Nova espécie de ave é descoberta no Brasil com contribuição de pesquisador do MHNCE/Uece
5 de dezembro de 2025 - 14:18
A investigação foi realizada por pesquisadores do MHNCE/Uece, Museu Nacional/UFRJ, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Acre
Uma expedição científica à Serra do Divisor, no extremo oeste do Acre, revelou a existência de uma nova espécie de ave para a ciência. A descoberta, publicada no periódico internacional Zootaxa, descreve a Tinamus resonans, conhecida como sururina-da-serra, e conta com a participação do pesquisador Marco Aurélio Crozariol, do Museu de História Natural do Ceará Prof. Dias da Rocha (MHNCE), vinculado à Universidade Estadual do Ceará (Uece).
A nova espécie pertence ao grupo dos tinamídeos, aves de hábitos terrestres típicas da América do Sul, e foi registrada exclusivamente nas áreas mais altas da Serra do Divisor. Os pesquisadores identificaram combinações inéditas de plumagem, vocalização e características ecológicas, confirmando que se tratava de uma espécie ainda não descrita. Um dos aspectos mais marcantes é o canto dessa ave, formado por notas longas e potentes que ecoam pelas encostas montanhosas, criando um efeito acústico raro, o que inspirou o nome científico resonans, derivado do latim e associado à ideia de reverberação. A sururina-da-serra possui na face um padrão cinza-ardósia que forma um desenho semelhante a uma máscara, além de peito castanho-avermelhado e dorso marrom-acinzentado uniforme, padrões que não se repetem em outras espécies do gênero.
De acordo com o pesquisador do MHNCE/Uece, encontrar uma nova espécie de ave “é algo extremamente incomum. Quando se descobre uma nova espécie, é necessário coletar amostras dela e depositá-las em coleções científicas, na maioria das vezes de museus”, destaca Marco Crozariol, que foi convidado para participar da investigação devido não apenas à sua formação, mas especialmente à ampla experiência em trabalhos de campo e na preparação de exemplares de aves para coleções museológicas.
As expedições de campo registraram a espécie entre 310 e 435 metros de altitude, sempre em uma estreita faixa de transição entre floresta submontana e floresta anã, onde o solo raso e a densa rede de raízes criam um ambiente muito específico. Com base nos registros obtidos, o estudo estima que existam cerca de 2.100 indivíduos, todos restritos ao maciço montanhoso da Serra do Divisor. Parte dos espécimes coletados está depositada no acervo do MHNCE/Uece, que contribuiu com trabalho de campo, documentação e análise taxonômica.
“As amostras usadas nas descrições científicas são as mais importantes, pois comprovam as características originais do animal descrito. Qualquer pessoa que queira verificar detalhes de uma espécie, ou saber se um animal pertence ou não àquela espécie, precisa consultar esses indivíduos. Por isso, ter amostras no MHNCE/Uece torna o museu um centro de referência no conhecimento da biodiversidade. Além disso, fortalece sua missão científica, amplia sua visibilidade, atrai parceiros e investimentos e, tão relevante quanto, uma divulgação bem feita dessas descobertas aproxima o público dos museus e demonstra sua importância para a sociedade”, reforça o pesquisador.
O artigo destaca, ainda, que a Serra do Divisor é uma das áreas mais singulares e menos estudadas da Amazônia brasileira. Apesar de protegida por um Parque Nacional, existem propostas de rebaixamento da unidade para Área de Proteção Ambiental (APA), o que permitiria a construção de rodovia, ferrovia e até a exploração mineral. Para o pesquisador da Uece, a descoberta dessa nova espécie reforça a importância da conservação da região e pode contribuir, inclusive, para o fortalecimento do turismo ecológico.
A pesquisa completa, desenvolvida pelo MHNCE/Uece, Museu Nacional/UFRJ, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Acre, pode ser acessada no artigo científico clicando aqui.



