Bem-estar de animais no Zoológico de Canindé é constatado pelo GEASCE/Uece
31 de janeiro de 2019 - 15:23
O Grupo de Estudos de Animais Selvagens (GEASCE), vinculado à Faculdade de Veterinária (Favet) da Universidade Estadual do Ceará (Uece), esteve no último dia 12 de janeiro no Zoológico Santuário São Francisco de Canindé para realização de visita técnica, com o objetivo principal de conhecer as condições atuais do ambiente, manejo e sanidade dos ursos-pardos Dimas e Kátia.
O Zoológico existe desde a década de 70 e é mantido pela Paróquia de São Francisco, no município de Canindé, a 110 km de Fortaleza. O empreendimento ocupa uma área arborizada de 4.000m² e conta com equipe formada por uma bióloga, um médico veterinário, sete tratadores, dois porteiros e uma coordenadora. No ambiente, vivem 352 animais, de 60 espécies, sendo nove répteis, 36 aves e 15 mamíferos, dentre espécies silvestres nativas e exóticas, inclusive algumas ameaçadas de extinção, provenientes, em sua maioria, de apreensões realizadas pelos órgãos ambientais (Ibama e Semace) e de doações dos romeiros.
Dimas
Com Dimas e Kátia a história não foi diferente. Os dois foram recuperados em triste situação. O urso Dimas foi abandonado na rua pelo circo que o utilizava como atração, e encontrado em Sobral-CE, em 2008. Foi encaminhado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ao Zoológico de Canindé. Dimas tinha lesão em um dos olhos, as garras dianteiras retiradas e dentes extraídos, além de ter ainda uma corrente no pescoço e apresentar um comportamento repetitivo, pelo longo tempo vivido em ambiente apertado. Kátia chegou ao zoológico em 2011, com apenas 250kg, sendo 400kg seu peso ideal. Apresentava parasitas e infecções na pele.
Kátia
O GEASCE, coordenado pela professora Verônica Campello, formado por estudantes e egressos do curso de Medicina Veterinária da Uece, quis conhecer esses animais e seu habitat para, além de proporcionar a experiência aos futuros profissionais, contribuir como parceiro com sugestões de melhorias. De acordo com o diretor da Favet, professor José Nailton Bezerra Evangelista, a parceria entre a Faculdade e o zoo de Canindé é antiga. “Quando os profissionais do Zoológico precisam, eles nos solicitam a realização de exames em nosso Laboratório de Patologia Clínica e, já realizamos, inclusive, cirurgias de animais do zoológico aqui em nosso hospital”.
Membros do GEASCE no zoo
Para a médica veterinária que acompanhou o grupo, Rochele Araújo, essa “foi uma oportunidade para que os alunos conhecessem esse trabalho na prática, de conhecer o zoológico não apenas pelo ângulo de quem o visita, mas tudo que está por trás, todo o cuidado que é necessário”.
No local, os membros do GEASCE observaram a preocupação que a equipe do Zoológico Santuário São Francisco de Canindé tem com os animais e em atender exigências e recomendações técnicas previstas na Legislação Ambiental Brasileira. O ambiente em que os ursos vivem passou por ampliação. Possui hoje uma área de, aproximadamente, 350m² , com espaço sombreado por telhado e uma área aberta que conta com o sombreamento de árvore, piscina, plataformas elevadas, manilhas de concreto, comedouro, bebedouro, ponto de fuga sem visualização do público, corredor de segurança, áreas de maternidade e cambiamento com três portas de entrada e saída, cerca eletrificada, ventiladores e umidificadores. As medidas visam o bem-estar dos ursos. “Os animais não demonstraram nenhum sinal de superaquecimento durante a visita”, constatou o GEASCE por meio de relatório.
A alimentação segue uma planilha desenvolvida pela equipe técnica, com base nas características biológicas da espécie, do espécime e das condições ambientais.
Para o manejo sanitário é adotado um planejamento anual desenvolvido pelos profissionais do zoo, o que inclui medidas profiláticas de limpeza e desinfecção das instalações, além de inspeção diária do ambiente e dos animais, vermifugações periódicas, exames clínicos e laboratoriais. O zoológico conta ainda com área técnica estruturada com ambulatório veterinário equipado para realização de procedimentos básicos.
Há também a preocupação com o enriquecimento ambiental cognitivo, em que são desenvolvidas com os ursos atividades planejadas com brinquedos, ervas, alimentos escondidos nos troncos e distribuídos pelo habitat de Dimas e Kátia.
Para a médica veterinária do hospital da Favet, o zoológico oferece as condições necessárias para manter esses animais e tem sempre a preocupação de melhorar. “Às vezes há dificuldade por questões principalmente financeiras, mas estão sempre preocupados em oferecer cada vez mais melhorias”, conclui Rochele Araújo.
Em relatório, o grupo conclui que, com destaque aos ursos-pardos Dimas e Kátia “não há qualquer ato que caracterize maus-tratos, pois todas as necessidades fisiológicas (nutricionais, sanitárias), comportamentais (recintos adaptados), psicológicas (enriquecimento ambiental – frutas, brinquedos, ervas) e ambientais (tanque, nebulizador) estão sendo atendidas ou busca-se através de medidas atenuantes atendê-las”. E ainda, “é fácil perceber a importância cultural, econômica, social e religiosa do empreendimento para comunidade de Canindé, e seu potencial como polo de Educação Ambiental para região e para o Estado do Ceará”.
O GEASCE deu sua contribuição por meio de orientações e sugestões, como instalar termômetro e higrômetro para aferir temperatura e umidade e realizar acompanhamento com ficha de etograma para avaliar conforto térmico e associá-lo ao enriquecimento ambiental voltado para os comportamentos estereotipados.
Os integrantes do GEASCE aprovaram a atividade. “Foi construtivo para montar a minha própria imagem acerca do espaço e conhecer os profissionais, assim como a rotina do zoológico e saber melhor do manejo dos animais. O que mais me chamou a atenção foi o tratamento dos profissionais. Eles demonstraram conhecimento científico sobre o que estavam fazendo. Sabiam das necessidades dos animais e aplicavam à realidade deles”, reconheceu o vice-presidente do Grupo de Estudos e aluno do 7º semestre do curso de Medicina Veterinária da Uece, Raphal Neres.
Além dos animais Kátia e Dimas, também estão alocados no espaço animais ameaçados de extinção como jaguatirica, tracajás, periquitão, jandáia, tatu-peba e outros. De acordo com relatório do GEASCE, todos os animais citados se reproduziram em cativeiro, proporcionando um estudo relacionado à fisiologia reprodutiva dessas espécies e também a refaunação por meio da soltura de espécies, como os tracajás que são soltos no estado do Pará. A soltura de animais que se reproduziram no Santuário de São Francisco totalizou mais de 600 espécimes, colaborando assim com o aumento da população da fauna brasileira.