Noite de Festa Acadêmica e Popular na FAFIDAM da UECE

28 de novembro de 2016 - 18:49 #


Mestres da Cultura do Ceará receberam da Uece nesta sexta, em Limoeiro do Norte, o título de Notório Saber em Cultura Popular

O encontro entre a cultura acadêmica e a cultura popular. Em uma cerimônia marcada pela emoção e pelo reconhecimento de saberes e fazeres, todos os Mestres da Cultura do Ceará receberam na tarde da última sexta-feira, 25/11, em Limoeiro do Norte, durante o X Encontro Mestres do Mundo, o título de Notório Saber em Cultura Popular. Os títulos foram concedidos pela Universidade Estadual do Ceará (Uece) e entregues pelo reitor Jackson Sampaio, em uma sessão solene que contou com a participação do secretário da Cultura do Estado do Ceará, Fabiano dos Santos Piúba, co-responsável pela articulação Secult e Uece para esse novo reconhecimento aos mestres. Dos 35 integrantes do Conselho Universitário (Consu), 27 puderam comparecer a Limoeiro do Norte, marcando a segunda reunião do Consu/Uece no interior do Ceará, em 41 anos de história.

A emoção tomou conta dos mestres, reunidos no auditório da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (Fafidam/Uece), sem que pudessem esconder a ansiedade. um momento diferenciado e de grande simbologia, com a entrega pela primeira vez do Título de Notório Saber em Cultura Popular, concedido pela Uece, em articulação com a Secult, aos Mestres da Cultura cearense. Artistas, artesãos e sábios tão diversos quanto os mestres Aldenir e Zé Pio, do reisado; o mestre Bigode, do maneiro pau; o mestre Totonho, luthier de rabecas; e o mestre Doca, de reisado do Congo. Também Mestre Dina, vaqueira de Canindé; Maria do Horto, dos benditos de Juazeiro do Norte; Cacique Venâncio e Cacique Pequena (das tradições indígenas); o vaqueiro e aboiador, de Acopiara, Pedro Coelho; Dona Maria do Carmo, do Pastoril, de Paracuru.

Quando seu Getúlio Colares Pereira, mestre sineiro, tocou o sino tendo na outra mão o diploma que lhe fora entregue pelo reitor Jackson Sampaio, os mundos da universidade e da cultura popular se tornaram um só. Sob muitos aplausos, os participantes do Encontro Mestres do Mundo e os representantes de diversas instituições saudaram aquele gesto de forte poder simbólico e de concreta confirmação de reconhecimento, pela universidade, dos saberes produzidos fora dela, por cearenses de conhecimento tão importante quanto aquele produzido pelos acadêmicos.

Maria José Inácio, dona Maria do Horto, de Juazeiro do Norte, cantou seus benditos ao receber o título das mãos do reitor, enquanto mestre Aldenir, do reisado, do Crato, cantou um poema. Dona Dina, de Canindé, fez seu aboio citando o reitor Jackson e o secretário Fabiano dos Santos, já como mestra reconhecida tanto pelo Governo do Estado quanto pela Uece.

“Professores e professoras, doutores e doutoras, eu tô tão feliz nesse momento! Estou um pouco emocionada. A  gente trabalhou muito nessa vida, no sertão, no carrasco mesmo, como diz o ditado, se juntando com gado, com a natureza. Mas hoje estou muito feliz por eu estar aqui”, disse, compartilhando com o público sua emoção, para muitos aplausos.

Agradecimento em cordel

Lucia Cardoso, a Lucia Pequena, artesã de barro, de Limoeiro do Norte, também recebeu o diploma das mãos do reitor Jackson, enquanto o cordelista Luciano Carneiro de Lima, do Crato, falou em nome de todos os mestres homenageados pela Uece, lendo um cordel especialmente preparado para a ocasião: “Bigode, Mestre Aldenir, dos Anicetos Raimundo, Zulene, Mestre Cirilo, cada qual o mais profundo, encerro o cordel com eles, e dedico em nome deles a todos os mestres do mundo”.

Pioneirismo e coragem

Secretário da Cultura do Estado do Ceará, Fabiano dos Santos Piúba, parabenizou a todos e agradeceu ao reitor Jackson Sampaio e pelo Conselho Universitário da Uece pela coragem, ousadia e pelo pioneirismo, em aprovar por unanimidade o título de notório saber para os mestres da cultura. Cumprimentando os integrantes do Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio e todos os coordenadores da Secult, em nome do conselheiro de patrimônio, Alênio Carlos, o secretário também deixou clara a emoção do momento: “Meu coração dá pulos dentro de mim pelo dia de hoje. Essa universidade, esse lugar no mundo, esse dia. Nós todos que estamos aqui temos um sentido e um sentimento pra estar aqui”, disse, antes de citar um a um todos os mestres.

