Manifestação de Cidadã e Professora da UECE: posição da Reitoria

26 de agosto de 2013 - 12:01

Circula nas redes sociais um vídeo contendo violenta explosão de cólera de uma cidadã, expressa em linguagem considerada obscena, gravado no acampamento de manifestações políticas dos que defendem a integridade do Parque do Cocó e uma visão de cidade em desacordo com a dos defensores dos viadutos.

A circulação do vídeo possibilitou inúmeros comentários, por meio de conversas diretas, telefonemas ou e-mails, ao gabinete do Reitor e à Ouvidoria Geral da UECE. A natureza dos comentários, em grandeza escalar, é de um favorável para nove desfavoráveis. E todos solicitam pronunciamento da Reitoria, ora de solidariedade, ora de condenação.

Estranha-se essa demanda, pois não houve, por parte da cidadã, qualquer reclamação de identidade com a UECE, seja na fala, seja nas vestes. Em nenhum momento de seu discurso ofensivo a cidadã chama a identidade institucional em apoio às suas posições, menos ainda à sua forma de expressá-las. Mas, aqueles que a reconheceram como professora da UECE, exigem que a instituição se pronuncie.

A universidade pública, ao contratar um professor, utiliza a ferramenta do concurso público, impessoal e técnico, avaliando domínio de conhecimento sobre certo setor de estudo, sem destacar, favorável ou desfavoravelmente, sua visão de mundo e/ou seu estilo comportamental. O objetivo é não tornar os candidatos reféns de virtuais subjetivismos dos avaliadores.

A experiência da Ditadura Militar ensinou que não se pode, em tese, censurar ideias e a repreensão sempre começa questionando os comportamentos considerados inadequados pelo status quo. Porém, as opiniões dos professores continuam pessoais e intransferíveis, portanto passíveis de serem questionadas, acusadas e defendidas em acordo com os procedimentos do Estado de Direito. O Brasil dispõe, hoje, de um conjunto de dispositivos para o desagravo de quem se sente ferido por opiniões pessoais, de qualquer estilo.

A cidadã, professora de ensino superior público, é individualmente responsável por suas ideias e palavras, e não reivindicou, em nenhum momento, o amparo da identidade institucional. A Administração Superior da UECE, especificamente a gestão que lidero, não constrange o direito de opinião, mesmo que expressa de forma polêmica, ofensiva à moral da maioria, transparecendo violência simbólica profundamente questionável. Se a cidadã professora tivesse se amparado na identidade institucional, já estaria sofrendo o devido processo legal.

Vi o vídeo, consultei o Departamento de Pessoal e a Procuradoria Jurídica, e decidi chamar a cidadã professora para ouví-la pessoalmente, o que de imediato não ocorreu, pois foi difícil contatá-la: a mesma estava recolhida a lugar reservado, reportando grande tensão emocional. Ao final, a recebi na presença da Chefe de Gabinete, da Diretora de seu Centro de lotação, da Diretora do Departamento de Pessoal e da Ouvidora Geral da UECE, por coincidência todas mulheres.

A cidadã professora assumiu ser dela tanto a imagem como o discurso e declarou que a situação foi de violenta explosão de raiva, depois de mais de meia hora de fala, com fundamento e argumentações não divulgadas pelo vídeo, apenas o sendo a explosão final; que havia sido atingida ideológica, moral e fisicamente, quando chegara ao acampamento para ajudar os manifestantes a se defenderem da ação noturna de desalojamento; que a mudança do padrão argumentativo para a explosão de raiva ocorreu após perceber a gravação dirigida por alguém que destacava seu desempenho como o mais exaltado, passível de descontrole a qualquer momento; que ela conseguiu não cair no ardil por mais algum tempo, tendo-o feito após ter tido seu rosto banhado por spray de pimenta.

Informei sobre a necessidade política de uma ação da Reitoria, para que, no meio de situação agudamente emocional, polarizada, do debate entre construção do viaduto X preservação do parque, a universidade não tivesse sua imagem ferida. Também informei a compreensão do contexto, o reconhecimento de ser politicamente saudável a manifestação de ideias e princípios, mas a profunda discordância em relação ao estilo do discurso, sequer justificável pela raiva e pelo desespero, pois antipedagógico e antidemocrático, operando consequências obviamente adversas.

A cidadã professora agradeceu ter sido ouvida antes da manifestação pública da Reitoria; declarou sua oposição a que os indivíduos usem a identidade institucional para a proteção de suas posições pessoais;  declarou sua responsabilidade frente às consequências de suas ideias, palavras e atos; lamentou que a comunidade dos cidadãos a esteja julgando sem qualquer análise de contexto, gerador de atenuantes, e que, mais lamentável ainda, quem clama esteja julgando fora da situação objetiva, concreta, na qual ela e os demais manifestantes estavam envolvidos.

A Reitoria relata suas próprias ações e os argumentos que lhes serviram de respaldo, colocando-se à disposição de todos e todas para a análise destas ações e destes argumentos, incluindo-se a oportunidade e o conteúdo desta nota.

Prof. Dr. José Jackson Coelho Sampaio
Reitor da UECE