Pesquisadores defendem divulgação da ciência para público leigo

29 de janeiro de 2014 - 12:13

O meio científico precisa fazer um esforço para que a pesquisa científica atravesse os muros de universidades e institutos especializados e seja levada ao grande público. Esse é um desafio enfrentado tanto em países líderes em pesquisa científica, como a Alemanha, quanto em emergentes, como o Brasil, que têm procurado ampliar suas fronteiras nas áreas do conhecimento.

Essa foi a chave do debate “Divulgação científica no Brasil e na Alemanha”, realizado nesta terça-feira (28), em São Paulo. Promovido pelo Centro Alemão de Ciência e Inovação São Paulo (DWIH-SP) e pela Sociedade Max Planck – instituto de pesquisa da Alemanha -, em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Informação (MCTI), a discussão marcou o início de uma série de palestras com temáticas científicas que integram a temporada Alemanha + Brasil (2013-2014) e acontecem até meados de fevereiro na capital paulista.

Nas discussões desta terça-feira, os pesquisadores Peter Steiner, da Sociedade Max Planck, Ildeu Moreira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Glória Queiroz, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), mediados pelo diretor de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia do MCTI, Douglas Falcão, aprofundaram o conceito de divulgação científica para além dos círculos especializados da academia.

Moreira sintetizou essa reflexão ao mencionar um escrito de 1924, de Albert Einstein, em um jornal berlinense, no qual o físico alemão dizia que a “ciência é uma substância essencial e deve ser fornecida a todas as partes da sociedade”.

Interesse por ciência

Segundo uma pesquisa apresentada por Moreira, 30% da população brasileira é muito interessada em ciência e tecnologia (C&T); 35% é interessada; 20% possui pouco interesse; e 15% não tem.

Na opinião do professor, é um índice alto de interesse, pouco abaixo do demonstrado no tema esportes, pelo qual 36% dos brasileiros se declaram muito interessados; 26% possuem interesse; 21%, pouco interesse; e 17% dizem não ter interesse.

Um dos problemas, diz o pesquisador, está no abismo entre o interesse e a absorção das informações sobre C&T. Pelos dados de Moreira, uma média de 10% dos brasileiros têm acesso à C&T, por meio de publicações especializadas.

Segundo a mesma pesquisa, se a frequência nos museus dobrou entre 2006 e 2010, passando de 4% para 8,3%, “ainda está muito abaixo das médias europeias”. “O nosso grande desafio é atingir setores mais amplos e pobres da população, que estão nas periferias dos grandes centros”.

Steiner disse que a disseminação de C&T ao público leigo é um desafio também para a Alemanha e ressaltou que existe uma “contraposição entre a comunidade científica que circula em volta de si mesmo, se confronta com a opinião pública e não consegue se comunicar corretamente”.

Para efetuar essa comunicação, o pesquisador defende atuação em duas frentes: divulgação de artigos nos meios de comunicação e por meio de publicidade, o que inclui exposições e iniciativas como os barcos que transportam informações científicas pelos canais alemães.

 

Financiamento

O representante da Sociedade Max Planck mencionou as várias organizações públicas de pesquisa alemãs, como Leibniz, DAAD, Alexander Von Humboldt, HRK, além de fundos estatais como fontes de financiamento e estímulo à pesquisa.

A grande surpresa para a plateia – formada por pesquisadores e estudantes de comunicação pública da ciência, medicina, física, astronomia e química – foi saber que, do orçamento de 75,5 bilhões de euros destinados à ciência na Alemanha, 51 bilhões de euros provêm de fundações privadas dedicadas à C&T, a exemplo de empresas automotivas.

No Brasil, a quase totalidade das verbas é de origem pública, como ressaltaram Moreira e Falcão, representante do MCTI.

Fonte:  Ministério da Ciência e Tecnologia