O professor que foi delegado e baleou o bandido

3 de julho de 2015 - 17:13


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Professor Eudório com dois de seus três filhos e duas de suas quatro netas, na solenidade no Cine-Teatro São Luis

Francisco Eudório Fernandes está em processo de aposentadoria compulsória do serviço público estadual. No último dia 9 de abril completou 70 anos. Agora não tem mais jeito. Vai ter que sair das salas de aula do Curso de Geografia da Universidade Estadual do Ceará (Uece), onde é professor desde 1982. Com um vigor e uma energia que chamam a atenção ao primeiro contato, ele colou grau de mestre na solenidade realizada quarta-feira, dia 1º de julho, pela mesma Universidade que marcou toda a sua vida.

Na solenidade de outorga de títulos acadêmicos da Uece no imponente Cine-Teatro São Luis, Eudório estava acompanhado dos filhos e netas e de sua mulher, Marta, com quem está casado há 42 anos. Não tiveram descendentes diretos do gênero feminino, o que o casal muito queria, mas ganharam cinco netas, de cada um dos três filhos, além de um neto, que leva o nome do avô.

O filho mais velho, Luís Flávio, de 41, é pai de Ana Luísa e de Ana Clara e de Luís Eudório. Mariana é filha de Pedro Eudório, de 38 anos, e Dimas, de 36 anos, é pai de Cecília e da Maria Clara.

O professor Eudório recebeu o título de mestre por ter defendido, em 2014, a dissertação “A gestão da segurança pública na Metrópole de Fortaleza: o bem estar dos residentes e turistas”, pelo programa de mestrado profissional em Gestão de Negócios Turísticos, oferecido em parceria pelo Centro de Ciências Aplicadas (CESA) e Centro de Ciências e Teconologia (CCT) e teve como orientadora a professora Maione Rocha.

O título de especialista ele conseguiu há 23 anos, quando fez curso lato sensu em Metodologia do Ensino Superior, também pela Uece. Em 1991, apresentou monografia intitulada “Segurança pública – uma ação integrada entre Polícia Militar, comunidade e Universidade”, sob orientação da professora Silene Barrocas Tavares.

A ênfase em segurança pública em seus trabalhos acadêmicos é resultado direto de outro curso que fez antes de entrar na Uece. Em 1964, foi aluno do Curso de Formação de Oficiais (CFO), da então Academia de Polícia Militar General Edgar Facó, o que o levou a ser instrutor da Academia. Ele aposentou-se da corporação como coronel.

Formado em Letras pela Uece em 1977, o professor Eudório entrou para o corpo docente da Universidade em 1982, ministrando aulas de Geografia e de História. “Naquela época, quem era formado em Letras estava habilitado para ensinar tudo”, explica. Ele é ainda formado em Direito, no mesmo ano, pela Universidade Fderal do Ceará (UFC).

Quando estava na Polícia Militar, foi servir no município de Pereiro, como delegado. Foi lá que protagonizou uma cena que poderia ter sido filmada por José Padilha – ou pelo rei do spaghetti western Sergio Leone. Trocou tiros com um bandido. Bala ele não levou nenhuma. Mas alojou uma nas pernas do seu bad and ugly opositor, deixando-o paralítico. Professor Eudório diz que o episódio ficou famoso em Pereiro.

Tão famoso que um aluno do Centro de Educação (Cenec) Ovídio Diógenes ouviu a história e não mais a esqueceu. Era o humorista Falcão, cuja tia era diretora da escola na época, Fátima Falcão. O passado do professor Eudório fez com que o humorista aceitasse o convite de participar de uma das aulas do ex-delegado. A assessoria de imprensa do artista confirma.

A fama do delegado que aleijou o marginal em Pereiro fez com que Falcão, a convite do professor Eudório, viesse até à Uece para conversar com os alunos do curso de Geografia. “Faz tempo isso. Deve ter sido em 2010”, diz.

Vinte anos depois de entrar para a Uece, o professor Eudório assumiu a titularidade da Pró-Reitoria de Políticas Estudantis, durante o período de 2002 a 2003, na gestão do reitor Manassés Fonteles.

No ano seguinte, foi nomeado prefeito do Campus do Itaperi, pelo então reitor Jáder Onofre de Moraes. Foi na sua gestão que a Uece sediou a reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em 2005.

Mas o professor Eudório não abandonou as salas de aula da Geografia enquanto esteve à frente da Prefeitura, de 2004 a 2008. Era administrador durante o dia e docente à noite, “Eu saía daqui só o bagaço”.

Em 2015, o professor Eudório sai daqui da Uece e da vida acadêmica com outro estado de espírito. “Foi muito suor e dedicação”. E titulação. “Quando estava próximo de atingir a idade limite da aposentadoria compulsória, vi que ia sair como especialista. Então, dois anos atrás parti para o mestrado pois quero me aposentar como mestre e o rendimento também é melhor”.

Como Gonzaguinha, ele diz que faria tudo outra vez, sim.  Agora vai dedicar-se à advocacia, cível e penal, e especialmente “fruir a vida”, com pede para enfatizar.

Parabéns, professor! E gracias! Gracias a la vida!