apenas seus dois objetivos inicialmente traçados como pró-reitor. Ao longo de sua trajetória na Pró-reitoria, muitos desafios foram vencidos, e grandes contribuições foram deixadas. Um relevante exemplo foi a criação, ainda no primeiro ano de gestão, em 1996, da Semana Universitária da Uece, que hoje é o maior evento científico e cultural da instituição e que terá, neste ano de 2025, a sua 30ª edição. Pois é, foi ele quem deu o pontapé inicial nesse grande legado, que movimenta e dá visibilidade à instituição, que recebe milhares de visitantes anualmente e que incentiva o desenvolvimento da ciência e a valorização da cultura.
O então pró-reitor conta que, na época, havia um encontro anual de pesquisadores e um encontro anual de iniciação científica. Com seu visionarismo, perguntou-se: “por que a gente não junta esses dois encontros, cria o encontro também de extensão e um encontro de monitoria, da graduação?”. E, dessa junção, somada a mais alguns poucos eventos, surgiu a I Semana Universitária da Uece.
Em memorial de escrita própria, ele relata que a produção textual no cargo foi intensa: “projetos, relatórios e normas precisaram ser elaborados em volume colossal”. Resume, acrescentando que o percurso passou pela reorganização de cinco e a criação de sete mestrados acadêmicos; de quatro mestrados em convênio, para capacitação docente; de nove mestrados profissionais e do primeiro doutorado da Uece, em Ciências Veterinárias, a área precursora também dos mestrados acadêmicos. Foi realizada, também, enquanto pró-reitor, a recuperação da Editora da Uece (EdUece), por meio de parcerias com a Secretaria Estadual da Cultura, no campo das artes, e com a Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, no campo da saúde pública, e pela criação de revistas institucionais.
Diante dessas e de muitas outras significativas contribuições em sua primeira fase como pró-reitor por oito anos, professor Jackson faz uma avaliação. “Eu fico muito satisfeito por tudo isso, porque eu tive a vontade e a capacidade de fazer e eu tive a receptividade da instituição. Eu nunca me senti um estrangeiro aqui”.
Em 2004, é iniciada uma nova fase, desta vez, como diretor do Centro de Ciências da Saúde (CCS). Após ter contribuído com a pós-graduação, Sampaio vê a oportunidade de olhar, dessa vez, mais profundamente para a graduação e suas carências. Embora seu nome tenha sido sugerido para candidato à Reitoria, ele preferiu, naquele momento, investir seus esforços no Centro, tendo, então, Jáder Onofre como reitor.
Durante sua gestão no CCS, grandes passos também foram dados para o desenvolvimento da instituição, na área da saúde. Seguindo a ideia do professor Manassés com a criação do Instituto Superior de Ciências Biomédicas (ISCB), foi idealizado um instituto superior de saúde que, mais tarde, se chamaria Núcleo de Pesquisa e Inovação em Saúde Coletiva (Nupeinsc).
Em sua gestão, foram implantados os cursos de graduação em Ciências Biológicas, Educação Física e Medicina. “A criação do curso de Medicina foi iniciada em 2003. Em 2004, eu entro como diretor do CCS, e toda a minha gestão foi implantando, semestre a semestre, o curso de Medicina, que é um curso de seis anos. Então, toda a experiência de implantação original da Medicina da Uece foi comigo na direção do Centro”, acrescentou o professor Jackson.
Em 2005, quando a Uece completava 30 anos, o então diretor do CCS trouxe para a instituição um evento que causou forte impacto. Era a 57ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que contou com a sua coordenação local. Jackson Sampaio frisa que “a SBPC foi um negócio muito, muito interessante, que acabou gerando um novo campus Itaperi”. Com a preparação para receber o grande evento, foi acelerado o processo de inauguração do prédio para o Centro de Estudo Sociais Aplicados (Cesa), foi inaugurado o prédio da Reitoria e três blocos de sala de aula, assim como novas ruas e avenidas dentro do campus. Embora percalços financeiros, logísticos e políticos tenham surgido, o coordenador local do evento se dedicou a articular para superar. Por essa e outras razões, todo o sucesso daquela edição da SBPC foi atribuído ao idealista professor.
Esses foram alguns dos maiores feitos do recém-aposentado enquanto diretor de Centro, em seu primeiro mandato. Em 2008, foi candidato à Reitoria pela primeira vez, tendo ficado em segundo lugar nas eleições, entre cinco chapas candidatas. Foi, então, reeleito para a Direção do CCS, mas, após, aproximadamente, um ano, recebeu convite do reitor eleito, professor Araripe, para voltar à Pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa. Apesar da resistência em deixar o cargo para o qual foi eleito e diante da persistência do reitor, professor Jackson aceitou.
