Três personagens à procura de um sonho. Acharam

10 de junho de 2015 - 16:40

“Agora que a ficha está caindo!”, disse, abrindo um sorriso meio tímido. Indagada se a ficha era sua entrada na universidade, respondeu: “Mais ou menos… É que agora eu estudo por prazer, não mais por pressão familiar ou por obrigação para passar. Eu sempre gostei de estudar e estudo agora porque quero ser uma boa profissional”.

Ou seja, Gabriela Maria Schwinder, de 18 anos, quer ser uma boa médica veterinária para dar o melhor de si quando for tratar de animais selvagens, área em que quer trabalhar. Mesma área de atuação desejada por João Victor Albuquerque, também 18 anos. E também de João Pedro Carvalho Marques, mesma idade, que contempla ainda uma segunda opção: equinos.

Desde pequenos, Gabriela, João Victor e João Pedro queriam ser veterinários.

Filha do meio do militar gaúcho, Luis Carlos, e mãe cearense, Silvana Maria, e nascida em Boa Vista (RR), onde o pai servia, Gabriela já era a “consultora informal” dos pets da família.

João Pedro, filho único de Yotzer e Maria Zilda, cuida de bichos no sítio de seus pais, no distrito de Cristais, no município de Chorozinho, e também das plantações, pelo sistema mandala de agricultura.

João Victor é filho único de seus pais, João Francisco e Maria Fantina, que têm filhos de outros casamentos, o que faz o calouro da Uece ter quatro meio-irmãos.

Para garantir a realização de seu sonho, João Pedro e Gabriela prestaram vestibular também na Universidade Federal do Semiárido (Ufersa), em Mossoró. Passaram.João Victor passou para Zootecnia, na Universidade Federal do Ceará (UFC).

Em virtude da demora da divulgação do resultado do vestibular 2015.1 pela Uece, chegaram a se matricular na universidade potiguar. “Ficava atualizando a página da Uece no Facebook o tempo todo pra saber se tinha saído o resultado” , rememora Gabriela.

As malas dos dois já estavam prontas para a mudança de Estado quando saiu o resultado da Uece. João Pedro passou em terceiro lugar. Gabriela ficou no meio e João Vitor, nos classificáveis.

Gabriela e os Joões moram na confluência dos bairros Joaquim Távora/Dionísio Torres/Aldeota e pegam o mesmo ônibus para se deslocar para o Campus do Itaperi. Não necessariamente sempre juntos.

Os três embarcaram juntos no ônibus 99 que faz a linha Siqueira-Mucuripe, por volta das 15h30 do dia 26 de maio, de volta pra casa, falando animadamente – e muito – sobre a cerimônia de abertura da Semana da Integração. No dia anterior, assistiram aula. “A gente não sabia se ia ter aula no primeiro dia, 25 de maio”, disse um dos três, dentro do coletivo, em meio ao forró em altos decibéis. Eles ficaram confusos sobre a programação da semana.

De novo, foram salvos por outra mídia social de grandíssimo alcance e tão presente na vida de muitos que habitam o planeta Terra. Foram esclarecidos pelo grupo no Whatsapp criado, no final de março, por novatos logo que todos se matricularam e com uma espécie de apadrinhamento de alguns veteranos da Favet. Com o grupo no Whats, eles já entraram na Faculdade conhecendo muita gente. O que eles consideram muito positivo.

Positiva também é a imagem que o trio tem da Uece desde o primeiro dia no Campus do Itaperi. Eles estavam certos que iam encontrar uma Universidade sucateada. “A gente lia umas coisas na mídia, no Facebook e imagina tudo detonado. Mas a Universidade é bonita, os professores são competentes. Gostei do que encontrei – se bem que podia ter papel higiênico nos banheiros. A comida do RU é boa. Os laboratórios são muito bem equipados”, disseram.

Um dos laboratórios a que se referem é o de Manipulação de Oócitos e Folículos Ovarianos Pré-antrais (Lamofopa), onde eles têm aulas e precisam de jaleco – para grande satisfação deles! Como fica localizado depois da lagoa, os alunos da Favet esperam carona na Praça Antônio Martins Filho, no Itaperi.

Outro aspecto positivo apontado por eles foi o Restaurante Universitário (RU). Para Gabriela foi maravilhoso saber que todos os dias há a opção vegetariana, já que ela não come carne nem peixe. João Pedro come legumes e verduras. “Minha mãe não comia, mas passou a comer para me dar exemplo”. Já João Victor não come de jeito nenhum.

Depois das fotos para a matéria, eles saem correndo em direção à praça para garantir a carona para o Lamofopa, na segunda-feira chuvosa.

João Pedro sai com os outros dois, vira-se e diz para a escrivinhadora: “A gente se vê no ônibus”.

Vão, meninos, vão ser gauche na vida, como conclamou a Carlos o poeta mineiro de Itabira.