Dia do Professor – Mensagem da reitora da Uece aos novos docentes

15 de outubro de 2020 - 09:45 #

 

Aos meus mais novos colegas de profissão

Hoje, 15 de outubro, dia da professora e do professor, peço licença aos meus pares – professores e professoras da educação básica e superior – para me dirigir aos concludentes dos cursos de licenciatura da UECE com os quais tenho vivido a experiência inusitada, mesmo assim, grata de colação de grau remota.

Dirijo-me aos nossos novos colegas de profissão que portam, hoje, o título de licenciado expedido pela UECE, e com ele as marcas da nossa universidade no processo de desenvolvimento profissional e pessoal de cada um, para celebrarmos não só a conclusão de um tempo de vida e formação, mas sobretudo para reafirmarmos alguns compromissos:

A Universidade – a quem cabe a responsabilidade de conferir, certificar, conceder a licença que os autoriza para o exercício profissional do magistério – ao mesmo tempo que reconhece seus méritos e os limites que precisa transpor no cumprimento desta missão, se compromete em continuar agregando esforços e abraçando as lutas necessárias ao aprimoramento dos processos de formação inicial e continuada que oferece.

A Vocês, proponho o compromisso de se fazerem sempre acompanhados do encantamento, da alegria e do entusiasmo sentidos, agora, pela conclusão de um curso, para enfrentarmos, com igual vigor, batalhas já sentidas na pele e outras que se avizinham.

Falo da busca pelo primeiro emprego, em contexto de desemprego estrutural; do enfrentamento ao trabalho intermitente e outras tantas medidas de precarização do trabalho docente e dos demais trabalhadores; da luta por investimentos em educação, em tempos de congelamento e desvinculação dos recursos destinados aos serviços públicos e outras ameaças à sobrevivência e dignidade humana; das posturas autoritárias, intolerantes e preconceituosas com relação aos que divergem do padrão constituído.

Até aqui me referi às batalhas coletivas, mas desafios e compromissos outros nos aguardam:

Comecemos por reconhecer que o canudo, as vestes, o anel de formatura são símbolos criados pela nossa cultura para nos distinguir de outros, para atestar merecimento pelos feitos individuais, conferir saber e poder, mesmo que em diferentes graus, a quem os porta.

De certo, que estes símbolos dizem dos vossos, dos nossos méritos e feitos, mas dizem também da colaboração de muitos outros que partilharam dificuldades e empreenderam esforços na nossa formação. Se é fato, que o diploma e o anel dizem quem somos, o que sabemos e o que podemos, dizem apenas, em parte. A outra parte diz de outros, inclusive de anônimos. A outra parte está por vir, por se fazer, por ser refeita. E para tanto, será necessário admitirmos que somos sujeitos e profissionais – agora docentes – inconclusos, em formação, fruto de potência interior, das circunstâncias e das relações que travamos.

E se a formação há de ser permanente, o nosso desenvolvimento profissional exigirá, permanentemente, esforço, dedicação, disciplina. Se é fato que aprender exige consciência do inacabamento, curiosidade, desejo em continuar aprendendo e rigor, é fato também que a profissão que abraçamos nos exige outras tantas condições.

Aqui, recorro a Paulo Freire e sua obra Pedagogia da Autonomia para reafirmar que a docência exige “respeito ao outro; reflexão crítica sobre a realidade e sobre a própria prática; a corporeificação da palavra pelo exemplo; aceitação do novo, do diferente, e rejeição a toda forma de preconceito e discriminação; alegria e esperança, indignação e convicção de que a mudança é possível e necessária; disponibilidade para o diálogo, querer bem aos educandos e lutar as suas lutas”.

E aqui ouso acrescentar mais uma exigência a nós, profissionais da educação: o compromisso com o exercício profissional competente, honesto, ético – aquele que nos honra e edifica; que valoriza a categoria profissional docente a qual pertencemos, o curso e a instituição que nos formou; que oferece serviço qualificado ao povo cearense que financiou nossos estudos e que, em parcela expressiva, não teve e não tem assegurado o direito à educação.

Recorro ao 15 de outubro, ainda, para agradecer em meu nome da UECE – enquanto instituição que os formou e continua palco do desenvolvimento profissional dos que nela atuam – pelas inúmeras vezes que foi desafiada a continuar aprendendo, construindo, revendo concepções e posturas. Nossos sinceros agradecimentos pela participação e apoio estudantil às nossas lutas institucionais em defesa da educação e da universidade pública, patrimônio do povo cearense.

Despeço-me esperançosa de, nas próximas comemorações do 15 de outubro, possamos celebrar, desta vez com muita proximidade e calor humano, novos encontros em outros tempos e espaços de formação, de trabalho e de atuação política pela garantia dos direitos fundamentais e da democracia brasileira.