Internacionalização do ensino superior é tema de debate da XXVI Semana Universitária

23 de novembro de 2021 - 11:54 # # #

A internacionalização de universidades foi tema de debate virtual na tarde desta segunda-feira (22/11) durante a mesa redonda “Políticas de Internacionalização: Integrando Redes e Ampliando Horizontes”, realizada dentro da programação da XXVI Semana Universitária da Universidade Estadual do Ceará (UECE). O debate, mediado pelo Escritório de Cooperação Internacional (ECInt), ressaltou a importância da internacionalização como estratégia de desenvolvimento para as instituições, alunos e professores.

O reitor da UECE, professor Hidelbrando dos Santos Soares, enalteceu a posição de destaque ocupada pela universidade na produção científica. “Nesses últimos 20 anos, consolidamos nossa pós-graduação, com os programas Stricto Sensu, que considero uma potência da nossa instituição. Sabemos que a produção de ciência, pesquisa, conhecimento científico, inovação e tecnologia está fortemente centrada nos programas de pós-graduação das universidades públicas. Nesses últimos 10 anos, a Uece se tornou também uma produtora de tecnologias voltadas para o setor industrial. A universidade tem hoje mais de 140 registros de patente junto ao INPI, que são possibilidades de se transformar em produtos tecnológicos para nossa sociedade”, ressaltou.

Para o professor Hidelbrando, a Uece passa por um intenso processo de amadurecimento acadêmico e científico, que se deve a duas grandes ações da instituição: interiorização e internacionalização. Ele destacou o fortalecimento da presença da universidade do interior como estratégia de expansão e fortalecimento científico e tecnológico, que perpassa, essencialmente, pela formação de professores. “Nesse sentido, a Uece tem uma participação proeminente na formação de professores, mas queremos também interiorizar para oferecer à juventude interiorana novas e outras oportunidades de formação. Outro caminho que está completamente integrado a esse projeto é a internacionalização. O nosso amadurecimento acadêmico exige hoje uma forte ação de internacionalização da Universidade Estadual do Ceará e esse é o trabalho que está sendo hoje discutido pela equipe que forma o Escritório de Relações Internacionais, coordenado e liderado pela professora Kadma Marques”.

A coordenadora do ECInt, professora Kadma Marques, mediou a mesa redonda e defendeu que a proposta da internacionalização tem um grande destaque na atual gestão da Uece. “A internacionalização tem um papel transversal na atual gestão, perpassando todos os setores. A perspectiva é de criação de uma cultura para a internacionalização. Essa perspectiva se materializa tanto na nossa relação com os parceiros estrangeiros, com as instituições que concretizam a internacionalização no formato de redes, mas também a todo movimento interno de reconhecimento da necessidade de ações de fortalecimento da dimensão internacional da Universidade Estadual do Ceará”, enfatizou.

Uma das palestrantes convidadas, a coordenadora de Relações Internacionais da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) e Secretária da Câmara de Internacionalização e Mobilidade da Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais (ABRUEM), professora Eliane Segati Rios, apresentou a câmara e seus objetivos, que têm por finalidade fortalecer políticas de internacionalização e cooperação, em seus âmbitos socioeconômicos, culturais e, principalmente, acadêmicos, na forma de mobilidade nacional e internacional. Sua principal meta é concretizar networking entre as universidades filiadas e a ampliação desses contatos em nível internacional.

Eliane destacou que a câmara já realizou diversas missões internacionais. Desde 2006 até 2019 (antes da pandemia), foram realizadas, de forma presencial, missões na China (2006), Chile (2007), Itália (2009), Cuba (2010), Espanha (2010), Portugal (2011), Bélgica (2012), Alemanha (2012), Coreia do Sul (2013), França (2014), Canadá (2015), Reino Unido (2016), Austrália (2017), Hungria (2018) e Chile (2019).

“Todas essas missões tiveram um grande e positivo impacto para as universidades associadas, além de ter sido o momento perfeito para os representantes firmarem ótimas parcerias internacionais. Serviu também para expansão de conhecimento dos participantes, das comitivas em relação ao cenário educacional de diversos países, e também de universidades. Todos esses contatos durante as missões resultaram em diversas parcerias para as nossas universidades associadas, seja em nível de ensino, de pesquisa ou de extensão universitária. É fundamental a articulação das missões, sejam elas presenciais ou virtuais, porque é justamente nelas que se estabelece essa rede de colaboração, esse networking dentro das áreas prioritárias que nós determinamos para o desenvolvimento da internacionalização em uma universidade”, definiu Eliane Segati.

A secretária da Câmara de Internacionalização informou ainda sobre o Programa de Intercambio Académico Latinoamericano (PILA), que visa fortalecer o movimento de interiorização das universidades. A iniciativa promove o intercâmbio de estudantes de graduação e pós-graduação, pesquisadores e gestores de universidades e instituições de ensino superior participantes. “É um programa piloto, mas que tem nos trazido uma grande aprendizagem por meio da interlocução de todas as associações que pertencem a esse programa e também de todas as universidades que estão a ele associadas”.

