Diario de Quarentena – LAPPS/UECE

26 de agosto de 2020 - 17:18

Em seguência, temos o depoimento da mestranda em Educação e ex estudante de Pedagogia Lays Souza.

Sou Lays Souza, mestranda em Educação e Ensino (MAIE/UECE) e professora da educação básica na cidade de Quixadá-Ce.

Inicialmente, a quarentena potencializou os desconfortos já vivenciados neste período em que o país é governado por uma figura patética e arrogante. O descaso do presidente com a pandemia no Brasil me preocupou bastante, e ainda me preocupa…pois podemos observar que não há uma queda significativa no número de pessoas que morrem diariamente no país. Tenho a triste sensação de que normalizaram as mortes, e que isso tornou-se apenas mais uma reportagem no noticiário. Presenciar e vivenciar este momento histórico e essa situação, por vezes tem sido angustiante e desgastante.

Desde 2018, vivencio uma rotina muito acelerada, devido à pós-graduação e à docência da educação básica. Tentei, então, já que decidi cumprir à risca o período de isolamento, fazer as coisas que me deixam bem. Estudei, foquei na minha dissertação, fiz cursos online, participei de palestras, debates e eventos, li, vi filmes…e algo que foi/está sendo bastante agradável são os encontros e grupos de estudo com os camaradas estudiosos de Lukács. Além disso, aos sábados, me reúno com uma galera incrível para debatermos e conversarmos sobre um filme escolhido para assistir durante a semana. Este grupo, chamado de Cine Quarentena, me possibilitou conhecer verdadeiras obras de arte, que me emocionaram demais. E não podia deixar de mencionar os Saraus, também organizados por essa galera, que foram momentos de leveza, beleza, emoção e poesia. Além disso, fortaleci ainda mais os meus laços com as pessoas que amo, criando o hábito de declarar meu amor diariamente aos meus pais e irmãos (familiares e amigos), isso fez com que eu pudesse senti-los mais perto de mim, apesar da distância.

Como professora da Educação Básica de Quixadá, tenho enfrentado muitos desafios. Não estávamos preparados para um momento como este que estamos vivenciando. E, após estabelecido que devíamos trabalhar de casa, aderindo assim às “atividades pedagógicas não-presenciais”, adaptei novamente a minha rotina para tentar minimizar os transtornos causados pelo “home office”. Estas atividades à distância evidenciam o abismo social que nossos estudantes vivenciam. Não que isso não fosse “evidente”, mas agora está absolutamente escancarado. O que mais me preocupa, é que não se reflita com seriedade sobre isso. É muita gente com discursos “coachs” mascarando os reais problemas que deveriam ser discutidos e debatidos no meio educacional. Para muitos alunos (a maioria), é muito complicado e inviável acompanhar estas atividades remotas. Porém, mesmo com tudo isso, tenho tentado buscar metodologias que possam ajudar os meus alunos(as) durante esse período e a fortalecer os laços com as famílias, mas sempre reafirmando que “educação à distância” não ensina, que nada substitui a presença de um professor, que o conhecimento destrói “mitos”, e que não se pode afirmar que esta metodologia “dá certo”. Nossa defesa sempre deverá ser por uma educação pública que chegue a todxs os indivíduos.

Enfim, para não me estender ainda mais, desejo força e garra a tod@s nós, porque são muitos os desafios que estão por vir, e nós precisamos nos fortalecer para enfrentá-los!