Professor do PPGS publica artigo no jornal Diário do Nordeste
13 de abril de 2022 - 12:12
O artigo O nascimento da biopolítica em Fortaleza, alusivo ao aniversário da cidade, e escrito pelo professor do PPGS, Wellington Ricardo Nogueira Maciel, saiu hoje, 13 de abril, no jornal Diário do Nordeste.
Segue abaixo o artigo na íntegra:
O nascimento da biopolítica em Fortaleza
O aniversário de uma cidade é também o momento em que, ao menos uma vez ao ano, a vida pode ser vista de maneira diferente, como que renascendo. Fortaleza, como tantas cidades no mundo, também renasce de tempos em tempos. Se o imaginário de sua fundação lembra que “junto às sombras do forte, a pequena semente nasceu”, a cidade que vemos crescer hoje recorda e nega esse passado mítico. Recorda, porque a fortificação ainda é uma marca de seu traçado urbano. Nega, porque já não é mais possível sustentar uma representação da cidade com base apenas no edificado, no arquitetônico, tão presente nos discursos que denunciam sua segregação. Entre 2005 e 2015, segundo o IBGE, Fortaleza praticamente duplicou sua área construída, num contexto de aumento da renda média da população em geral, dando ensejo a análises que reforçam a relação entre o aumento do número de homicídios e a urbanização desordenada. Após esse decênio, a cidade também viu crescer outros indicadores negativos: aumento da presença das chamadas facções criminosas nas periferias, das populações encarceradas na região metropolitana e no sistema socioeducativo, além do aumento das populações de rua e das populações desempregadas. Em resposta, o Estado elegeu as áreas mais pobres e miseráveis como focos da criminalidade, da desordem urbana e dos riscos sociais. Era preciso também abrir a forma urbana, afirmavam os urbanistas. A gestão de populações e territórios se tornou a resposta política encontrada. Ocupar as margens para melhor controlar os fluxos de corpos com base na penalogia das evidências e na política dos dados abertos. Gerir ganha o sentido de tranformação de corpos e materiais diversos em resíduos administráveis. Um antigo lixão é objeto de políticas de segurança pública, um antigo presídio é demolido para libertar a cidade, uma penitenciária de segurança máxima é erguida nas bordas onde o brutalismo, de que nos fala Mbembe, é a arte de demolir e moldar coisas diversas (mãos de presos ou ferros de cadeias fechadas em cidades do interior utilizados para a construção dos novos espaços de confinamento). Eis Fortaleza renascendo com a biopolítica.