Evento na Uece debate o tema Juventude quer Viver

17 de maio de 2019 - 17:01

A juventude quer viver: problemas e alternativas frente ao homicídio juvenil em Fortaleza

O Ciclo de Debates – Direitos Humanos e Cidadania do Laboratório de Direitos Humanos, Cidadania e Ética (LabVida) da Universidade Estadual do Ceará(UECE), realiza na próxima segunda-feira, 20 de maio , das 09h às 12h, no auditório Aluisio Cavalcanti, localizado no Centro de Estudos Sociais Aplicados (Cesa), campus Itaperi, mesa de debates com o tema A Juventude quer viver: problemas e alternativas frente ao homicídio em Fortaleza.

O LabVida está completando 19 anos de criação, neste ano de 2019 discutirá os seguintes temas: violência, adoecimento e morte de policiais; homicídios de jovens; feminicídios e a questão das drogas numa perspectiva mais voltada à reflexão e compreensão do fenômeno do que à sua criminalização. O evento do LabVida é realizado anualmente.

Os altos índices de homicídios de jovens no Brasil nos denunciam a anos que estamos vivenciando um extermínio da população jovem. O porcentual de homicídios como causa de morte entre os jovens sobe ainda mais se o recorte for feito para pessoas de 15 a 19 anos. Em 2016, o País registrou mais de 60 mil mortes, considerada um número recorde por estudiosos e ao mesmo tempo a violência tem como principal alvo, novamente, as populações negras e jovens, mantendo assim o histórico de vitimização concentrado em uma determinada faixa etária e cor, como demonstram o estudo do Atlas da Violência de 2018, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Observando ainda que a taxa de homicídios de negros (pretos e pardos) no Brasil foi de 40,2, enquanto a de não negros (brancos, amarelos e indígenas) ficou em 16 por 100 mil habitantes. Recordando que no ano de 2016, o Brasil alcançou o maior número de mortes violentas intencionais, como homicídios e latrocínios, da sua história.

Ao mesmo tempo, estudos confirmam a tendência de crescimento da violência nas Regiões Norte e Nordeste com a migração de grupos criminosos do sul e sudeste do País que acabaram vitimando mais as populações negras e jovens dessas regiões, que antes apresentavam baixos índices de violência e homicídios. E essa vitimização vai ocorrer prioritariamente por armas de fogo.

A mesa de Debates será coordenada pelo professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Uece e do Laboratório da Conflitualidade e Violência (Covio), Geovani Jacó de Freitas e composta pelo seguintes expositores: professora Camila Holanda (socióloga, doutora em Sociologia. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia da Juventude, da Violência e dos Conflitos Sociais, atuando principalmente nos seguintes temas: culturas juvenis, infância e adolescência, politicas públicas, pobreza, desigualdade social e direitos humanos. Atualmente é professora da Faculdade de Educação de Itapipoca- FACEDI-UECE, pesquisadora associada do LEV-UFC e participou da Pesquisa do Comitê Cearense de Prevenção de Homicídios da Adolescência da Assembleia Legislativa do Ceará, realizada em 2016 e da produção do seu relatório.

A mesa de debates contará ainda com a Defensora Pública Gina Moura (Graduada em Direito, Especialista em Direito Processual Penal e Direito Penal, Mestre em Direito. Atualmente é Defensora Pública do Estado do Ceará, integra o Núcleo de Assistência aos Presos Provisórios e às Vítimas da Violência (Nuapp) da Defensoria e é responsável pelas atividades do Projeto Rede Acolhe no Ceará. Aluno de Graduação em Ciências Sociais da UECE, Lucas Isaías Vieira é bolsista PIBIC/CNPq e integrante do LabVida/UECE.

Com essa nova reconfiguração do crime/dos seus mercados nos territórios das cidades, mais especificamente, na periferia da cidade de Fortaleza, o que se vem constando localmente? Percebemos que a população vitimada pela violência letal permanece prioritariamente a mesma, ou seja; são os jovens negros, pobres, de baixa escolaridade e moradores da periferia.Essa mesma população é tanto vitimada pelos grupos criminosos como pelas ações e incursões policiais violentas e fora de padrões, marcadas pelo recrudescimento da violência policial contra essa mesma população.

O que fazer frente a essa realidade? Antes de mais nada, há que se discutir políticas públicas eficientes e eficazes no enfrentamento de uma problemática que é principalmente política e que não pode ser simplesmente relegado às polícias. A problemática exige respostas urgentes e, para tanto, precisa discutir sobretudo políticas de juventude, de educação e geração de empregos numa sociedade profundamente aparta socialmente e altamente vulnerável. Nesse mesmo contexto, não se pode ignorar as disputas entre facções, milícias e/ou grupos criminosos por mercados de drogas, armas e outros e, como esse fenômeno tem impactado direta e indiretamente no crescimento dos índices de homicídios entre a população jovem, negra e moradora das quebradas. Agrega-se à essa problemática a velha e ultrapassada política de “guerra às drogas” que mostrou-se inócua frente a expansão dos mercados de drogas no Brasil. Aqui há que se compreender a complexidade que envolve todo esse fenômeno numa sociedade gerida pela rapidez instantânea das comunicações informacionais como se pôde ver, por meio da web e dos smartsphones no decorrer das últimas rebeliões carcerárias que ocorreram no País de Norte a Sul. São, portanto temas pertinentes e fundamentais para se entender o atual momento político e social que vivencia a sociedade brasileira, assim como a complexidade que estas questões e seus tramas envolvem. Ao se tratar da violência letal da população jovem não se pode esquecer o contexto de realidade histórico-social em que esta ocorre, assim como os sujeitos e problemas que ela envolve. Essas são questões que inegavelmente têm rebatimento na vida democrática do Brasil e, portanto, na gramática dos Direitos Humanos e Sociais.