Linha 03 – Estudos Críticos da Linguagem

PROJETOS DE PESQUISA EM ANDAMENTO

 

Projeto: Pragmática Cultural e Letramentos Sociais: reexistência, sobrevivência e insurgência nas práticas de linguagem potencialmente revolucionárias

Coordenador: Prof. Dr. Antonio Oziêlton de Brito Sousa

Descrição: Este projeto tem por objetivo analisar práticas de letramento produzidas coletivamente em territórios populares a partir da análise dos usos sociais da linguagem performatizados em comunidades, ruas, escolas, universidades e, principalmente, nos processos cartográficos do Viva a Palavra (Alencar, 2014), programa de extensão da Universidade Estadual do Ceará comprometido com crianças, jovens, movimentos sociais e coletivos culturais. Para esse fim, propõe-se uma articulação teórico-metodológica entre Pragmática Cultural (Alencar, 2021) e Letramentos Sociais (Street, 2014), a fim de fortalecer e mobilizar propostas teóricas e metodológicas comprometidas com o desenvolvimento de pesquisas intervenção e participante pautadas na simetria, horizontalidade, colaboração e transformação social. A partir da Pragmática Cultural, pretende-se articular jogos de linguagem (Wittgenstein, 1989), atos de fala (Austin, 1990) e práxis (Freire, 2013; Vázquez, 1997) performatizadas em práticas de linguagem reconhecidas como letramentos que modificam realidades opressoras e constroem outras histórias, fortalecendo formas de vida alternativas ao eurocentrismo. Nos processos metodológicos, busca-se seguir fluxos coletivos, perfazendo cartografias em Pragmática Cultural que estejam para além da representação objetiva. Trata-se da construção de uma possibilidade metodológica para o acompanhamento de processos que oportunizem aos colaboradores e pesquisadores experienciar as realidades de pesquisa-intervenção pautadas na construção de planos comuns. A questão principal é a compreensão de como as práticas sociais, construídas via linguagens, performatizam processos de reexistência (Souza, 2011), sobrevivência (Lopes; Silva; Facina, 2018) ou insurgência (Sousa, 2021), contribuindo para novos desdobramentos da Linguística Aplicada a partir do papel das linguagens na construção de formas de vida alternativas aos padrões estabelecidos pelas forças hegemônicas do capitalismo neoliberal.

Palavras-chave: Pragmática Cultural. Práticas de letramento. Linguagens. Reexistência. Sobrevivência. Insurgência.


 

Projeto: PragmaCult e cenopoesia, palavras-sementes para mudar o mundo: gramáticas de resistência e práticas terapêuticas da linguagem na extensão comunitária e popular

Coordenadora: Profa. Dra. Claudiana Nogueira de Alencar

Descrição: Este projeto tem por objetivo investigar a produção de gramáticas culturais de resistência a partir da análise de práticas linguísticas vivenciadas nas cartografias do Viva a Palavra, um programa de extensão comunitária e de educação popular comprometido com o enfrentamento da violência por meio da valorização das formas de vida e práticas de arte e cultura das juventudes periféricas. Para isso, busca uma articulação teórico-metodológica entre a Pragmática Cultural e a Educação Popular na proposição de metodologias de pesquisa participante mais horizontais, simétricas, colaborativas e transformadoras. Mais especificamente, serão articuladas as visões de palavra-mundo de Paulo Freire, as de jogos de linguagem e terapia da linguagem de Wittgenstein, com as vivências da extensão comunitária e da cenopoesia, propostas por Vera Dantas e Ray Lima. No que diz respeito aos aspectos metodológicos, a pragmática cultural procurará promover aliança entre os coletivos, movimentos e sujeitos sociais da comunidade e da universidade, participantes da pesquisa, bem como entre abordagens, procedimentos e técnicas da pesquisa cartográfica com os procedimentos e técnicas da educação popular e da cenopoesia. A questão principal é entender como os jogos de linguagem, em práticas organizativas e autoorganizativas de cuidado, de política, de arte, de cultura dos movimentos socias e dos coletivos, vivenciados por meio da extensão comunitária e popular, podem constituir práticas terapêuticas de linguagem em gramáticas de resistência, na construção de outras formas de vida e de espaços de esperança na periferia de Fortaleza.

