Teatro, família e memória: os novos caminhos do professor aposentado Rômulo Soares
12 de setembro de 2025 - 14:50
“Meu presente e meu futuro estão no Teatro, um amor da infância”, afirma o professor José Rômulo Soares, que se aposentou da Universidade Estadual do Ceará (Uece) em outubro de 2024, após 31 anos de dedicação ao ensino, à pesquisa e à extensão. Hoje, entre os palcos e o convívio com os netos, ele vive uma fase que define como “o paraíso, como avô”.
O teatro, paixão antiga, ganhou força nos últimos anos de sua trajetória acadêmica e segue sendo o centro de seus planos. “Fico feliz em saber que grande parte das pessoas que viram Cartas Sangradas jamais haviam ido ao teatro e que eu levei o teatro até elas. Isto vale muito para mim!”, conta o docente, referindo-se à peça de sua autoria que aborda o feminicídio, sendo escrita a partir de experiência na própria família, e apresentada em cidades como Crateús, Nova Russas e Tamboril. Além dela, Rômulo escreveu outras produções inspiradas em vivências pessoais e em pesquisas realizadas durante o pós-doutorado. Com tudo isso, professor Rômulo mostra que a aposentadoria é apenas o início de um novo ciclo.
Se os novos capítulos são de arte, afeto e cuidado com a família, o enredo anterior é marcado pela luta pela educação pública, não apenas enquanto docente, mas também enquanto estudante, já que foi graduado e especializado pela Uece. “Somados os tempos de estudante e os trinta e um anos de professor, passei quarenta anos convivendo na Uece. Avalio de forma positiva esse tempo vivido porque o vivi intensamente. Ofereci o melhor de mim e recebi diversas recompensas por isso. Sou realizado e feliz, até porque atualmente vejo uma Universidade bem melhor do que aquela dos meus tempos de estudante e de meus primeiros anos de trabalho. Ter a consciência de que participei ativamente dessa construção me faz bem”, afirma.
A história de Rômulo como professor da Uece começou em 1993, aos 28 anos de idade, quando assumiu vaga em Crateús, no então recém-criado curso de Pedagogia. Ele relembra os primeiros desafios enfrentados na Faculdade de Educação de Crateús (Faec). “Tudo começou com muitas lutas para que a Faec pudesse superar diversos de seus problemas e atingir de modo mais amplo seus objetivos como instituição educacional”.
A atuação firme o levou a ocupar cargos como chefe de departamento, coordenador de curso e diretor da Faec, além de membro de Conselhos Superiores da instituição, sempre priorizando a gestão democrática e a defesa da universidade pública. “Parafraseando Gilberto Gil, na música Aquele Abraço, diria que a Faec me deu régua e compasso”, resume.
Ele relembra um momento que leva no coração. “O episódio mais importante para mim foi quando, numa noite do ano de 2002, na condição de diretor, li o edital do vestibular da Uece para a comunidade acadêmica da Faec, no qual havia vagas pra os dois novos cursos daquela faculdade que havia passado quase 20 anos com um único curso”, compartilha com orgulho.
No decorrer da carreira, o professor também deixou sua marca no Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário (IMO), no campus Itaperi, e, por último, no Centro de Educação (CED), onde permaneceu por 17 anos e desenvolveu pesquisas e projetos que uniam arte, pedagogia e formação humana. “Agradeço a todas as pessoas que compõem o CED pela boa convivência; e pelos aprendizados ao longo do período em que estive lotado no Centro”, ressalta.
Sobre o que a universidade representa, professor Rômulo não tem dúvidas: “A Uece representa para mim um espaço de grande crescimento profissional e pessoal. É uma instituição que recebe pessoas de origem humilde e as engrandece com conhecimentos de enorme relevância para suas vidas. Este é o meu caso e o de milhares de estudantes que já passaram pela Uece”.
E se a aposentadoria marca o fim de um ciclo, também abre caminho para novos sonhos. Entre ensaios e apresentações, entre a escrita de peças e o cuidado com os netos Flora, Vivian e Gustavo, o aposentado, com toda a sua experiência na Uece, deixa sua mensagem aos que ficam: “Precisamos lutar sempre para que a Universidade pública e gratuita continue em pé e amplie sua autonomia e seus espaços de participação da comunidade”, conclui.
Com essa homenagem, a Universidade Estadual do Ceará expressa seu reconhecimento e gratidão por toda a luta, dedicação e amor do professor José Rômulo Soares por esta instituição!