Segundo Eliane, o programa teve origem por meio de uma aliança estratégica entre instituições do México, Colômbia e Argentina, sendo idealizado em um contexto de atividades presenciais. Desde agosto de 2020, dentro do cenário de pandemia da Covid-19, o programa abriu uma nova modalidade de participação, englobando intercâmbios virtuais – o PILAVirtual -, incorporando Chile, Cuba, Nicarágua, Brasil e Uruguai. “Atualmente o programa é formado por um consórcio de oito países latinoamericanos e 222 instituições de ensino”, ressalta a professora Eliane. No ano de 2020, duas universidades brasileiras participaram do projeto PILAVirtual: Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern).

“No Brasil, o PILA é constituído dentro do âmbito da virtualidade, mas isso não significa que nós seremos excluídos quando tivermos a oportunidade da mobilidade presencial, o que já está sendo planejado para o próximo ano. Ainda que se pense na mobilidade presencial, o virtual não será extinto, tendo em vista que é um instrumento poderoso para o desenvolvimento da interiorização, da internacionalização, principalmente pensando na acessibilidade de todos os nossos alunos, de todos os nossos professores e dos nossos agentes universitários na sua capacitação internacional, seja por meio da pesquisa do ensino ou na extensão. É uma forma muito mais inclusiva, trazendo as oportunidades da virtualidade para discussão e para o desenvolvimento da internacionalização em nossas universidades”, pontuou Eliane.

Projeção no exterior

 O presidente da Associação Brasileira de Educação Internacional (FAUBAI), professor Márcio Venício Barbosa, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), compartilhou sobre o papel da associação na promoção da internacionalização das universidades associadas. Segundo ele, a entidade foi criada em 1988 e hoje reúne gestores e responsáveis de assuntos internacionais de mais de 200 instituições de ensino superior brasileiras.

Com o programa Ciência sem Fronteiras, houve um incremento na atuação da FAUBAI, que passou a ocupar um espaço que estava vago, que era o de unir as universidades na sua projeção no exterior. “A FAUBAI fez muito isso, atuando não só no apoio aos gestores de relações internacionais, no próprio Ciência sem Fronteiras, mas também organizando a participação das nossas universidades em feiras no exterior. É uma ação que a FAUBAI vem fazendo já há muitos anos, paralisamos agora, evidentemente, mas estamos para retornar. Ao mesmo tempo, nos últimos anos a FAUBAI vem realizando também uma feira, ainda que modesta, que permitia que as universidades apresentassem seu funcionamento e suas ofertas de ensino naquelas cidades em que se realizavam as feiras”, detalha. Entre as ações, está o evento “Study in Brazil”, já realizado em Paris, Berlim, Quito e Lima, reunindo diversas universidades brasileiras em grandes eventos no exterior.

“Mas a grande contribuição da FAUBAI para a internacionalização das instituições brasileiras está exatamente no apoio à formação dos gestores de relações internacionais. Eles que representam as universidades na FAUBAI. Não é uma associação que reúne apenas os reitores, como várias outras, mas uma associação que dialoga com todas elas. Todas as propostas são feitas e direcionadas para os escritórios de relações internacionais nas diversas instituições de ensino superior”, conceitua o professor Márcio Venício.

O docente destaca ainda que a FAUBAI tem relação próxima com diversos segmentos universitários, como a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), por meio do Conselho de Gestores de Relações Internacionais das IFES (CGRIFES); a ABRUEM, principalmente por meio do vice-presidente da FAUBAI, professor José Celso Freire (Universidade Estadual Paulista-UNESP); Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação (Conif); a Associação Brasileira das Universidades Comunitárias (ABRUC); além de universidades particulares. E a nível internacional, o professor destaca as parcerias com NAFSA (Association of International Educators, dos Estados Unidos), European Association for International Education (EAIE), OBREAL Observatório Global, Iniciativa Latino-Americana para a Internacionalização (INILAT), entre outros.

Entre as diversas ações da FAUBAI, o professor Márcio destaca o BRaVE – Brazilian Virtual Exchange, programa que incentiva a implantação de intercâmbio acadêmico virtual entre os associados, oferecendo a estudantes de instituições de ensino superior brasileiras a possibilidade de cursar disciplinas com interface internacional, ministradas on-line, em parceria com instituições estrangeiras. Lançado antes da pandemia, o programa está presente em algumas universidades.

A meta do BRaVE é incorporar novas instituições ao projeto, por meio de uma formação que será direcionada a professores interessados. “É uma modalidade de ensino colaborativa, em que dois professores de universidades parceiras elaboram conjuntamente um conteúdo programático, reunindo alunos naquele conteúdo. O componente curricular vale para duas instituições, reunindo alunos de ambas as instituições, que realizam em conjunto uma atividade acadêmica”, explica o professor.