Uece e Dell desenvolvem exoesqueleto para inclusão de PcD no mercado de trabalho

23 de outubro de 2023 - 10:20 # # # # # # # #

 

Um equipamento capaz de deixar uma pessoa que usa cadeira de rodas na posição vertical, possibilitando a inclusão de Pessoas com Deficiência (PcD) em cargos e funções da indústria ou de outros setores que até então eram ocupados apenas por trabalhadores sem deficiência. Esse é o inédito exoesqueleto Steve, criado a partir da parceria entre a Universidade Estadual do Ceará (Uece), por meio do Laboratório de Desenvolvimento e Inovação (LDI), e a Dell Technologies, por meio do Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (Lead).

De acordo com o cientista-chefe do LDI/Uece e idealizador do exoesqueleto, professor Francisco Carlos Oliveira, Steve é “um aparelho para habilitar para o trabalho”. O docente da Uece conta que a ideia surgiu diante da busca constante da parceria para promover mais inclusão e acessibilidade aos brasileiros PcD e ao observar a linha de produção da Dell:

“Olhei aquele lugar e vi que tudo é montado, tudo é pensado para a produtividade. As pessoas trabalham de pé, todos na mesma altura, porque tem uma esteira que vai passando de posto em posto. Então, quando vi aquilo, imaginei a possibilidade das pessoas em cadeira de rodas poderem trabalhar também num posto de montagem de computador, pois, normalmente, eles trabalham em outras funções menos valorizadas economicamente”, explicou o professor Fran, como é conhecido.

Steve é um produto inédito no mundo, que já conta com certificação da Anvisa e do Inmetro. “Existem outros exoesqueletos que trabalham outros aspectos, mas o nosso é inédito porque ele é o primeiro que habilita para o trabalho,” contribuindo, inclusive, para o atendimento à Lei de Cotas, ressalta o idealizador.

O reitor da Uece, professor Hidelbrando Soares, salienta que a pesquisa na instituição que permitiu o desenvolvimento do Steve reúne duas pautas muito importantes para a Universidade: “a inovação científica e tecnológica e a acessibilidade. Com foco nessas pautas, a parceria entre a Uece e a Dell, por meio da Lei da Informática, voltou-se fortemente para o desenvolvimento de tecnologias assistivas, consolidando-nos uma referência científica nessa área. Como fruto também dessa parceria bem-sucedida, a tecnologia apresentada pela Dell carrega um DNA ueceano, e o resultado é o fortalecimento da ciência, da tecnologia e das ações de acessibilidade.

De acordo com o gerente de Projetos de Inovação e líder no Lead em Fortaleza-CE, Eder Soares, “a criação do Steve faz parte dos investimentos da Dell para criar um ambiente que seja favorável à atração, inclusão e integração de pessoas com deficiência”, acrescenta o representante da empresa parceira da Uece.

O projeto de pesquisa e produção do Steve teve início em 2018 e envolveu uma equipe multiprofissional para que fosse criado um equipamento que não interferisse na saúde do trabalhador, como salienta o gerente. “O desafio para a criação do exoesqueleto envolveu não somente o objetivo final de habilitar as pessoas com deficiência para que elas pudessem atuar na fábrica da Dell, mas também uma série de precauções e pesquisas voltadas para gerar um impacto positivo na saúde do colaborador”.

Assim, o exoesqueleto conta com assentos ergonômicos, apoio para joelhos, braços e panturrilha e até suporte para a circulação sanguínea. Além disso, ele possui diversos dispositivos de segurança, como botão de emergência, cinta toráxica e de pernas, dispositivos antiqueda e apoio fixo traseiro. “Estamos entregando uma solução segura e confiável para nossos colaboradores”, assegura Eder.

Em entrevista à revista Exame, o testador de software da Dell, Erico Oliveira, destacou: “Tenho minha vida, uso cadeira de rodas, na minha casa eu consigo usar muletas também, só que com o Steve é diferente porque com as muletas eu não posso soltar minhas mãos. Já com o Steve eu estou livre de muletas e cadeira de rodas, não precisando me apoiar, pegar algo no armário, me deixa bem livre, sem pedir auxílio”.

O Steve integra um projeto de acessibilidade implementado pelo Lead na fábrica da Dell em Hortolândia-SP, onde, atualmente, emprega 94 profissionais PcD na linha de produção. Com o Steve, esse número poderá crescer, pois, já estão sendo planejados os próximos passos que, segundo o representante da Dell, será a implementação do projeto na referida fábrica nos próximos meses.

Diante de todos os novos conhecimentos adquiridos, professor Fran, da Uece, que é doutor em Ciência da Computação e Aplicações, também já vislumbra o futuro. “O time da Uece agora tem o know-how, tem todo o conhecimento do processo inteiro, desde a concepção, testes, evolução, até o processo mais burocrático de certificação do equipamento vestível na Anvisa. Então, todo esse conhecimento pode ser aproveitado e será aproveitado para fazer outros projetos nessa linha com outros produtos… Poderemos desenvolver outros projetos para idosos, para mulheres grávidas, para pessoas que estão temporariamente sem ter acesso ao trabalho porque tiveram um acidente de trabalho, etc”.

A parceria entre Uece e Dell

Há 12 anos, Uece e Dell criaram um laboratório, atualmente chamado de Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (Lead), cujo objetivo é desenvolver soluções inovadoras voltadas a Pessoas com Deficiência e que permitam a elas alcançarem todas as suas capacidades de trabalho, estando conectado com o propósito da Dell de transformar a vida das pessoas de forma positiva a partir da tecnologia.

O Lead, hoje, é formado por cerca de 150 pessoas, entre funcionários da Dell e pesquisadores, incluindo 40 colaboradores PcD.

Ao longo dos anos, o Lead já executou mais de 120 projetos, entre eles, a plataforma de ensino online acessível Dell Accessible Learning (DAL), que oferece cursos a distância e que recentemente abriu 500 vagas para capacitação em tecnologia para professores e estudantes de licenciatura, em parceria com a Uece.

“Através da nossa parceria com a Uece, desenvolvemos um Centro que hoje é referência no Brasil e no mundo no desenvolvimento de soluções voltadas para o desenvolvimento, integração e elevação da performance das pessoas com deficiência. Hoje, projetos desenvolvidos no Centro de Fortaleza já foram utilizados no Brasil, América Latina e Índia”, ressalta Eder Soares.

Além do Steve, atualmente, outros projetos estão em execução a partir da parceria:

MAIA – oferece às pessoas com deficiência auditiva a possibilidade de realizar testes de áudio durante a montagem dos computadores e se comunicar via rádio com seus superiores e colegas.

ARTRADE – utiliza realidade aumentada para ensinar funcionários, com e sem deficiência auditiva, a como montar equipamentos diversos.

WAL – extensão para navegadores, que adapta as páginas da web em tempo real, inserindo recursos de acessibilidade e, assim, melhorando a experiência de uso para pessoas com baixa visão, daltônicas, cegas e pessoas com dislexia.