Literaturas, Nacionalidades e Colonialismos
10 de maio de 2019 - 18:18
LITERATURAS, NACIONALIDADES E COLONIALISMOS: CARTOGRAFIA SOCIAL DAS COMUNIDADES IMAGINADAS DE BRASIL, CABO VERDE E GUINÉ-BISSAU
Esta proposta aprofunda e expande o projeto do Observatório das Nacionalidades (ON), iniciado em 2015 com o tema “A Defesa do Atlântico Sul no contexto da cooperação Brasil-África”. Então, o enfoque principal era a reflexão sobre um conceito multidimensional de defesa que levasse em conta aspectos ambientais, socioeconômicos, políticos e culturais provenientes de reinvindicações de setores sociais organizados e suas lutas por preservação da natureza, bem viver e valores democráticos. A abordagem renovada do conceito pode ser encontrada nas duas publicações que resultaram dapesquisa: o número temático da revista Tensões Mundiais, editada pelo ON, v. 12, n. 22 de 2016 e a coletânea intitulada a Defesa dos Povos do Atlântico Sul. No entanto, o intenso debate acadêmico entre pesquisadores brasileiros e africanos, em particular ao tratar de narrativas e casos específicos de conflitos de diversas naturezas, revelou a necessidade de estudos das comunidades nacionais que não puderam ser desenvolvidos a contento. Daí a importância de dar continuidade às atividades de investigação.
O presente projeto, portanto, irá examinar em perspectiva transdisciplinar os processos nunca concluídos de construção das nacionalidades, tendo como campo empírico Brasil, Cabo Verde e Guiné-Bissau. O problema a ser investigado é, sobretudo, de caráter teórico-conceitual e diz respeito às interrelações entre nacionalidades e campo artístico, com destaque para as literaturas oral e escrita com expressão em língua portuguesa, seja como língua oficial seja como língua de comunidades de diáspora. Desse modo, busca-se concentrar esforços na elaboração de procedimentos metodológicos que tenham como ponto de partida os conceitos-chave de “comunidade imaginada”, de Benedict Anderson, e “cartografia social”, de Gilles Deleuze e Félix Guattari. Há indícios a serem aprofundados, no decorrer da pesquisa, de confluências e afinidades entre os autores, ainda pouco percebidas na academia. Trata-se de um caminho alternativo para pensar as mudanças advindas na ideia de nação, sendo imprescindível diferenciar o Estado da nação. Este é um campo de conhecimento complexo, que exige ter em conta as acepções de colonialismo, nacionalismo e imperialismo, muitas vezes usadas pela corrente epistemológica dominante na área de Relações Internacionais para “subalternizar” os povos dos continentes africano e latino-americano, os quais persistem como espaços de disputas globais no século XXI. A equipe interinstitucional de pesquisadores provenientes da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e da Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) irá organizar um grupo de estudos e um curso de extensão, para debater os textos selecionados e analisar criticamente as realidades brasileira, cabo-verdiana e bissau-guineense. A difusão dos resultados da pesquisa será feita por meio do site do ON, num número especial da revistaTensões Mundiais e no VII Encontro Tensões Mundiais. A expectativa é de que a pesquisa contribua para desenvolver processos e instrumentos metodológicos próprios e adequados a situações singulares, sem a pretensão de elaborar uma teoria que apague diferenças nem de assumir a perspectiva eurocêntrica como ponto de vista universal das relações sociais.
Coordenação: Mônica Dias Martins, doutora em Sociologia e professora (UECE)