Uece acolhe migrantes, refugiados e apátridas com adesão à Cátedra Sérgio Vieira de Mello

24 de abril de 2025 - 12:19

 

A Universidade Estadual do Ceará (Uece) oficializou, nesta quarta-feira (23), a adesão à Cátedra Sérgio Vieira de Mello (CSVM), em evento realizado no Auditório Central, no campus Itaperi.

A Cátedra é uma iniciativa do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) em parceria com instituições brasileiras de ensino superior, com o objetivo de promover o acolhimento e a integração de pessoas migrantes, refugiadas e apátridas.

Aprovada em outubro de 2024, a Cátedra da Uece é a primeira do Ceará voltada especificamente para esse público, e representa também a primeira cátedra institucional implantada pela universidade.

A adesão à CSVM amplia o compromisso da Uece com essa população, somando-se a ações já desenvolvidas desde 2022, por meio do programa de extensão “Vidas Cruzadas: migração, saberes e práticas”, realizado em parceria com a Pastoral do Migrante. O projeto é coordenado pela professora Denise Bomtempo, que também estará à frente da Cátedra na instituição.

A abertura da cerimônia de lançamento da Cátedra foi de grande simbologia, com apresentação do Vozes D’Áfrida, projeto que busca integrar a produção de várias formas de arte na música com a unidade cultural nacional e a diversidade cultural. O grupo, que envolve todos os países que fazem parte da Unilab, encantou a plateia, que cantou junto, músicas como Samba da emigração e Na dau um beijo.

O evento foi presidido pelo reitor da Uece, professor Hidelbrando Soares, que teve ao lado, na mesa principal, a secretária de Estado dos Direitos Humanos, Socorro França; o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), deputado estadual Renato Roseno; o vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania/Alece, deputado estadual Manoel Missias Bezerra; a representante da Acnur, Isadora Arruda; o coordenador do ensino superior da Secitece, professor BC Neto; a pró-reitora de Extensão da Uece, professora Lana Nascimento; o coordenador do Escritório de Cooperação Internacional da Uece, professor Edmar Pereira; a coordenadora da Cátedra na instituição, professora Denise Bomtempo; o vice-presidente do Conselho Fiscal e Disciplinar, Euclides Morna Iala; e a representante da Venezuela, Eimily Teran.

Em seu discurso, o gestor da Uece, professor Hidelbrando Soares, destacou que a “inclusão está no DNA da universidade” e que a adesão à Cátedra Sérgio Vieira de Mello reforça esse compromisso. “O que nós estamos fazendo hoje aqui não é distante do que já está no nosso DNA, que é a nossa vocação da inclusão, da solidariedade, a vocação pelo acolhimento”, afirmou. Para ele, a universidade tem o papel de abrir caminhos e oferecer oportunidades não apenas para os cearenses, mas também para aqueles que chegam em busca de refúgio, proteção e dignidade. “Companheiros e companheiras que precisam contar com o Ceará, com a universidade e com o Brasil”, disse. Ao celebrar os 50 anos da Uece, o reitor expressou orgulho pela conquista da Cátedra e convidou a comunidade a se engajar nas ações: “Quero dizer pra vocês da alegria que é inaugurar, neste ano tão simbólico, a Cátedra Sérgio Vieira de Mello na Uece”.

A secretária de Estado dos Direitos Humanos, Socorro França, iniciou sua fala pedindo uma salva de palmas aos migrantes presentes no evento, em um gesto simbólico de reconhecimento e acolhimento. Ela elogiou a atuação da professora Denise Bomtempo, destacando a “paixão” com que conduz as ações em defesa dos migrantes. “O mundo está em ebulição, o mundo está precisando dessa solidariedade e nós temos que, cada dia mais, nos abraçarmos nessa missão”, afirmou. Ao celebrar a implantação da Cátedra na Uece e a parceria com o Acnur, Socorro França destacou que “o que nos move realmente é o amor e a solidariedade”.

O deputado estadual Renato Roseno, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Ceará, destacou o papel essencial da solidariedade no acolhimento de migrantes, refugiados e apátridas. “O que nos faz humanos é a solidariedade, a fraternidade, o acolhimento”, afirmou. Para ele, as políticas voltadas a esses públicos não apenas prestam apoio, mas também promovem crescimento coletivo. “É necessário valorizar não só o ato de quem oferece solidariedade, mas também o que recebemos enquanto humanidade”, pontuou. Roseno enfatizou ainda o papel das universidades como espaços para o exercício dessa solidariedade transnacional, por entender que “a humanidade não tem fronteiras”. Ao final, colocou-se à disposição para colaborar com as ações da Cátedra na Uece.

Representando o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), Izadora Arruda parabenizou a Uece pela iniciativa e pelo engajamento coletivo em torno da Cátedra. “Fiquei realmente impressionada com a coordenação, com o envolvimento do corpo docente e discente, com o apoio da Reitoria e demais instituições do Estado do Ceará. Meus parabéns!”, declarou. Ela ressaltou o caráter pioneiro da ação no Nordeste, sendo o Ceará, por meio da Uece, o terceiro estado da região a aderir à Cátedra Sérgio Vieira de Mello. Em apresentação, Izadora explicou que a Cátedra é uma rede de universidades comprometidas com a causa das pessoas refugiadas e migrantes. “A Cátedra são vocês. Vocês fazem o sucesso dessa iniciativa, vocês fazem o acolhimento das pessoas que aqui chegam”, afirmou. A representante também compartilhou dados sobre a situação migratória no Brasil e apresentou o trabalho desenvolvido pelo Acnur no país.