“Os senhores e as senhoras mestras são cultivadores dos vários conceitos de cultura: da cultura como arte, como civilização, como modo de vida na sociedade. Mas tem um conceito que pra nós é muito rico e valioso: a cultura como um saber fazer comum. Como um saber comunitário, solidário, como solidariedade”, destacou Fabiano, falando especialmente aos mestres. “Os senhores e as senhoras são guardiões e guardiãs de saberes e fazeres. De tempos e memórias, de naturezas e culturas. Mantêm vivos os saberes dos tempos e o tempo do futuro, que é o da transmissão desse saber comum”.

Dimensão prática do título

Fabiano dos Santos destacou que o título de Notório Saber em Cultura Popular tem, além das dimensões política, institucional e simbólica, uma dimensão prática, de permitir que os mestres venham a ser remunerados por espetáculos, debates, oficinas, aulas, apresentações, de acordo com os parâmetros de remuneração da universidade.

“A gente pode imaginar que é uma conquista somente dos mestres e mestras, mas não. É acima de tudo uma conquista da Universidade Estadual do Ceará, de abrir um precedente importante de reconhecer os saberes e fazeres tradicionais, que não são maiores nem menores que os conhecimentos que se produzem na universidade”, enfatizou o secretário da Cultura do Estado.

“Ao mesmo tempo em que vocês estão conquistando o título da Uece, a Uece está conquistando o s saberes e fazeres de vocês. E fazendo história na universidade brasileira”, acrescentou, frisando ainda que o título também servirá como mote para a qualificação e a ampliação das políticas da Secult voltadas para os mestres da cultura.

Transmissão dos saberes: Escolas com os Mestres

O secretário reforçou que essa ampliação se dará principalmente quanto a criar condições para garantir a transmissão dos saberes dos mestres. “Por isso estamos na construção das Escolas da Cultura, que tem como uma das modalidades as Escolas com os Mestres da Cultura, que vamos ter a partir do próximo ano, para que os mestres possam dar aulas-espetáculos, oficinas, rodas de saberes e memórias nas escolas da rede estadual do Ceará e também nas universidades.

Incentivo em tempos árduos

O reitor da Uece, Jackson Sampaio, destacou que a concessão do título de Notório Saber aos Mestres da Cultura é um novo incentivo a “levar adiante o barco da universidade”, mesmo em “mares revoltos e tempos de dificuldades”. “A cada momento que a gente pensa que está perdendo o ânimo, a força, acontecem situações que incentivam a ir em frente. Com certeza estaremos mais fortes e com mais alegria pra levar o barco da universidade, depois de um evento como esse, aqui em Limoeiro”, destacou.

O reitor agradeceu à Secult pela parceria neste momento de “criação de uma grande possibilidade da universidade reconhecer que existem saberes que são produzidos fora dela”. “Nesse sentido, estamos irmanados, estamos juntos. A cultura é um grande caldo, um grande vento, um grande areal, um grande mangue, um processo que nos une e nos faz criar . E criar de maneira solidária, de maneira a fazer com que as nossas dificuldades pessoais sejam superadas no ato da criação”, acrescentou, dirigindo-se aos mestres.

“Vocês compõem o outro lado desta mesa. A maioria veio com suas roupas que representam sua arte, seu ofício, como o som, a dança, o palhaço, inclusive com as lágrimas… Nós também estamos aqui utilizando nossas roupas cerimoniais, da origem da universidade, que como instituição tem mais de mil anos de existência. O dobro da idade do Brasil! E é dessa história, dessa instituição, que a gente traduz isso, mantendo a ideia da tradição, da continuidade, da formação”, contextualizou Jackson Sampaio.

Enfatizando que “o melhor mestre não é aquele que enfileira discípulos; é aquele que ajuda a criar novos mestres”, Jackson reforçou o papel desses artistas para a manutenção da memória social e da identidade de nosso povo, “para que a gente não fique enredado em enredos de novelas televisiva e perca a nossa identidade e com isso a nossa capacidade de luta”.

“Estamos celebrando hoje um grande encontro: o rito do encontro da cultura popular com a cultura acadêmica, e da cultura acadêmica com a cultura popular. Vamos ser felizes apesar das dificuldades, porque as dificuldades desafiam nossa capacidade de superá-las”.

Fonte: Assessoria de Imprensa da Secult 
Fotos: Divulgação/Secult/Felipe Abud