Palavras-chave: Cenopoesia, pragmática cultural, gramática de resistência, terapia da linguagem, extensão comunitária


 

Projeto: Linguagem midiática, gênero (feminino) e processo de (des)colonialização.

Coordenador: Profa. Dra. Dina Maria Machado Andréa Martins Ferreira

Descrição: Utilizando-se da mídia impressa ou online – como recortes de jornais e revistas de circulação nacional, por exemplo -, busca-se um corpus analítico constituído por figuras femininas ou por figuras femininas junto a masculinas, nas linguagens verbal e icônica, a fim de avaliar como o gênero feminino é construído frente ao masculino. Os recortes do corpus serão da mídia brasileira, composta por uma linguagem localizada no Hemisfério Sul, território muitas vezes excluído das epistemologias hegemônicas, que, em vez de libertar a figura feminina das algemas de um pensamento eurocêntrico e/ou imperialista, reforçam a subalternidade de nosso território linguageiro e cultural. Trata-se, assim, de uma proposta que se forma por uma tríade: linguagem, gênero e território cultural. A qualificação principal do problema está na territorialização da linguagem performativa do gênero e na sua valorização enquanto parte de uma epistemologia do sul e/ou do norte – (des)colonialidade, (des)colonização, como apontam Santos e Meneses (2010). O gênero construído na linguagem, territorializado no Hemisfério Sul, pode ou não ser traduzido pela subalternidade; pode, também, ser estabilizado ou desestabilizado na e pela linguagem. Para argumentar sobre tal problemática, fazemos um percurso teórico crítico: partimos de Fairclough (2001 [1992]; 2003; 2005), cujas propostas serão aplicadas na análise do discurso midiático e de seus performativos simbólicos (BARTHES, 1969; ELIADE, 2012; HAESBAERT, 2004); passamos por Butler (1997; 2004; 2010) e por Spivak (1994), que abordam o gênero feminino, e chegamos a Grosfoguel (2010), a Maldonado Torres (2010), a Quijano (2010) e a Santos e Meneses (2010), que discutem a respeito das teorias (des)coloniais. A originalidade desse projeto está, de um lado, nos estudos de gênero – no caso, do feminino e do feminino junto ao masculino – pela estilização do corpo (PINTO, 2002), levando em conta a forma como a linguagem constrói o gênero; e, de outro, principalmente nos estudos – ainda não muito desenvolvidos – que localizam e contextualizam o gênero a partir de epistemologias territorializadas (ou territorializantes). Ou melhor, no fato de que o presente projeto recebe contribuições de pensadores do Hemisfério Sul e também do Hemisfério Norte (SANTOS; MENESES, 2010), que analisam o uso da linguagem sem levar em conta a influência da territorialização, da historialização/historialidade e da geograficidade das epistemologias (AGAMBEN; 2010, VATTIMO, 1985) como formadoras de determinado tipo de gênero. Esse percurso temático-teórico, sem dúvida, influencia a construção do gênero, quer seja local, quer seja globalmente. Dessa forma, mesmo considerando o poder global como o grande dirigente, é no poder local e em seu território que emergem as forças hegemônicas (eurocêntricas e imperialistas) que vão interferir no que convencionamos denominar “gramática cultural”, ou seja, nas normas e nos valores do cotidiano de determinada comunidade (FERREIRA; ALENCAR, 2013).

Palavras-chave: Gênero. Mídia. Representação social. Performatividade. Corpo.


