Pesquisador da Uece explica relação entre mudanças climáticas e crise hídrica

2 de setembro de 2016 - 16:23

 

No último texto da série de matérias relacionadas à crise hídrica no Ceará apresentamos os resultados da parceria entre Uece e Instituto Nacional do Semiárido (Insa).  O convênio, que deixa grandes contribuições para o Ceará, gerou pesquisas cujos resultados foram publicados em documento técnico do Instituto e artigos na Revista Brasileira de Meteorologia.

O documento técnico mostra resultados de simulações numéricas do clima presente e projeção para o clima futuro, de curto (2016 a 2035), médio (2046 a 2065) e longo prazo (2080 a 2099). As mudanças climáticas reveladas nos estudos possui ligação direta com a crise hídrica observada no Estado.

“Uma atmosfera mais quente é capaz de armazenar mais vapor d’água. Isso implica que as taxas de evaporação tendem a ficar maiores, produzindo um duplo efeito: de um lado, é preciso que mais água evapore para gerar nuvens e chuva, especialmente em regiões de déficit hídrico; do outro, especialmente em regiões mais úmidas, a maior presença de ‘matéria-prima’ (vapor d’água) leva à formação de chuvas mais intensas e tempestades mais severas”, explica o professor do curso de graduação em Física e do Mestrado Profissional em Climatologia e Aplicações nos Países da CPLP e África da Uece, Alexandre Araújo Costa.

Com o ciclo hidrológico alterado, a chuva é reduzida principalmente onde ela é escassa, a exemplo do Ceará, e as precipitações são aumentadas onde elas já são abundantes. Em análise feita na Uece foi comprovada a possibilidade do aumento da seca na região. “Nossos resultados sugerem nitidamente uma maior probabilidade de aumento de aridez no Nordeste brasileiro, especialmente motivada pela projeção de elevação dos índices de evapotranspiração potencial, com tendência inclusive de aceleração do processo de desertificação e expansão de territórios áridos”, revela o pesquisador.

De acordo com a Fundação de Meteorologia e Recursos Hídricos do Ceará (Funceme), de fevereiro a maio deste ano as chuvas ficaram 45,2% abaixo da média no período. O ano de 2016 está na lista dos 10 anos mais secos registrados no Estado desde 1951. Alexandre Araújo diz que, embora ainda seja prematuro atribuir essa sequência inteiramente às mudanças climáticas, é certo que pelo menos um aspecto dessa seca prolongada é atípico.

“Somente este ano o efeito dominante foi do fenômeno El Niño, sendo que nos anos anteriores prevaleceu um aquecimento anômalo do Atlântico Norte que, especula-se, pode até mesmo guardar relação com o acelerado degelo do Ártico e as mudanças na circulação oceânica e no transporte de calor naquela região, alterando o posicionamento da Zona de Convergência Intertropical, o mais importante sistema produtor de chuvas na região”.

Diante do cenário atual, podemos tirar algumas lições lembradas pelo docente, como a necessidade de um modelo de desenvolvimento adaptado ao semiárido e também a conscientização de que a água é um bem limitado. O Ceará está em um momento que se fazem obrigatórias ações não somente de indústrias e Governo, mas também de cada membro da sociedade, para que todos contribuam com a maior preservação desse bem tão valioso para a vida.

 

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