Pesquisa analisa difusão da Covid-19 em bairros de Fortaleza no primeiro mês da pandemia

16 de novembro de 2021 - 13:51 # #

Pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UECE (PROPGEO)/LGCO, estão entre os autores do artigo “Diffusion of COVID-19 in the Northern Metropolis in Northeast Brazil: territorial dynamics and risks associated with social vulnerability” (Difusão da Covid-19 na Metrópole Norte do Nordeste do Brasil: dinâmicas territoriais e riscos associados à Vulnerabilidade Social), publicado na “Revista Sociedade & Natureza”. O estudo faz uma análise da dinâmica territorial e da dinâmica social em contraste com a pandemia da Covid-19 em Fortaleza e permite detectar como, quando e onde o COVID-19 teve o maior impacto territorial no Ceará. Entre os autores que colaboraram com o trabalho, estão os professores da Uece Davis Pereira de Paula e Daivd Hélio Miranda de Medeiros.

O objetivo da pesquisa foi avaliar a territorialização da Covid-19 em Fortaleza e sua propensão a se espalhar para os bairros mais vulneráveis ​​socialmente. O estudo apontou que, por ser a principal cidade do Nordeste do Brasil, com ampla rede de transportes, Fortaleza figurou entre os territórios mais afetados pelo SARS-CoV-2 do País. A Capital tornou-se o epicentro da disseminação da doença no Ceará, responsável por 86,5% dos casos e 67% das mortes no Estado – 95% dos bairros de Fortaleza registraram casos da doença.

Os pesquisadores focaram apenas no primeiro mês da pandemia da Covid-19 no Ceará, analisando novos casos divulgados no boletim epidemiológico da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) e Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Para análise da situação em torno da pandemia no Ceará e sua territorialização em Fortaleza e seus bairros, foram considerados os dados registrados até os três primeiros dias da quinta semana do surto – de 15 de março a 14 de abril de 2020. A data final corresponde ao dia da publicação do boletim epidemiológico mais atual de Fortaleza, foco da pesquisa.

Neste período, o Ceará ocupou o primeiro lugar em número de casos confirmados no Nordeste (39,5% do total), e o segundo em número de óbitos (32,9% do total). O estudo ressalta que, como na maior parte do Brasil, os dois números aumentavam a cada hora. Em 21 dias (15 de março a 4 de abril de 2020), foram registrados 744 casos e 44 óbitos no Ceará, enquanto em apenas 10 dias (5 a 14 de abril), foram contabilizados 1.331 novos casos (um aumento de 179%) e 78 mortes (um aumento de 177,2%).

 

Bairros

O estudo destacou que, até 14 de abril de 2020, Covid-19 os casos já haviam se distribuído espacialmente em 114 dos 121 bairros da Capital. Os bairros de Fortaleza mais afetados nas primeiras três semanas (15 de março a 4 de abril de 2020) do surto na cidade foram os localizados na Secretaria Regional II, que compreende bairros de classes média e alta, como Meireles (166 casos) e também bairros de baixa renda, como Vicente Pinzón (22 casos). Em termos da magnitude do número de casos, Meireles, identificado como o bairro de onde o SARS-CoV-2 começou a circular na cidade, até 14 de abril de 2020 já havia registrado mais casos do que alguns estados do Nordeste (Paraíba -136; Piauí – 58; e Sergipe – 45), aponta o estudo.

Os pesquisadores verificaram que o maior número de casos ficou distribuído nos bairros da Regional II, com maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Fortaleza – Meireles, Mucuripe, Aldeota, Cocó e Guararapes. Porém, na quarta semana (a partir de 5 de abril de 2020) do surto em Fortaleza, o contágio se espalhou para os bairros mais vulneráveis ​​socialmente, que possuem serviços essenciais inadequados, com deficiências na oferta de saúde, coleta e tratamento de esgoto. Assim, os “grupos sociais de baixa renda foram os mais afetados, pois abrigam comunidades densamente povoadas e deficientes em urbanização e habitabilidade, tornando-se os mais vulneráveis ​​ao impacto local da pandemia”, evidencia o artigo.

“O IDH por bairros de Fortaleza mostra as desigualdades e a vulnerabilidade social de seus diferentes territórios. A maioria de seus distritos regionais no oeste, sul e sudoeste possuem assentamentos precários, como Pirambu, Barra do Ceará, Moura Brasil, Vicente Pinzón, Lagamar e Serviluz, entre outros. Em geral, são territórios ocupados por populações de baixa renda e sem fácil acesso aos serviços públicos essenciais, o que os torna socialmente vulneráveis ​​à pandemia”, destaca trecho do estudo.

O trabalho teve ainda participação de pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFC (POSGEO), do Programa Cientista-Chefe Meio Ambiente (FUNCAP/SEMA/SEMACE) e Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE) foi incluído repositório oficial da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O artigo pode ser acessado em: https://pesquisa.bvsalud.org/global-literature-on-novel-coronavirus-2019-ncov/resource/en/covidwho-1319873