Tese de doutorado da Uece é a 1º do Brasil em Administração a abordar Economia Azul
6 de setembro de 2021 - 14:45 #Administração #Doutorado #Economia Azul #PPGA #tese
A Organização das Nações Unidas (ONU) decretou o período de 2021 a 2030 como a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável. Foi tendo em mente o desafio de atender ao chamado para uma Economia Azul que o professor e pesquisador Carlos Dias Chaym começou a pesquisar o tema em 2018 no seu doutorado, que resultou na defesa da tese intitulada “Economia Azul no Brasil: proposta de framework analítico para mensuração da prontidão tecnológica da Inovação Azul”. Desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA/UECE), a tese é a primeira em Administração no Brasil a abordar a Economia Azul, “como destacou o professor Marcos Ferasso, da Universidad de Lima, no Peru, que esteve presente na banca”, destaca Chaym. O trabalho teve como orientador o professor Samuel Façanha Câmara, que também é o cientista-chefe de Inovação e coordenador do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) da UECE.
A Economia Azul é entendida como a junção entre a economia do mar com a sustentabilidade. Como explica Carlos Chaym, atividades como a logística portuária, turismo costeiro, esportes náuticos, produção de energia offshore ou na costa, por exemplo, já estão estabelecidas ao redor do mundo, porém normalmente não estão comprometidas com a sustentabilidade. “Isso se torna um desafio para o Brasil e outros 191 países signatários da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da ONU, que traz 17 Objetivos e 169 metas a serem cumpridas. Para a entidade, desenvolvimento sustentável é quando se explora comercialmente ou industrialmente um determinado recurso sem comprometer a capacidade das gerações futuras de fazer o mesmo”, detalha o pesquisador.
Considerando que as inovações tecnológicas são o caminho para a mudança da economia do mar clássica para a Economia Azul, a tese do Chaym procurou saber se é possível mensurar a evolução de produtos ou serviços inovadores sustentáveis, no que ele chama de Inovação Azul. Foi desenvolvida então uma escala de mensuração que une a Technology Readiness Level (TRL) – escala criada pela NASA para classificar o nível de maturidade de uma tecnologia – com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. A TRL vai de 1 a 9, sendo que 1 é o nível mais incipiente de uma tecnologia e 9 é quando a tecnologia está plenamente desenvolvida para ser comercializada. Já os ODS serviram como variável proxy para saber qual o impacto de uma tecnologia nas três principais dimensões da sustentabilidade: ambiental, social e econômica.
A escala criada pela pesquisa foi denominada de Blue-Technology ReadinessLevel (B-TRL), já que tem como foco a Economia Azul e, mais especificamente, o ODS 14 (Vida na Água). “Assim, uma tecnologia é classificada como sendo B-TRL 1/1 quando ela está em estágio embrionário (1, de 9 possíveis) e impacta somente em uma dimensão da sustentabilidade (1, de 3 possíveis). No outro extremo da escala, uma tecnologia pode ser classificada como sendo B-TRL 9/3, quando ela atinge o nível máximo de maturidade e tem impacto direto nas dimensões econômica, social e ambiental simultaneamente”, esclarece Carlos Chaym.
Para validar a escala, foi aplicado um método Delphi, com 50 pessoas diretamente envolvidas em atividades da Economia Azul, catalogando projetos de todo o Brasil. No Ceará, uma das iniciativas estudadas foi a Rede Cearense de Turismo Comunitário (Rede Tucum), articulação formada em 2008 por grupos de comunidades da zona costeira que realizam o turismo de base comunitária. São 14 comunidades, onde tudo que é ofertado para o turista é produzido pela própria comunidade. “O turista fica hospedado na casa das pessoas, não existe pousada ou hotel. Há atividades em que o turista vai vivenciar, trabalhando na agricultura, bioconstrução, artesanato em bordados ou renda de bilros. Ele vai não só para descansar, mas para se integrar com a comunidade”, conta o pesquisador.
A tese classificou a iniciativa da Rede Tucum com a escala B-TRL 9/3, uma vez que se encontra avançada em termos de maturidade, por já estar estabelecida no mercado, e impacta simultaneamente nas três dimensões da sustentabilidade. “A rede evita o êxodo dos filhos da comunidade em busca de trabalho; gera emprego em uma área onde não tem indústria; fomenta a agricultura e pesca sustentável; trabalha a educação ambiental nos turistas ao mesmo tempo em que preserva o meio ambiente”, conceitua o pesquisador.
O pesquisador Carlos Chaym destaca ainda que a experiência da Rede Tucum se sobressai diante de outras atividades de turismo no Nordeste, já bastante desenvolvidas, mas que nem sempre são praticadas de forma sustentável. “Muitas vezes o turismo não deixa renda para a população mais necessitada, ficando para os grandes grupos empresariais. O turista vem para o Estado em voos internacionais ou mesmo de outras áreas do Brasil, fica em hotéis na Beira-Mar, frequenta parques aquáticos, barracas de praias mais badaladas. E pouco dessa economia vai para a população local”, pontua.
Conforme ainda explica Chaym, a B-TRL é uma escala que pode ser usada nos vários setores da economia e em qualquer lugar do mundo, já que suas métricas são internacionalmente reconhecidas. Assim, se um determinado país ou região aplicar massivamente a escala B-TRL para determinado setor da economia, terá como avaliar seu desempenho em relação ao cumprimento das metas estipuladas para a Economia Azul.