 

Projeto: Linguagem, discurso e relações dialógicas sob o olhar bakhtiniano em enunciados de múltiplas esferas discursivas

Coordenador: Prof. Dr. João Batista Costa Gonçalves

Descrição: Este projeto de pesquisa pretende analisar e compreender diferentes práticas discursivas seguindo o direcionamento teórico da perspectiva dialógica da linguagem proposta no conjunto da obra do Círculo de Bakhtin (BAKHTIN, 2010, 2011, 2012, 2013, 2018; MEDVIÉDEV, 2012; VOLÓCHINOV, 2017, 2019). O projeto acolhe pesquisas que tenham interesse na análise da produção, da recepção e da circulação dos sentidos em gêneros discursivos materializados em enunciados concretos verbais, visuais, verbo-visuais e/ou verbovocovisuais presentes em diversas esferas sociais, como a religiosa, apolítica, a literária, a artística, a jornalística, a midiática e a publicitária.

Palavras-chave: Dialogismo. Relações Dialógicas. Enunciado. Esferas Discursivas. Círculo de Bakhtin


 

Projeto: Ato responsável e enunciado concreto em gêneros discursivos acadêmicos e nos seus diálogos em outras esferas de criação

Coordenador: Prof. Dr. Marcos Roberto dos Santos Amaral

Descrição: Este projeto de pesquisa pretende analisar noções de pesquisador, pesquisa, ciência, gêneros discursivos acadêmicos e suas respostas a diversas esferas de criação, sejam, estritamente, nos meios acadêmicos ou nos midiáticos, jornalísticos, relativos à educação, entre outros. Busca refletir sobre: 1) a dimensão estética, ética e cognitiva dos modos de dizer acadêmicos, 2) suas relações de cocriação e empatia a valores dos sujeitos da pesquisa, a partir das quais aspectos discursivos são organizados, 3) como estas dimensões e relações arquitetam-se em enunciados concretos, e 4) de que maneira esferas não acadêmicas tematizam as produções acadêmicas. O projeto interessa-se por questões relacionadas à afirmação da ciência como ato responsável, apoiando-se na crítica que Bakhtin (2014; 2011; 2010) faz de práticas científicas que não dialogam francamente com debates do mundo da vida. Esta perspectiva visa propostas para uma ciência crítica de seus fundamentos tecnicistas e produtivistas, engajada nas lutas sociais, a qual se delineia, nos termos de Bakhtin (2014; 2010), por momentos autorais e responsáveis, constituídos no entrecruzamento contraditório de posições axiológicas distintas. Serão acolhidasos debates pesquisas que pensem como as práticas acadêmicas organizam-se, temática e materialmente, em função de situações históricas especificas, com pesquisadores e atos não respondendo apenas à vontade de sistematizar regularidades do mundo, mas buscando dialogicamente a coconstrução de um mundo solidário.

Palavras-chave: Lutas sociais. Práticas discursivas acadêmicas. Esferas de criação humana. Gêneros do discurso. Ato responsável.


 

Projeto: Interações Sociais, Trabalho com as Faces e Pragmatica: estudos sobre a (im)polidez linguistica e violência no Brasil

Coordenador: Profa. Dra. Letícia Adriana Pires Ferreira dos Santos

Descrição: Este projeto de pesquisa se fundamenta em abordagens pragmáticas e sociocognitivas e se concentra na investigação do fenômeno da (im)polidez, bem como da violência linguística, por meio do estudo de processos de interação social, da análise da conversação e das faces em diversos gêneros textuais que circulam na sociedade contemporânea, nos quais a (im)polidez, a (des)cortesia e a violência se materializam. Metodologicamente, as pesquisas associadas ao presente projeto serão de natureza descritiva e exploratória e poderão partir de um método etnográfico, cartográfico, compreendendo um corpus de textos dos mais diversos gêneros da atualidade, que poderão ser analisados qualiquantitativamente. Os pressupostos que embasarão tais análises se baseiam na Teoria da Polidez Linguística em consonância com os estudos críticos da linguagem, segundo os quais a linguagem é uma forma de ação (AUSTIN, 1990), sendo dotada, por consequência, de uma dimensão performativa (OTTONI, 1998) e estando ligada à ideologia e ao poder, consoante uma concepção crítica de ideologia (THOMPSON, 2011), numa perspectiva pragmática. Nesse sentido, tal perspectiva estabelece uma estreita correlação com a teoria interacionista de Goffman (2012) – que versa, inicialmente, sobre a preservação da face (self) dos sujeitos interactantes. Pretende-se usar os estudos teóricos de polidez de Brown e Levinson (1987) – juntamente com as categorias de Leech (2005) acerca da (im)polidez linguística, vivenciada na e pela linguagem, como ponto de partida histórico e disseminação desse fenômeno. Diante disso, as reflexões a serem construídas serão amparadas por um olhar crítico, à luz do pós-estruturalismo, o que possibilitará que a Linguística Aplicada continue avançando em direção a novas frentes de estudo, como é o caso da Nova Pragmática.

