Estudo financiado pelo CNPq mostra sofrimento de parentes de dependentes químicos

4 de dezembro de 2013 - 13:05

Pesquisadores brasileiros divulgaram na terça-feira (3), o maior estudo mundial do perfil de família de dependente de drogas do Brasil e as dimensões dos transtornos psicológicos e físicos causados aos parentes mais próximos ao usuário. O estudo contou com o financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI).

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O Levantamento Nacional de Famílias dos Dependentes Químicos (Lenad Família) entrevistou 3.153 famílias de todas regiões do país, de junho de 2012 a julho de 2013. Coordenado pelo pesquisador Ronaldo Laranjeira, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (INPAD) – apoiado pelo CNPq -, o Lenad Família traz informações sobre as características sociodemográficas, percepção do problema e tempo para a busca por ajuda, impacto financeiro e psicológico da família e impressões sobre os tratamentos utilizados.

De acordo com Ronaldo Laranjeira, o conhecimento destas informações é de fundamental importância para o planejamento de tratamentos mais amplos e eficientes e de políticas de saúde pública com foco no amparo desta população.

Vulnerabilidade

A habilidade de trabalhar ou estudar foi afetada na metade das famílias que tem dependentes de substâncias em casa, mas também ter um parente nestas condições incomoda e atrapalha a vida social. Há também o relato de quase um terço que menciona roubo de pertences e empréstimos de objetos sem devolução e ameaças por parte dos parentes dependentes.

O Lenad Família identificou também que a família do dependente se apresenta em situação de vulnerabilidade e de riscos para o desenvolvimento de problemas de saúde. “O estudo mostrou que familiares de dependentes químicos apresentam significativamente mais sintomas físicos e psicológicos que a média da população. Observou-se também que as mães sofrem mais sintomas físicos e psicológicos decorrentes do uso de seus filhos que outros familiares, independente da substância que levou ao tratamento”, destaca o estudo.

O Lenad Família soma-se ao II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (II Lenad) recentemente divulgado pelo INPAD, que estimou que no país há 5,7% de brasileiros dependentes de álcool e/ou maconha e/ou cocaína, representando 8 milhões de pessoas e pelo menos 28 milhões de pessoas vivem no Brasil com um dependente químico.

Perfil da família

A pesquisa revelou que as mulheres (66%) são as responsáveis pelo tratamento do dependente de álcool e/ou de substâncias ilícitas, além de serem a maioria das entrevistadas (80%). Essas mulheres, de acordo com o estudo, sofrem forte impacto negativo e “têm uma sobrecarga de cuidar do filho dependente e ser responsável pelos cuidados da família”.

Grande parte dos pacientes em tratamento tinha entre 12 a 82 anos, com média de idade de 32 anos. Entre as substâncias usadas regularmente pelos pacientes, o Lenad levantou que a maioria era poliusuária de drogas, sendo mais da metade consumidores de maconha (68%), álcool (62%), cocaína (60,7%) e crack (42%).

Os familiares relataram que tinham conhecimento que o paciente consumia droga por um tempo médio de 9 anos e que a recusa por parte do dependente foi a principal razão na demora por iniciar o tratamento. Somente 30% dos familiares procuraram ajuda assim que tiveram o conhecimento sobre o uso de substâncias pelo paciente. Dos pacientes, quase um terço tinham ensino superior incompleto ou completo.

Impacto financeiro

O tratamento dos dependentes de substâncias no país é pago exclusivamente pelo próprio familiar e o uso de convênios foi citado em 9% dos casos. Este dispêndio, de acordo com os pesquisadores, afetou “muito ou drasticamente as finanças da família em quase metade dos casos entrevistados (45%)”. A internação foi citada com a mais positiva e eficiente (56%) entre os tipos de ajuda procurada e impressão da eficiência, seguida por grupos de mútua ajuda como Alcoólicos Anônimos, Narcóticos Anônimos e Amor Exigente, Alanon e Pastoral da Sobriedade

Saiba mais sobre o estudo.

Confira os resultados.