O cenário era crítico. A Uece tinha 1/3 de seus cursos de pós-graduação stricto sensu ameaçados de perder a recomendação da Capes, e não havia nenhum projeto novo de curso em andamento, a capacidade de captar financiamento para investir em infraestrutura de pesquisa era limitada, e decisões equivocadas anteriores geraram um passivo de descrédito em relação à revalidação nacional de títulos de pós-graduação obtidos no exterior.
Durante os três anos de sua nova gestão, o quadro foi revertido. Entre outros pontos, houve captação de recursos federais, por meio de bolsas e editais do CNPq, da Capes e da Finep, a Uece conseguiu passar de R$ 12,9 milhões de 2009, para R$ 25,7 milhões em 2010 e para os R$ 26,3 milhões em 2011.
Algo que muito orgulha o ex-gestor, foi sua iniciativa de, enquanto pró-reitor, investir nas unidades do interior, com o planejamento para formação docente em mestrado e/ou doutorado. Para isso, ele visitou os campi. “Fiz reuniões em cada campus para saber o que fazer, para a iniciação científica começar. Eu fui em cada campus do interior ajudar no planejamento da saída dos professores para fazer mestrado e doutorado. Eu precisava estimular a formação do professor”, ressaltou professor Jackson. O gestor estabeleceu uma série de parcerias, nacionais e internacionais, que contribuíram para a concretização do objetivo.
Dos últimos três anos como pró-reitor, de 2008 a 2011, ele avalia. “O resultado, em 2011, traduz um grande case administrativo de sucesso. Nenhum curso foi descredenciado, melhoramos o perfil de notas, incluindo o alcance do primeiro programa nota 6 (mestrado e doutorado em Ciências Veterinárias), incorporamos a Unifor na associação ampla da Saúde Coletiva e acrescentamos 10 cursos novos, realizando um crescimento de 52%. Tínhamos 29 cursos em funcionamento. Evoluímos de dois para seis programas completos, além de um dos sete mestrados profissionais e seis dos 15 mestrados acadêmicos aumentaram suas notas junto à Capes. Dos oito mestrados acadêmicos, quatro deles apresentavam a vulnerabilidade de mais de três avaliações, mas obtivemos PROCAD/Casadinho para todos eles e DINTER para apoiar um deles”.
Na PROPGPq, professor Jackson totalizou 11 anos no cargo, ampliando o seu legado, que é referência em gestão e inovação até os dias de hoje.
O reitorado de Jackson Sampaio
Tudo começou em 2004, quando o nome de Jackson Sampaio foi sugerido para a Reitoria. No entanto, o docente, que estava com 11 anos na Uece, tinha outros planos, assumindo a gestão do CCS. A ideia ficou em sua mente e, em 2008, se sentindo mais preparado, efetuou sua primeira candidatura, ao lado do parceiro na chapa, professor Fábio Perdigão. Embora tenha realizado grandes feitos na instituição e contando com o apoio de muitos para a eleição, alguns ainda duvidavam de sua capacidade administrativa.
“Quando eu decido me candidatar a reitor pela primeira vez, foi na eleição de 2008. Eu já tinha 15 anos de universidade. Eu já tinha sido coordenador de curso de mestrado, pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa e diretor de centro. Então, eu decidi me candidatar. E havia uma imagem que se fazia de que eu era muito intelectual e que eu não daria certo na gestão. Mas eu sou um intelectual orgânico, eu sou um intelectual da prática também”, disse Jackson Sampaio, que finalizou em tom de brincadeira: “eu digo que sou um intelectual do século XIX, vivendo o século XXI, com o corpo do século XX”.
O resultado foi considerado positivo. Mesmo que não tenha vencido as eleições, a experiência valeu a pena. Como já mencionado anteriormente, entre cinco chapas, o docente alcançou o segundo lugar. “Foi um desafio interessante, com um resultado muito bom. Eu entrei na lista tríplice em segundo lugar. Eu saio grande e mais conhecido dessa eleição”, concluiu o professor.
A visibilidade que obteve na primeira campanha, na capital e no interior, foi fundamental para a nova candidatura em 2012. Dessa vez, Jackson Sampaio tinha em vista um novo vice, o então diretor da Fafidam, professor Hidelbrando Soares, que havia sido candidato a vice-reitor em 2008, em chapa rival, e para o qual ele argumentou: “há uma razão estratégica, há uma razão política e uma razão acadêmica para nos unir”.
A campanha foi um sucesso. Jackson e Hidelbrando se tornaram, respectivamente, reitor e vice-reitor da Universidade Estadual do Ceará, havendo ganhado as eleições e tendo sido escolhidos pelo governador. “Fomos eleitos e tivemos uma relação extraordinariamente boa. Nós tivemos um relacionamento excelente”, acrescentou o ex-reitor.
