Uece compartilha com o mundo acervo do intelectual cearense Djacir Menezes

4 de junho de 2024 - 11:15

A Biblioteca Central Professor Antônio Martins Filho, da Universidade Estadual do Ceará (Uece), lança nesta quarta-feira, 5 de junho, às 14:00 o acervo digitalizado do intelectual cearense Djacir Menezes através da plataforma Google Arts and Culture

A Biblioteca Central, localizada no campus Itaperi, possui este valioso patrimônio cearense: o acervo do bibliófilo Djacir Lima Menezes, intelectual, professor, sociólogo, jurista, economista e filósofo, nascido em Maranguape – CE. O acervo da Uece é composto por 16 mil livros, que pertenciam à Djacir, de áreas como Direito, Filosofia, Sociologia, Economia, História Geral, História do Brasil, Literatura Brasileira, Literatura Estrangeira, além de documentos diversos como manuscritos, correspondências, fotografias e medalhas. Dos 16 mil volumes, 3.200 são obras raras e valiosas, entre as quais a Uece selecionou duas coleções de 100 obras nacionais e 100 obras estrangeiras para compartilhar virtualmente com o mundo, por meio da tecnologia street view, na plataforma Google Arts and Culture, o qual será lançado oficialmente nesta quarta, 5 de junho, às 14:00 em evento que ocorrerá na Biblioteca Central.

Para a diretora da Biblioteca da Uece e uma das coordenadoras do projeto, Ana Néri Barreto, esse ambiente online favorece a disseminação do conhecimento e a Uece não poderia ficar de fora. “As bibliotecas universitárias são instituições e, como tal, são constituídas por um conjunto de funções responsáveis que vão desde o planejamento até a recuperação da informação, e a nossa Biblioteca não poderia deixar de participar dessa plataforma, mantida pelo Google em colaboração com museus, bibliotecas e galerias de arte espalhados por diversos países”.

Para a estreia da Uece na plataforma virtual voltada para arte e cultura, o acervo de Djacir Menezes foi escolhido pela sua relevância. Para o curador, historiador e também coordenador do projeto, Rodrigo Alves Ribeiro, “é muito importante que acervos particulares como de Djacir Menezes sejam disponibilizados para o mundo; porque não é apenas o fato de ser um acervo particular, mas um acervo particular com a relevância documental que tem, que apresenta. Então, a partir dessa iniciativa, pesquisadores de todo o mundo poderão acessar essa documentação. E, se não conseguir acessar essa documentação, eles vão conseguir identificar onde ela se encontra, porque um acervo dessa magnitude precisa ser exposto para o mundo, ele precisa se tornar acessível para todos. Assim, tratamos também da democratização do conhecimento e do acesso à informação”.

A exposição virtual apresentará a obra “O Outro Nordeste”, de Djacir Menezes. Segundo a também coordenadora do projeto e bibliotecária, Lúcia Oliveira, a escolha da obra se deve à sua singular importância. “O livro foi publicado em 1937, em coleção que, no ponto de vista da política editorial no Brasil, é muitíssimo importante, que é a Coleção Documentos Brasileiros, pertencente ao catálogo da editora José Olympio”, ressalta Rodrigo. Lúcia acrescenta que outras valiosas obras nacionais serão disponibilizadas, de renomados autores, como Heráclito Graça, Thomaz Pompêo, Antonio Salles, Rodolfo Theophilo, Barão de Studart; além de obras internacionais, como de Karl Kautsky.

A coleção do professor Djacir Menezes faz parte do patrimônio da Uece, sendo adquirido pela Universidade no ano 2000, em parceria com o Banco do Nordeste, Grupo M. Dias Branco, Grupo J. Macedo, SESC, FIEC, APRECE e Secretaria de Cultura do Ceará, e apoio da família do cearense. A diretora Ana Néri Barreto conta que era desejo do intelectual que seu acervo fosse para o Ceará. “Djacir Menezes deixou em seu testamento o pedido de que sua biblioteca fosse vendida para universidade do Ceará, além de deixar aos filhos a mensagem de que não estava deixando dinheiro, mas que estava deixando esse patrimônio”.

De lá para cá, o acervo de Djacir Menezes, na Uece, foi tecnicamente cuidado, tratado e preservado. Com a parceria do Banco do Nordeste, ganhou catálogo e até documentário, que pode ser assistido em duas partes (o Homem e Seus Livros – Parte I e o Homem e Seus Livros – Parte II). E, agora, a instituição de ensino se prepara para oferecer essa importante coleção a todo o mundo.

Com essa iniciativa, outro objetivo da Uece é a parceria com outros pesquisadores, da Uece de outras instituições. Neste primeiro momento, a Universidade conta com a colaboração do pesquisador, escritor, mestre em crítica literária pela Unicamp e mestre em preservação do patrimônio cultural pelo Iphan, Yuri Zacra. Para o colaborador, “a inserção do acervo Djacir Menezes na plataforma Google Arts and Culture aparece, nessa nova parceria, como caminho natural e em conformidade ao próprio acervo; haver, portanto, a viabilidade de maior difusão, promoção e pesquisa, tão necessária, e sem dúvida, também tão desejada, ainda em vida, por nosso autor e intelectual, é sem mais a democratização de acesso. Além, é claro, aquém daqueles interesses e muitos outros, abrir-se assim àqueles supostos turistas, agora possivelmente também digitais, ao direito a curiosidade que acompanham os leitores despretensiosos, que quase sempre, por sua espontaneidade, vão contribuindo para a circulação de novas conexões, alargando, portanto, as fronteiras do conhecimento”.

A ideia de ingressar no Google Arts and Culture partiu do coordenador e curador do projeto na Uece, o analista da Uece e historiador Rodrigo Alves Ribeiro, a partir da sua experiência na Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece), em que, como mais recente resultado, contribuiu com a difusão da mostra Iracema por Anita Malfatti, que pode ser acessada clicando aqui.

Estão também envolvidos no projeto da Uece, os servidores Bárbara Oliveira Silva, Davi Martins de Oliveira, Filipe Ramó de Freitas Alcântara, Júlio César Agostinho da Silva Fonseca e Sara Raquel de Melo Ferreira.

Sobre Djacir Menezes e sua biblioteca

Djacir Menezes foi bibliófilo, nasceu em Maranguape-CE, em 16 de novembro de 1907, e faleceu no Rio de Janeiro, em 9 de junho de 1996. Formou-se em Direito, assumiu a cátedra de Ciências do Direito da Faculdade de Direito do Ceará. Fundou a Faculdade de Economia do Ceará e foi reitor da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, de 1969 a 1973.

Ele deixou, sob a guarda de seus familiares, a imensa coleção de livros acumulada ao longo de toda a sua vida e uma extensa produção intelectual que se traduz na publicação de cerca de 35 obras produzidas desde 1932.