A pró-reitora de Extensão da Uece, professora Lana Nascimento, destacou a presença de pessoas migrantes, refugiadas e apátridas no Estado. “Elas nos interpelam, nos ensinam, nos transformam”, afirmou. Para ela, as ações da universidade diante desse público não podem se limitar a uma disciplina, devendo ser interdisciplinares, interprofissionais, interinstitucionais e, sobretudo, dialógicas. “Queremos construir esse espaço de acolhimento, formação, pesquisa, ação e afeto com essas pessoas, e nunca sem elas”, reforçou. A gestora defendeu a universidade pública como um espaço de encontro, onde o conhecimento serve à dignidade humana, em meio ao crescimento de discursos de ódio, xenofobia e governos autoritários que levantam muros — físicos e simbólicos. “O trabalho que temos pela frente não é fácil, mas é um compromisso que vai além do institucional: é ético, político e profundamente humano”, concluiu.

A coordenadora geral da Cátedra na Uece, professora Denise Bomtempo, celebrou o momento como um marco histórico para a universidade. “Estou muito feliz hoje”, afirmou, destacando que, apesar dos desafios, a Uece é um espaço de potencialidades, diversidade e inclusão. Ela enfatizou a importância de acolher não apenas os estudantes da casa, com ações de ensino, pesquisa e extensão, mas também aqueles que chegam em situação de migração ou refúgio. “Esse é um dia que marca nossa inserção no mundo, reconhecendo sua complexidade, contradições e potências”, concluiu.

O vice-presidente do Conselho Fiscal e Disciplinar, Euclides Morna Iala, destacou a importância da política de cotas para migrantes nos editais de seleção da Uece e sugeriu a inserção de políticas de permanência por meio da Cátedra. “Gostaria de mostrar essa preocupação que a comunidade tem com relação a uma política voltada para a população migrante, não só para entrar na universidade, mas também para se manter”.

A representante dos migrantes e refugiados, Eimily Teran, agradeceu à Uece. “Só tenho a agradecer e parabenizar por ser essa instituição que dá oportunidade aos migrantes”, ressaltou a migrante venezuelana que está no Brasil há mais de cinco anos.

O momento mais simbólico da solenidade foi o descerramento da placa de lançamento da Cátedra Sérgio Vieira de Mello, encerrando a cerimônia com o gesto de acolhimento para pessoas que vivem no Ceará em situação de migração, refúgio e apatridia.

Assista à gravação da cerimônia, clicando aqui.

Saiba mais sobre a Cátedra Sérgio Vieira de Mello

A Cátedra foi instituída pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para refugiados (Acnur) em homenagem ao diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello, que dedicou sua vida às causas humanitárias e à promoção da paz. Em mais de três décadas de atuação nas Nações Unidas, Sérgio esteve à frente de importantes missões em países devastados por conflitos, sempre guiado pela escuta, pelo diálogo e pela defesa incansável da dignidade humana.

Criada em 2003, a Cátedra tem como missão promover, nas universidades, a educação, a pesquisa e a extensão voltadas às pessoas em situação de refúgio, migração forçada e apatridia. Visa promover a formação acadêmica e a capacitação de professores e estudantes dentro desta temática e desenvolver trabalho direto com as pessoas em situação de migração, refúgio e apatridia em projetos comunitários.

A CSVM foi reconhecida pela declaração e plano de ação do México para fortalecer a proteção internacional dos refugiados na América Latina, assinada em 2004 por 20 países da região e que recomenda a investigação interdisciplinar da promoção e da formação do direito internacional dos refugiados.

A cátedra teve seu pioneirismo no Brasil e hoje está presente em mais oito países (Costa Rica, República do Congo, México, Estados Unidos, Itália, Sérvia, Etiópia e Reino Unido). No território nacional, abriga uma rede composta por 50 instituições de nível superior, presentes em 20 estados brasileiros e no Distrito Federal. No Nordeste, a Cátedra já foi instalada na Universidade Federal de Sergipe, Universidade Federal da Bahia, Universidade Estadual da Paraíba e Federal da Paraíba e, agora, no Ceará, na Uece, fortalecendo essa ampla rede de solidariedade e ação acadêmica comprometida com a proteção e os direitos dessas populações.

Na Uece, a Cátedra nasce como expressão viva do que a universidade pública pode e deve ser: um espaço de acolhimento, de diálogo intercultural, de produção de saberes transformadores. Aqui, ela é fruto de um trabalho construído de forma coletiva, a muitas mãos e afetos, especialmente por meio do Programa de extensão universitária Vidas Cruzadas, que desde 2022 atua com uma rede de projetos integrados, com ações como:

• Português como língua de acolhimento
• Ciranda de palavras
• Feira do migrante
• Geografias cruzadas

Essas ações envolvem estudantes e docentes de diversos cursos de graduação e de pós-graduação, em parceria com núcleos de extensão, laboratórios e espaços de referência como o Espaço Ekobé, o Núcleo de Línguas, o Laboratório de Estudos Agrários, Urbanos e Populacionais, o projeto Proext-PG, bem como os programas e projetos de extensão Viva a Palavra, o Núcleo de Atendimento Humanizado a Mulheres em situação de Violência (NAH) e o Núcleo de Acessibilidade e Apoio à Inclusão (NAAI).