Juntos, fizeram a universidade crescer ainda mais, com conquistas como a finalização da implantação do campus de Tauá, a conclusão do complexo poliesportivo, a internacionalização da Uece, o desenvolvimento da base de informatização da universidade, com 47 sistemas – como o Aluno On-line e o Professor On-line – e a implantação de cotas, como lembra o ex-reitor. “Uma das coisas pela qual me sinto orgulhoso também é de ter antecipado a lei estadual e implantado, na Uece, a Lei de cotas. Já havia uma lei federal. Então, nós pegamos o modelo da Uerj e da UnB e implantamos aqui, de forma antecipada, a Lei de cotas. A Uece antecipa, no seu processo seletivo, a política de cotas, em cima da ideia de inclusão social”.
Esses foram apenas alguns dos muitos avanços durante a primeira gestão. O compromisso e a dedicação à instituição foram reconhecidos pela comunidade, resultando na reeleição em 2016, o que tornou possível a continuidade de um grande legado. A seguir, algumas das principais ações realizadas ao longo dos oito anos de gestão do reitor Jackson Sampaio.
– Designação de Servidores Técnico-administrativos-STA da Funece para exercer a titularidade de Pró-reitorias;
– Aprovação do MAPP Gestão, iniciando política de descentralização do custeio, aplicado a sete equipamentos: Restaurante Universitário (Itaperi), Complexo Poliesportivo (Itaperi), Hospital Veterinário – ala pequenos animais (Itaperi), Fazenda de Experimentação Agropecuária (Guaiúba), Restaurante Universitário (Limoeiro do Norte), Refeitório Estudantil (Iguatu) e Campus Novo (Tauá);
– Elaboração, encaminhamento, realização e posse do 1º concurso de STA para a Funece, em seus 44 anos de existência, com 135 vagas;
– Desenvolvimento de política de investimento para efetivamente priorizar a qualificação da infraestrutura dos campi das unidades do interior, reduzindo as desigualdades capital/interior e favorecendo a assistência estudantil; incluindo conclusão e inauguração do campus de Tauá (Cecitec) e do campus multi-institucional de Iguatu Urca/Uece (Fecli), autorização para a construção do campus novo de Crateús (Faec), conclusão da obra do Restaurante Universitário do campus de Limoeiro do Norte (Fafidam), conclusão do campus de Experimentação Agropecuária de Guaiúba, vinculado ao CCS/Itaperi e instalação do campus avançado de Mombaça;
– Qualificação da infraestrutura dos campi da capital, incluindo reforma e requalificação do campus Fátima, conclusão e inauguração do Hospital Veterinário-HVet, Nupeinsc/CCS e Biotério/ISCB;
– Preparação e execução de 15 seleções públicas para professores substitutos e temporários, seis seleções públicas para professor visitante e dois concursos públicos para professor efetivo;
– Preparação de terceiro concurso público para professor efetivo;
– Preparação e encaminhamento de proposta de 2º concurso público para STA;
– Implantação da Comissão de Política de Segurança da Uece, com participação de grupos de pesquisa sobre violência urbana, professores, estudantes, forças de segurança e a gestão acadêmica, incluindo nela o Grupo Gestor de Segurança do campus Itaperi;
– Conclusão do Restaurante Universitário do Itaperi, com climatização e projeto de instalação de catraca eletrônica;
– Fortalecimento e institucionalização da modalidade EaD na Uece, pela ampliação de vagas, níveis de formação, cursos e polos;
– Aprovação do projeto de inclusão do nome social de travestis e transexuais nos registros acadêmicos e funcionais de estudantes e servidores;
– Implantação do Programa de Acompanhamento Discente – PRADIS;
– Implantação de Programas de Interiorização da Pós-graduação Stricto Sensu;
– Descentralização da Semana Universitária (primeiro aceite pela Feclesc);
– Criação de Projeto de Bolsas Sociais, financiado pelo Fundo Estadual de Combate à Pobreza (Fecop);
– Obtenção do direito de oferta de cursos técnicos de ensino médio e de cursos de extensão, na modalidade formação inicial e continuada, do Pronatec;
– Criação do Espaço Cultural Patativa do Assaré e do Espaço de Extensão Paulo Freire;
– Institucionalização de 97 laboratórios de pesquisa, de ensino, de extensão e mistos, existentes anteriormente na Uece, e implantação de Resolução que estabelece parâmetros atualizados para a criação de novos laboratórios;
– Institucionalização da Comissão Permanente de Acessibilidade e Mobilidade das Pessoas com Deficiência na Uece;
– Ampliação de oportunidades de formação internacional para estudantes de graduação, por adesão a programas nacionais: Ciência sem Fronteiras (CsF) e Licenciaturas Internacionais (PLI);
– Adesão ao programa Idiomas sem Fronteiras como centro aplicador do TOEFL-ITP;
– Aumento de mais de 100% no número de convênios internacionais ativos;
– Realização de oferta semestral de disciplina de Introdução a Libras, pela modalidade EaD;
– Aquisição de 200 livros de literatura em Braille e equipamentos;
– Reestruturado o Espaço Ekobé.
