Estudo revela diferentes faces da pobreza em Maracanaú

 

A ausência de renda é apenas uma das múltiplas faces da pobreza. A conclusão é da pesquisadora Leiriane Silva, que estudou o tema durante o mestrado realizado na Universidade Estadual do Ceará (UECE). A pobreza extrema, analisada por Leiriane no município cearense de Maracanaú, voltou a ser discutida nacionalmente no último mês, devido ao pronunciamento feito pela ministra de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Tereza Campello, que anunciou a existência de 16,3 milhões de brasileiros vivendo nessa condição.
 
Maracanaú, localizado na Região Metropolitana de Fortaleza, possui cerca de 210 mil habitantes e tem, aproximadamente, 20 mil famílias que vivem em situação de pobreza, as quais são beneficiadas pelo programa Bolsa Família. Segundo Leiriane, a pobreza se expressa no município através do desemprego e devido à falta de acesso aos serviços públicos, tais como habitação, saneamento, educação e saúde.

Leiriane encontrou a motivação para realizar o estudo em sua experiência profissional como assistente social do Cadastro Único e do programa Bolsa Família. “Busquei identificar o significado da pobreza para as famílias. Queria retirar o foco da pobreza enquanto ausência de renda e tentar ver outras faces”, diz.
 
As famílias estudadas por Leiriane ocupam a faixa de renda considerada extremamente pobre pelo Governo Federal. De acordo como o MDS, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os brasileiros que recebem até R$ 70 vivem abaixo da linha da pobreza.
 
Leiriane afirma que as famílias de Maracanaú encontraram como alternativas de enfrentamento da pobreza trabalhos esporádicos, tais como os de diarista, servente, pintor e catador de material reciclável, por exemplo. Para ela, os programas sociais complementam a renda. “O ato de solidariedade é muito forte entre eles. A igreja, as entidades e associações de bairro também exercem o papel de ajuda”, destaca.

A pesquisa revelou que as alternativas encontradas pelas famílias suprem apenas as necessidades básicas de sobrevivência. Segundo Leiriane, essas alternativas reproduzem o ciclo da pobreza porque não são capazes de romper com os fatores geradores de desigualdades. “A nossa história é marcada pela concentração de renda e pela entrada no capital de maneira periférica e desestruturada”, justifica a pesquisadora, que propõe em sua dissertação o desenvolvimento de uma política macroeconômica para romper esse ciclo.
 
Os resultados da pesquisa de Leiriane Silva estão em sua dissertação intitulada “As múltiplas faces da pobreza: uma análise sobre as formas de manifestação e enfrentamento da pobreza no município de Maracanaú-Ceará”, defendida em agosto de 2009. O trabalho foi baseado em pesquisas bibliográficas, de campo, documentais e no material coletado durante entrevistas semi-estruturadas, gravadas pela própria pesquisadora. A pesquisa foi desenvolvida junto ao Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas e Sociedade da UECE, sob orientação da professora Rejane Andrade Bezerra, com financiamento da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcape).
 
Leia a dissertação na íntegra: http://www.uece.br/politicasuece/index.php/arquivos/doc_view/100-leiriane1?tmpl=component&format=raw