Programa Geração da Paz

22 de dezembro de 2014 - 17:28

O Programa Geração da Paz surgiu a partir da assinatura de uma carta de intenções entre UNESCO, Secretaria de Educação do Estado do Ceará e Universidade Estadual do Ceará por ocasião da Conferência Internacional sobre os Sete Saberes, promovida pela UNESCO e realizada pela UECE e UCB em setembro de 2010.

O Programa tem entre seus objetivos mobilizar a sociedade para o compromisso de promover ações educativas e sociais voltadas para a valorização da vida e geração da paz partindo do significado e sentido dos direitos humanos e como este entendimento se desdobra em ações que possibilitem a paz consigo mesmo, com o outro/sociedade e com a natureza.

O Comitê Geração da Paz é formado por representantes da Universidade Estadual do Ceará – UECE, Secretaria de Educação do Ceará – SEDUC, Instituto Nordeste Cidadania – INEC, Centro de Desenvolvimento Humano – CDH, Escola Vila/CE. Entre suas ações estão a formação dos diretores das escolas públicas do estado, projeto piloto em uma escola estadual de Fortaleza e a Agenda 22 – reuniões mensais com os parceiros visando a articulação das futuras ações.

Principais Ações

 

Programa Criação da Rede de Agentes da Cidadania em Horizonte/CE

 

Este Programa propõe a formação da Rede de Agentes da Cidadania, no município de Horitonte/CE, por meio de um curso extensão de 120 horas. Tem por público participante os agentes da saúde, integrantes dos Conselhos Escolares (gestores, professores, pais, alunos e funcionários) das escolas do município, lideres comunitários, estudantis, religiosos, sindicais. O objetivo é estabelecer uma rede de Agentes de Cidadania, propiciando a interlocução pautada nos Direitos Humanos como forma de criar uma cultura de paz no município. Para a formação, serão criados materiais didáticos tanto para ações presenciais como na modalidade a distância. O registro do processo formativo e sua análise originará uma proposta de metodologia para formação em Direitos Humanos e Geração da Paz, bem como de curso de especialização sobre a mesma temática.

 

Parceria SEDUC/UECE

 

 

  • Participação das atividades de planejamento dos processos formativos de professores e diretores das escolas da rede pública estadual.
  • Participação das reuniões do Comitê Geração da Paz   
  • Participação coordenada nas atividades de formação por uma Educação para a Paz para cerca de 180 pessoas integrantes dacomunidade educacional da Escola Anísio Teixeira, perfazendo um total de 24 horas no Campus Experimental de Educação Ambiental da UECE, localizado em Pacoti. 
  • Participação coordenada nas atividades deformação para aproximadamente 300 diretores de escolas da rede pública estadual do Ceará, perfazendo um total de 40 horas de trabalho no Campus Experimental de Educação Ambiental da UECE. 
  • Apresentação no III Encontro Nordestino de Cidadania da primeira fase das atividades de formação de professores e das comunidades escolares do Comitê Geração da Paz.

 

 

Educação para a Paz

 

Paulo Freire (1997) dizia que a paz somente pode ser construída com a edificação incessante da justiça social. Assim, percebemos que o conceito de paz vai além da associação que usualmente se faz ao relacioná-la simplesmente à ausência de conflito bélico. A paz refere-se também à ausência de violência de qualquer tipo.

 

O conceito de paz utilizado por Xesus Jares (2007) é da ‘paz positiva’. Em contraste com a ausência de luta declarada, uma relação pacífica deveria significar – em escala individual – amizade e compreensão suficientemente amplas para superar quaisquer diferenças que pudessem surgir. Em escala maior, as relações pacíficas deveriam implicar uma associação ativa, uma cooperação planejada, um esforço inteligente para prever ou resolver conflitos em potencial. Desta forma, podemos pensar a paz como a situação caracterizada por um nível reduzido de violência e um nível elevado de justiça.

 

Ao considerarmos a paz referindo-nos à ausência de violência, é preciso definirmos quando entendemos que há violência: quando os seres humanos estão afetados de tal forma que suas realizações afetivas, corporais e mentais estão abaixo de suas realizações potenciais (Jares, 2007).

 

Podemos associar a violência como algo evitável e que impede a auto-realização humana, ou seja, a satisfação das necessidades básicas, materiais e não materiais.

 

Se a violência é evitável, o conflito, segundo Jares (idem), é um processo natural e intrínseco à vida que, se enfocado de modo positivo, pode ser um fator de desenvolvimento pessoal, social e educativo. Por conflito entendemos um processo de incompatibilidade entre pessoas, grupos ou estruturas sociais, por meio do qual se afirmam ou percebem interesses, valores e/ou aspirações contrárias.

 

A postura a ser adotada ante um conflito não é ignorá-lo ou ocultá-lo, o que a longo prazo promove sua cristalização e dificulta sua resolução, mas cuidá-lo de forma positiva e não-violenta.

 

Da mesma forma é interessante diferenciar agressão ou qualquer comportamento violento do conflito. Violência e conflito são tidas como a mesma coisa, quando na verdade a violência é apenas um dos meios para resolver um conflito. A violência tende a suprimir o conflito apontando para a eliminação do adversário. A violência é um meio, o conflito, um estado (idem).

