Programa Vidas Cruzadas recebe cerca de 100 indígenas venezuelanos em ação de extensão
26 de novembro de 2024 - 12:12
Neste mês de novembro, o Programa recebe doações de roupas, brinquedos, fraldas descartáveis e material de higiene. O ponto de coleta é a Secretaria do ProPGeo.
A Universidade Estadual do Ceará (Uece), por meio do Programa de Extensão Universitária “Vidas Cruzadas: migração, saberes e práticas”, acolheu, no último dia 31 de outubro, cerca de 100 indígenas venezuelanos da etnia Warao, para uma ação extensionista.
No campus Itaperi, os indígenas tiveram a oportunidade de participar das atividades de recadastramento e regularização documental; acolhimento para crianças; roda de conversa sobre a cultura material e imaterial do povo Warao; e troca de saberes sobre cuidados com a saúde, a língua Warao e o português como língua de acolhimento. Para a realização dessas atividades, a Uece contou com diversas parcerias.
Para o recadastramento e regularização documental, o parceiro responsável pela atividade foi o Programa Migrante, vinculado à Secretaria de Direitos Humanos do Governo do Estado do Ceará. Com a coordenação de Jamina Teles, a ação foi feita no auditório da Pró-reitoria de Graduação da Uece. Além da equipe do Programa Migrante, a Polícia Federal se fez presente para tratar de questões vinculadas aos documentos de Refúgio. A regularização e inscrição nos programas sociais foi realizada pela equipe do CRAS/Jacarecanga e Secretaria dos Direitos Humanos e Desenvolvimento Social de Fortaleza (SDHDS).
No Espaço Ekobé, os indígenas foram acolhidos pelas cuidadoras Vilma, professora Dorinha, Irmã Idalina Pelegrini (Pastoral dos Migrantes de Fortaleza), integrantes do Programa Vidas Cruzadas e pesquisadores-extensionistas do Projeto PROEXT-PG/Uece, além de profissionais da Secretaria de Saúde de Fortaleza.
O Programa de Pós-graduação em Nutrição e Saúde (PPGNS) realizou avaliação nutricional e rodas de conversa com crianças e adultos sobre segurança alimentar. Na ocasião, a equipe também distribuiu frutas que foram doadas pela Secretaria de Proteção Social do Governo do Estado do Ceará (SPS), pelo Programa Mais Nutrição e pela Associação de jovens produtores por uma vida melhor.
No âmbito do Projeto PROEXT/PG, no que se refere à Saúde, outras ações foram realizadas, tais como, oficinas sobre a importância da higiene bucal, roda de conversa sobre doenças sexualmente transmissíveis, diabetes etc. As atividades foram coordenadas pela equipe de Saúde da Prefeitura de Fortaleza e pesquisadores do Programa de Pós-graduação em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde (PPCCLIS/Uece).
Uma das atividades foi voltada para a comunicação. Por falarem a língua que dá nome ao povo – Warao, muitos indígenas relataram sentir dificuldades para socializar problemas da vida cotidiana, por isso, pesquisadores-extensionistas do Programa de Extensão Universitária Viva Palavra/PROEXT/PG e do Programa de Pós-graduação em Linguística Aplicada (PosLA), por meio da metodologia do “ACOLING”, realizaram rodas de conversa, que possibilitou troca de conhecimento.
A equipe do Programa Vidas Cruzadas, formada por pesquisadores-extensionistas do Programa de Pós-graduação em Geografia (ProPGeo), do curso de graduação em Psicologia e do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva (PPSAC), com o projeto Ciranda de Palavras, desenvolveu diversas atividades com as crianças, como, desenhos afetivos da Comunidade, confecção de crachás, apresentação musical, desenhos e pinturas livres realizadas em conjunto com a família.
Ainda, por meio da Pró-reitoria de Extensão (Proex) e de Administração (Proad), e da coordenação do Restaurante Universitário, foi viabilizado o almoço para todos no RU Itaperi.
De acordo com a professora Denise Bomtempo, pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Geografia e coordenadora do Programa Vidas Cruzadas, “ao final das atividades, os indígenas Warao retornaram para suas casas com o registro de um dia de múltiplas trocas e aprendizados”. A coordenadora agradece, em nome do Programa e da Proex. “A Pró-reitoria de Extensão Universitária da Uece, a coordenação do Programa Vidas Cruzadas e do Projeto PROEXT/PG agradece a todos/todas envolvidos na organização e realização das atividades”:
Professora Denise lembra à comunidade da Uece que os indígenas Warao participam semanalmente da Feira do Migrante, que ocorre semanalmente (terça e quarta-feira), no corredor central da Uece/Itaperi.
E, neste mês de novembro, o Programa Vidas Cruzadas recebe doações de roupas, brinquedos, fraldas descartáveis (P, M, G) e material de higiene, que serão doados para as famílias Warao residentes na cidade de Fortaleza. O ponto de coleta é a Secretaria do Programa de Pós-Graduação em Geografia.
Saiba mais
Segundo a professora Denise Bomtempo, pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Geografia e coordenadora do Programa Vidas Cruzadas, a etnia Warao tem sua ancestralidade dispersa pelo rio Orinoco, inserido no grande delta do Amacuro, situado no noroeste da Venezuela. Trata-se de uma etnia que compartilha uma língua comum, também chamada warao. Em português, podemos traduzir como “povo da canoa”.
Possuem habilidade com a pesca, a agricultura e o artesanato (palha de buriti e missangas acrílicas). Considerado um dos povos mais antigos da Venezuela, a população Warao é de aproximadamente 49 mil pessoas. Na segunda metade da década de 2010, mais precisamente no ano de 2016, vítimas de violação de direitos humanos, os indígenas Warao realizaram migração forçada e cruzaram a fronteira da Venezuela com o Brasil via o Estado de Roraima. Registrados com o protocolo de refúgio, de acordo com a Agência da ONU para refugiados (Acnur), aproximadamente 9 mil indígenas venezuelanos migraram para o Brasil desde 2016, do total, 7 mil são da etnia Warao.
No Estado do Ceará, mais precisamente em Fortaleza, os Warao chegaram em 2019 e desde então, passam por dificuldades vinculadas à: moradia, alimentação, saúde, ao trabalho, à inserção de crianças no sistema educacional público e ao desenvolvimento de suas práticas culturais. Desde o ano de 2023, cerca de 100 pessoas (23 famílias) residem em casas alugadas nas ruas do centro da cidade de Fortaleza, mas já realizaram mobilidade interna na cidade e passaram por vários bairros situados na periferia da metrópole. Os custos da vida cotidiana são sustentados pela venda de artesanato, prática da recoleta (pedidos nos sinais de trânsito) e inserção em programa sociais do governo federal, estadual e municipal.