Ensaio sobre imagem das pessoas com deficiência em selos é premiado

11 de abril de 2014 - 14:24

“A imagem das pessoas com deficiência nos selos: um retrato (mal)formado?”. Este é título do trabalho dos professores José Alex Soares, da Faculdade de Educação de Itapipoca (FACEDI), e Francisca Geny Lustosa, da Universidade Federal do Ceará (UFC), que foi agraciado com Medalha de Prata na Ebora 2013 – XXIII Exposição Filatélica Nacional Bilateral Portugal-Bulgária e Exposição Filatélica Regional, realizada na cidade de Évora em Portugal.

A exposição aconteceu em setembro de 2013, no Palácio do Barrocal, e em março último os autores foram informados da premiação de seu trabalho conjunto, que consta do livro História e Filatelia: O Brasil nos selos portugueses e brasileiros, coordenador por Isabel Maria Freitas Valente e João Rui Pita, e publicado pelo Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, da Universidade de Coimbra.

O ensaio discute a temática da visibilidade social das pessoas com deficiência, com aporte na filatelia, ou seja, como os selos retrataram esses sujeitos e sua condição histórica. Os selos estudados foram emitidos em 1981, referentes ao Ano Internacional da Pessoa Deficiente, uma iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU).

“No período, grande número de selos foi emitido em busca de explicitar artisticamente o tema e apresentar à sociedade. Alguns países fizeram circular apenas um selo de propagação em território nacional; outros produziram séries, de quantitativos distintos, às vezes, complementados com blocos e carimbos ilustrados”, dizem os autores.

Segundo os professores, em sua maioria, foram retratadas pessoas com alguma deficiência nos membros superiores ou somente a mão (deficiência física), incluindo pintores sem mão, operários/trabalhadores realizando atividades laborais com mãos artificiais/mecânicas, órteses e próteses, como exemplos. Outros ícones, nessa categoria, foram cadeira de rodas e muletas utilizadas para assinalar a marca da deficiência, além do destaque ao paraesporte, em suas várias modalidades.

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Outras representações incluíram personalidades ilustres, nos mais diversos campos de atividades humanas, que tinham alguma deficiência, como o preseidente americano Franklin Roosevelt (pela poliomielite que adquiriu), os artistas Sarah Bernardt (amputada de um dos membros) e Henri Toulose-Lautrec (deficiente físico).

A surdez foi também tema de vários selos. Entre as personalidades retratadas figuraram, em grande escala, Beethoven (deficiência auditiva). A cegueira constituiu um dos temas de uma grande parte dos selos emitidos no período. “Nessa categoria de deficiência, percebemos, em particular, um significativo número de tiragens, retratando personalidades ilustres, como Louis Braille (cego, criador do alfabeto Braille), Helen Keller (surdocega, que fez curso universitário, escreveu livros e foi um exemplo para o mundo da possibilidade de superação das limitações sensoriais), Anne Sulivan Macy (cega, professora de Helen Keller), dentre outras personagens.

A deficiência intelectual, no entanto, revela o estudo, foi a representação de menor destaque, provavelmente, segundo avaliam os pesquisadores cearenses,pela dificuldade de materializar em uma ilustração e de dar concretude a uma deficiência de ordem intelectual/cognitiva.

Para atender a solicitação da ONU, o Brasil produziu um selo com a simbologia de uma flor caída entre outras duas. “Apesar da bela imagem artística em suas cores e vivacidade, no aspecto conceitual, a ilustração não retrata as pessoas com deficiência sob a dimensão positiva de suas possibilidades de atuação social ante suas singularidades, assinaladas pela marca da deficiência. A retratação traz à tona, provavelmente, mesmo sem se dar conta, a marca do preconceito, do estigma, da diferença como negatividade, quando o intuito propagado pela ONU era exatamente o oposto. Imagens como essa não colaboram para eliminar e/ou superar barreiras sociais”, concluem os pesquisadores.

Leia o trabalho na íntegra dos professores José Alex Soares e Francisca Geny Lustosa.