Modelo socialmente injusto, moralmente indefensável e ambientalmente insustentável

23 de novembro de 2012 - 19:46

 

Da esquerda para a direita: professores Janete Brunstein, Gemelle Oliveira Santos, vice-reitor, Hildebrando Soares, e Jacques Demajorovic

 

O terceiro palestrante da mesa-redonda sobre “Informação e Tecnologia para a Sustentabilidade: os desafios da universidade”, tema da XVII Semana Universitária,  foi o professor Gemmelle Oliveira Santos, do Instituto Federal do Ceará (IFCE).

 

“Por que motivo vamos discutir as questões relacionadas à sustentabilidade?”, perguntou o professor, para logo em seguida responder: “Porque historicamente temos produzido um modelo de (des)envolvimento que é socialmente injusto, moralmente indefensável e ambientalmente insustentável”.

 

É socialmente injusto, como explicou, porque apenas uma pequena parcela da população tem acesso aos benefícios desse modelo enquanto que a grande maioria amarga os prejuízos. O melhor exemplo disso, segundo ele, é o trabalho infantil e o trabalho escravo.

 

É moralmente indefensável porque consegue fazer a população acreditar que os bens que as empresas produzem são imprescindíveis à sua existência. O que tem levado a um consumo desenfreado de todos os tipos de mercadorias.

 

E é ambientalmente insustentável porque busca atender padrões de produção-consumo ‘infinitos’ a partir de uma base natural ‘finita’. Somente as três últimas décadas, por exemplo, consumiram 33% dos recursos naturais do planeta. Pelo atual padrão de consumo, seriam necessários cinco planetas para dar conta desta demanda. Mais um exemplo: 75% das zonas de pesca do planeta estão sendo exploradas ao máximo ou além da sua capacidade de suporte.

 

Uma equação muito simples, segundo ele, define sustentabilidade: a área de intersecção formada pelos atributos de três dimensões: justo na dimensão social, viável, na econômico-financeira e vivível, na ambiental, conforme o gráfico abaixo mostra.

 

 

Com sua voz mansa, o professor do IFCE vai jogando dados e perguntas para a plateia para causar impacto. O próximo questionamento é: como é que eles nos fizeram adotar esse sistema de forma tão entusiástica? “Foi intencional”, respondeu, através da obsolescência programada e perceptiva. Isso significa na prática manufaturando produtos para virar lixo e mudando a aparência das coisas.

 

Hoje vemos em um ano mais publicidade do que as pessoas viam em sua vida inteira há 50 anos. Esta publicidade diz que tudo na vida das pessoas está errado, do carro ao marido, da pele ao freezer, mas que tudo vai ficar bem se se trocar por um novo e mais moderno.

 

“Mas este sistema não está funcionando”, disse Gemelle. E a saída é simples: “precisamos nos livrar da antiga mentalidade de ‘usar e jogar fora´”.  Ele alerta, no entanto, que aparecerão aqueles que dirão que isso é idealista, mesmo irrealista. Mas irrealista, ensina o professor, é quem quer continuar pelo velho caminho.