Palavras-chave: Pragmática. (Im)polidez. Violência.


 

Projeto: As tensões entre mídia, política e direito na história recente do Brasil: linguagem, antagonismo e hegemonia 

Coordenador: Prof. Dr. Raimundo Ruberval Ferreira

Descrição: Nos últimos anos, o tema da defesa da democracia e da Constituição tem ganhado bastante visibilidade na mídia brasileira, tanto na chamada mídia tradicional e corporativa quanto nas chamadas mídias independentes que surgiram com o advento da internet. Essa visibilidade tem a ver com um fenômeno preocupante: a ascensão e o crescimento da extrema direita em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil. Nesse sentido, partindo do pressuposto, bastante conhecido na ciência política, desde o seu nascimento, com Maquiavel, depois, atualizado e aprofundado pela teoria social crítica de Marx, bem como por suas revisões críticas (LACLAU; MOUFFE, 1985/2015; LACLAU, 1990, 1994), de que o mundo social é originariamente dividido, divisão esta que pode ser verificada nas disputas de sentido do mundo social que acontecem em torno dos chamados “significantes vazios” (LACLAU, 1994; 2011), e mais, considerando o fato apontado por Bourdieu (2008) das disputas de sentido que acontecem no interior dos campos sociais, inclusive pelo seu domínio, este projeto tem por objetivo investigar os sentidos de “democracia” enquanto significante vazio nos termos de Laclau (1994/2011), reivindicados nas esferas da mídia (corporativa e independente), da política e do Direito, bem como as tensões, contradições e impasses que resultam dessas disputas de sentido. Essa luta discursiva em torno do significante “democracia”, que mobiliza vozes e teorias diversas, das clássicas (ROUSSEAU, TOQUEVILLE, MILLS) às mais recentes (SCHUMPETER, 1961; WEBER, 1980; RAWLS, 2002; DAHL, 1997; FRASER, 2001; MOUFFE, 1998, 2015; SANTOS, 1998), será analisada em função de suas relações com as seguintes questões, a meu ver, fundamentais para a discussão sobre hegemonia nos tempos atuais, a saber: i) a nova forma de guerra nas disputas por hegemonia no mundo contemporâneo, a chamada “guerra híbrida” (KORYBKO, 2018), que tem no ativismo judicial uma de suas principais táticas de desestabilização do governo de países geopoliticamente importantes; ii) as novas formas de ameaça à democracia (RANCIÈRE, 2014; LEVITSKY e ZIBLATT, 2018), sobretudo em função da ascensão da extrema-direita no mundo, inclusive no Brasil, aqui representada pelo bolsonarismo. Tendo em vista que o projeto em questão congrega pesquisas sobre aspectos diversos das tensões e contradições das disputas de sentido do mundo social no que diz respeito às relações entre mídia e política, seu suporte teórico-metodológico mobiliza conceitos e categorias resultantes do diálogo entre Teoria Social do Discurso (FAIRCLOUGH 1992/2001; 2003, 2004; CHOULIARAKI e FAIRCLOUGH 1999), teoria social crítica (HARVEY, 1989; GIDDENS, 1991; BOURDIEU, 1992b) e teoria política contemporânea (LACLAU e MOUFFE, 1985; LACLAU, 1990, 1996, 2011; MOUFFE, 1996, 2015).

Palavras-chave: Mídia. Política. Democracia. Discurso. Hegemonia.