Clique aqui para ver o balanço das principais ações da gestão 2012-2016 e 2016-2020.
O reitorado e a pandemia de Covid-19
A pandemia de Covid-19 causou grande impacto no Brasil e no mundo. Na Uece, não foi diferente. Professor Jackson, que estava no final de sua gestão como reitor em 2020, foi acometido de forma grave pela doença, sendo impedido de se despedir, como esperado, do importante ciclo do reitorado. Felizmente, após longo período de internação e de recuperação, ele retomou suas atividades, já não mais como reitor, mas como professor – função essencial que sempre exerceu, independentemente dos cargos administrativos que ocupou. Como grande pesquisador, professor Jackson compartilhou sua experiência durante a pandemia em artigo intitulado “Crise, explicações alucinatórias e perspectivas de vivência como doente grave de Covid-19: um relato pessoal”, publicado no periódico Interface, disponível para acesso aqui.
O presente e o futuro
“A aposentadoria não rompe minha história com a Uece”, afirmou o ex-reitor Jackson Sampaio, que segue atuante na comunidade acadêmica, contribuindo com aulas, pesquisas e orientações pela pós-graduação stricto sensu, bem como com a liderança de seu grupo de pesquisa. Mesmo após deixar a gestão, mantém seu compromisso com a formação de profissionais e com a produção científica, e sempre acompanhando de perto os avanços e desafios da instituição.
O recém-aposentado segue com seu vínculo com o CNPq, atuando no Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva (PPSAC/Uece) e à frente do GPVT. “Estou deixando de dar aula na graduação… Continuo a orientar mestrando, doutorando, bolsista de iniciação científica e continuo líder do grupo de pesquisa, que é uma questão ligada diretamente ao meu currículo, com o CNPq, e homologada pela universidade”, explica o docente.
A diferença sentida pelo professor nessa atuação foi a limitação que passou a existir no acesso ao sistema Suite. No entanto, na sua inquietude, logo tratou de ir atrás de resolver o problema, não apenas para ele, mas para os demais professores que também podem passar por isso após a aposentadoria. Assim, fez as articulações necessárias e está agora com processo em tramitação na Seplag. Sempre pensando no bem geral da comunidade da Uece, ele comenta satisfeito: “mais uma vez, eu estou abrindo caminho para outros”.
Estimulado a falar sobre o assunto, ele continuou: “Eu gosto disso, eu gosto de me pôr a serviço. Eu não acho que toda ação minha deva ser para mim próprio. Eu gosto da ideia de que eu estou a serviço e sim, sou inquieto; gosto de estar a serviço da pólis, essa função política”.
Para o futuro, professor Jackson, além de continuar nas atividades acadêmicas atuais, pretende ter seu próprio espaço on-line, a Biblioteca Virtual Jackson Sampaio, onde reunirá suas produções. “São quase 200 crônicas, mais de 500 poemas, quase 60 contos, 150 orientações de dissertações e teses, monografias e mais”, disse ele. Outro desejo desse inquieto intelectual e gestor é o de “conseguir ter um certo distanciamento crítico para escrever um livro sobre a experiência do Reitorado”, revela.
O legado em suas palavras
Se é possível fazer uma avaliação e resumir toda a contribuição de Jackson Sampaio, até aqui, essa missão é dele:
“Simultaneamente, com as atividades literárias, políticas e profissionais, não abdiquei, na graduação e na pós-graduação, de ensinar, de orientar, de pesquisar e de publicar. Com a Uece identifiquei minha vida, como escolha de maturidade. Espero ter ajudado e continuar ajudando a desenvolver na Uece a consciência do que seja verdadeiramente uma universidade pública, democrática, qualificada, socialmente referenciada, com prestígio regional, nacional e internacional, ativa e antecipadora, uma universidade que se enlace com o nosso destino”, avalia.
Quanto ao legado, professor Jackson conclui:
“Há um legado na Pró-reitoria, há um legado na direção do Centro, há um legado na implantação e na coordenação do Mestrado de Saúde Pública, que depois cresce e se transforma no Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva. Então, há vários legados em várias dimensões e há um legado nos oito anos como reitor. Se eu for fazer uma síntese desse legado, eu digo: ‘eu ajudei a construir a universidade como ela é hoje. Eu ajudei a tornar possível um crescimento da noção de universidade propriamente dita’”.
Com a certeza de continuar contando com a inquietude e o compromisso do professor, gestor, pesquisador e intelectual José Jackson Coelho Sampaio, a Universidade Estadual do Ceará expressa aqui sua homenagem e profunda gratidão pelos 31 anos de dedicação a esta instituição.