 

Com estes conceitos, começamos a pensar como deve ser uma educação para a paz. Ainda é Jares (2007), que há duas décadas vem pesquisando e atuando em projetos na Espanha relacionados à educação para a paz, quem nos indica caminhos para iniciarmos um processo de formação neste sentido. São eles: educação para a compreensão internacional, educação para os direitos humanos e cidadania democrática, educação multicultural, educação para o desarmamento, educação para o desenvolvimento, educação para o conflito e a convivência.

 

A UNESCO, durante a década da cultura de paz, apontava as diretrizes para um trabalho pedagógico: respeitar a vida, rejeitar a violência, ser generoso, ouvir para compreender, preservar o planeta e redescobrir a solidariedade. Assim, nesta concepção, gerar a paz significa (UNESCO, 2010):

 

  1. Respeitar a vida e a dignidade de cada pessoa, sem discriminar nem prejudicar;
  2. praticar a não-violência ativa, repelindo a violência em todas suas formas: física, sexual, psicológica, econômica e social, em particular ante os mais fracos e vulneráveis, como as crianças e os adolescentes;
  3. compartilhar o meu tempo e meus recursos materiais, cultivando a generosidade, a fim de terminar com a exclusão, a injustiça e a opressão política e econômica;
  4. defender a liberdade de expressão e a diversidade cultural, privilegiando sempre a escuta e o diálogo, sem ceder ao fanatismo, nem à maledicência e ao rechaço ao próximo;
  5. promover um consumo responsável e um modelo de desenvolvimento que tenha em conta a importância de todas as formas de vida e o equilíbrio dos recursos naturais do planeta;
  6. contribuir com o desenvolvimento de minha comunidade, propiciando a plena participação das mulheres e o respeito dos princípios democráticos, para criar novas formas de solidariedade.

 

Substituir a secular cultura de guerra por uma cultura de paz requer um esforço educativo prolongado para modificar as reações à adversidade e construir um modelo de desenvolvimento que possa suprimir as causas de conflito.

 

Os esforços devem ser dirigidos em diferentes direções. Sabemos que não há paz social sem paz interior, individual. A paz social passa pelo reconhecimento do outro como legítimo outro na convivência (Maturana e Varela, 1995); pela cooperação substituindo a competição, isto em todos os níveis, desde atividades em sala de aula até nas relações entre países. A paz, para além da paz social e individual, deve contemplar também a paz ambiental e a paz militar. Não conseguiremos paz individualmente sem que a economia sustentável, dignificante da natureza humana e que a paz ambiental seja atingida. Não podemos mais viver em conflito com o meio ambiente.

 

Ubiratan D’Ambrósio (apud UNESCO, 2010:48) nos diz que:

 

Sem paz não haverá sobrevivência. Educar para a paz é educar para a sobrevivência da civilização deste planeta, da humanidade, da espécie – mas a sobrevivência de todos com dignidade. Este é um ponto crucial: a dignidade de o indivíduo ser o que ele é, de poder aderir a um sistema de conhecimentos, de conhecer suas raízes, suas relações históricas, emocionais, sua religião, sua espiritualidade. Um indivíduo é diferente do outro, não há como negar que nós todos somos diferentes. Preservar essa diferença é algo fundamental para que a gente possa falar em uma sobrevivência com dignidade.

 

A Pedagogia da Convivência (Jarres, 2002) nos faz entender a importância do diálogo sobre direitos e deveres, incluindo a compreensão e sentido da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que representa um conjunto de prerrogativas para uma convivência democrática que traz um impressionante consenso sobre o necessário para viver em comunidade. Na Declaração Universal dos Direitos Humanos temos como tema central a dignidade humana, carregando consigo valores, princípios e normas de convivência que são importantes conhecer. Temos ainda, na pauta da Pedagogia da Convivência o diálogo como interação imprescindível ao conhecimento do outro, sua forma de pensar, de sentir e agir no mundo.

 

Alice Cabezudo (apud UNESCO, 2010:68) nos apresenta a cidade como espaços pedagógicos:

 

A cidade é constituída por espaços nos quais se dão relações e interações. Observe que falamos em espaços e interações. As relações nos permitem interagir com o espaço e o outro. Além de um fenômeno físico e um modo de apropriar-se de um espaço, a cidade é também o lugar no qual se produzem inumeráveis interações e experiências do habitar. Nela há inúmeros espaços nos quais acontecem experiências educacionais: museus, bibliotecas, teatros, clubes, ONGs, sindicatos, partidos políticos, praças, parques, ruas. Todos os espaços são salas de aula, recursos formais e não formais, e territórios de aprendizagem democrática, nos quais é necessário que as políticas públicas desenvolvam ações pedagógicas. Nesse sentido, o papel do governo municipal é absolutamente pedagógico na construção de uma cultura de paz.

 

Ao percebermos, nas palavras de Alice Cabezudo, a cidade como espaço pedagógico, temos um vislumbre da envergadura de um Programa de Geração da Paz e a importância da clareza em relação a conceitos, a estratégias e a postura individual e coletiva nos projetos que tomam a si este mister.