Sem acento e com cedilha, Urçula é exemplo de perseverança

17 de junho de 2015 - 16:12

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Uma das 29 formandas da Faculdade de Educação de Crateús (Faec) que colou grau na noite da última sexta-feira, dia 12 de junho, foi aplaudida entusiástica e longamente. Ela não foi à mesa solene repleta de autoridades pegar seu diploma de Licenciatura em Ciências Biológicas. O reitor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), professor Jackson Sampaio, que presidiu a solenidade de colação de grau, e o prefeito de Crateús, Mauro Soares, foram até ela. Diagnosticada com atrofia muscular espinhal tipo 2 aos dois anos de idade, Urçula Lourema de Sousa – “sem acento e com cedilha”, esclarece logo – é cadeirante.

Moradora do município de Independência, distante cerca de 50 quilômetros de Crateús, ela apanhava todos os santos e pagãos dias de aula o ônibus que a Prefeitura disponibiliza para levar os estudantes para as faculdades da região. Urçula era a única aluna cadeirante da Faec.

Durante cinco anos, ela e sua mãe, Maria Dilourdes Sousa, pegavam o coletivo às 6h da tarde para uma viagem que deveria demorar no máximo 40 minutos. Mas devido às mas condições da estrada, o trajeto durava uma hora e elas chegavam à sede da Faec às 7h da noite, muito embora as aulas começassem às 6h30. Às 10h30 tomavam o ônibus de volta à Independência e chegavam em casa às 11h30.

Com um humor e uma vitalidade contagiantes, Urçula, de 23 anos, diz que ninguém acredita quando ela diz é tímida. Timidez que a faz ser relutante em ser professora. Por isso, em breve vai voltar a estudar. Desta vez para fazer concurso público. Por enquanto, está descansando, depois dos “cinco longos anos”, como ela mesma diz, durante os quais pegou duas pneumonias. “Minha imunidade é bem baixa”, diz.

Atrofia muscular espinhal é uma doença genética, ela explica, passada pela mãe. Desde bebê que não tinha equilíbrio. No Ceará, os médicos diziam que não havia nada errado com ela. Maria Dilourdes quis saber mais. Foi para o Hospital Sarah Kubistchek, em Brasília, onde deram o diagnóstico definitivo. Por volta dos 9 anos, desenvolveu escoliose.

A parte da biologia que Urçula mais gosta é a de animais e vai torcer para que surja um concurso de uma instituição que lhe permita trabalhar com eles, como o Ibama, por exemplo. Filha única, ela quer arranjar um emprego para poder ajudar sua mãe, “que está muito cansada”, como a filha reconhece.

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Indagada sobre quem é o rapaz da foto, que a acompanhou à colação de grau, no Auditório do IFCE, Urçula diz que é Eduardo Pereira Moura, aluno também de Ciências Biológicas da Faec. Não é nada de namoro. “É meu best friend”, diz e abre um sorriso que facil e rapidamente chega até a interlocutora do outro lado do telefone.

Parabéns, Urçula sem acento e com cedilha, por seu encantamento com a vida e com seu exemplo.

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