Professor da Uece lança livro que analisa papel do Banco Mundial na educação brasileira
5 de junho de 2025 - 14:10
Obra premiada investiga como o Banco Mundial influencia políticas educacionais no Brasil e na periferia do capitalismo
O professor Thiago Moreira Melo e Silva, da Universidade Estadual do Ceará (Uece), lançou o livro Brasil, de experiências de catálogo a um laboratório de ação educacional: a concepção de boas práticas como instrumento de gestão do Banco Mundial para Educação.
A obra, publicada pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) com apoio da CAPES, é fruto de sua tese de doutorado defendida no Programa de Pós-Graduação em Educação da UNIFESP, sob orientação do professor Luiz Carlos Novaes. O trabalho foi reconhecido com o Prêmio de Melhor Tese de Doutorado em Educação da EFLCH-UNIFESP em 2023.
A publicação oferece uma contribuição original e profundamente analítica ao campo das políticas educacionais, ao explorar criticamente a atuação do Banco Mundial na formulação de diretrizes e na disseminação de práticas educacionais voltadas aos países da periferia do capitalismo, como o Brasil. A análise centra-se na estratégia de propagação das chamadas “boas práticas” como instrumento de gestão e influência, utilizadas pelo Banco para legitimar e expandir seu receituário de políticas educacionais.
Segundo o autor, o Banco Mundial exerce um papel central na construção de um discurso hegemônico sobre educação, por meio de um elaborado sistema de produção, difusão e adaptação de recomendações de política pública. Tais recomendações são apresentadas como neutras e tecnicamente validadas, embora estejam fortemente ancoradas em uma lógica gerencial orientada pelo mercado.
Mesmo que, atualmente, o Banco Mundial pareça ter perdido parte de sua visibilidade para organismos como a OCDE ou a UNESCO, sua capacidade de articulação e convencimento segue ativa e influente. Isso se dá, aponta o livro, por meio de uma rede complexa de agências, consultores e fundações empresariais que atuam como mediadores locais das diretrizes globais, contribuindo para a disseminação de uma agenda homogênea e globalizante para a educação. Um dos destaques da obra é a análise do Brasil como “laboratório de ação educacional”.
Com sua dimensão continental e diversidade, o país se tornou campo privilegiado para implementação, teste e difusão das políticas recomendadas pelo Banco. No capítulo final, o autor evidencia ainda a estreita colaboração entre o Banco Mundial e fundações empresariais brasileiras, revelando mecanismos como a “porta giratória” — fluxo contínuo de especialistas entre os setores público e privado — como peças-chave na circulação de ideias e projetos educacionais.
Com linguagem clara, estrutura organizada e conteúdo profundamente fundamentado, o livro se apresenta como leitura importante para pesquisadores, educadores, gestores e todos que se interessam por uma compreensão crítica da influência dos organismos internacionais sobre a educação. A obra reafirma a importância de resistir à naturalização de discursos tecnocráticos e buscar caminhos emancipatórios para a política educacional brasileira.
https://repositorio.unifesp.br/items/6aa80a6d-27e2-4c40-a3f7-9258f86b6dc2