Conferência do ex-reitor Jackson Sampaio encerra XXVI Semana Universitária

29 de novembro de 2021 - 16:34 # # #

A 26ª edição da Semana Universitária da Uece foi encerrada na manhã da última sexta-feira (26/11), com conferência realizada pelo ex-reitor da instituição, professor Jackson Sampaio. Com o tema “Ó tempos! Ó costumes!: reflexões solidárias”, a conferência refletiu acerca de temas relacionados à pandemia da Covid-19, como trabalho, conhecimento e democracia. Na cerimônia virtual de encerramento, transmitida pelo YouTube, também foi destacado o sucesso da XXVI SU, que trouxe importantes debates contribuindo para a interiorização e internacionalização da universidade.

A coordenadora geral do evento e pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa (PROPGPq), professora Maria Lúcia Duarte Pereira, enalteceu os “cinco dias intensos de debates, discussão de ideias, apresentação de resultados de investigações e insights para novas investigações”, promovidos pela Semana Universitária. “Esta é a vida do pesquisador. Muitos dos que se dedicaram e se dedicam à Ciência, principalmente no Brasil, fizeram e fazem isso pelo prazer da pesquisa.

O reitor da UECE, professor Hidelbrando Soares, celebrou os resultados obtidos pela XXVI SU, parabenizando todos os envolvidos na organização do evento. Ele ainda enfatizou o compromisso da Uece em seguir com as atividades acadêmicas mesmo diante das dificuldades impostas pela pandemia de Covid-19.  “A universidade nunca parou. Assumiu de forma extremamente ousada o ensino remoto, passando por cima de todas as dificuldades ao assumir de uma hora para outra uma nova modalidade de ensino-aprendizagem. Nós aprendemos ao longo desses quase dois anos que a universidade tem condições, mesmo em crises como essa, de continuar fazendo aquilo que é a sua missão maior: ensino, pesquisa e extensão. A Semana Universitária e os seus números provam exatamente isso. Estamos com mais de sete mil inscritos em minicursos, dentro da Semana Universitária, mostrando a importância e destaque dos nossos pesquisadores, sejam eles professores ou estudantes da graduação e da pós-graduação da nossa instituição”.

O professor Hidelbrando também saudou o professor Jackson Sampaio, ex-reitor da Uece e conferencista da cerimônia de encerramento, e citou as palavras-chaves que marcaram a XXVI Semana Universitária, e também marcam a própria universidade: acessibilidade, inclusão social, interiorização e internacionalização. “Essas palavras são muito caras à nossa instituição e foram muito bem representadas nesse evento”, ressaltou. O reitor ainda se solidarizou com todas as pessoas que sofreram e ainda sofrem os efeitos da Covid-19, afirmando que “o caminho a ser trilhado neste momento nos demanda ainda prudência e solidariedade”.

Representando o secretário Inácio Arruda, o secretário executivo de Planejamento e Gestão Interna da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Ceará (Secitece), Carlos Décimo de Souza, registrou sua alegria em participar da abertura e encerramento da Semana Universitária e parabenizou a organização pelo êxito alcançado com o número de inscritos. “Isso significa a pujança da Universidade Estadual do Ceará e sua integração com a comunidade universitária, professores, alunos e estudantes”, pontuou. O secretário executivo também agradeceu a contribuição da Uece para a quinta edição da Feira do Conhecimento Digital, que havia recebido, até o momento da cerimônia, 10.748 inscritos.

Para o secretário, a Feira do Conhecimento e a Semana Universitária da Uece são centrais para a reafirmação da ciência, educação e inovação para o desenvolvimento econômico brasileiro e do Estado do Ceará. “É preciso alçar o nosso Estado e o nosso país a um novo patamar civilizatório e de desenvolvimento, contra as teses negacionistas que infelicitam nossa nação. É preciso fortalecer a sociedade do conhecimento baseado na ciência e na educação, e é isso que Uece e nossas universidades irmãs fazem, como a UVA e URCA. Fico emocionado quando a ciência, a tecnologia e o ensino estão interligados com a arte. Só a sensibilidade de um homem que nasceu no sertão de Canindé para fazer essa integração”, destacou Carlos Décimo, em referência ao reitor da Uece, professor Hidelbrando Soares.

Conferência

Durante a cerimônia de encerramento da XXVI Semana Universitária, o ex-reitor da Uece, professor Jackson Sampaio, realizou conferência com o tema “Ó tempos! Ó costumes!: reflexões solidárias”, em que refletiu sobre o contexto político e social da pandemia de Covid-9.

“Nós não temos condições de imaginar a pandemia sem imaginar o tipo de país que construímos nesses últimos 500 anos; nem o tipo de estado, o tipo de sociedade, o tipo de política. É preciso que as reflexões sejam capazes de integrar, de dialogar com a complexidade, mas sejam também capazes de serem solidárias com os princípios democráticos e com os processos de inclusão social, de tanta desigualdade, que em algumas circunstâncias formam verdadeiras produções de uma iniquidade extrema”, considerou.

Para o debate, o professor Jackson trouxe a articulação sobre dois níveis – individual e coletivo -, ressaltando que não é possível imaginar os direitos individuais sem os coletivos. “É uma dicotomia errada, falsa. Do mesmo jeito que não é possível imaginar a memória sem o esquecimento e o esquecimento sem a memória”, esclareceu.

Sobre memória, o professor Jackson citou exemplo pessoal e lembrou sua trajetória na Uece e sua experiência na gestão acadêmica, iniciada com a criação e coordenação do Mestrado de Saúde Pública, que gestou o início do programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. O ex-reitor participou ainda na criação dos cursos de Medicina, Biologia e Terapia Ocupacional. Sobre a Semana Universitária, Jackson Sampaio lembrou que apresentou e desenvolveu projeto quando assumiu a Pró-Reitoria de Pós-Graduação, em 1996, na gestão do reitor Manassés Fonteles. “Agora participo deste novo salto, dessa internacionalização da semana, dessa oferta virtual, digital e eletrônica – todas essas palavras de um código novo de comunicação que está se abrindo para nossa possibilidade de existir no mundo”.

Na conferência, o professor fez uma análise crítica da atual situação política e sanitária do Brasil, a partir do uso de palavras geradoras de sentido – vírus, trabalho, alienação, ideologia, conhecimento e democracia.

Jackson destacou a necessidade de refletir sobre o novo coronavírus e o que foi feito ou deixado de fazer em políticas de saúde pública, dentro das circunstâncias específicas do Brasil.  Segundo ele, há estudos que apostam na existência de 400 a 800 bilhões de vírus ainda não conhecidos, com alta e baixa capacidade de contágio. Conforme Jackson, patogenicidade, letalidade e mutabilidade são questões que devem permear o debate da Covid-19 e a humanidade ainda terá de conviver com o vírus por um tempo indeterminado, apesar dos novos aparatos técnicos.

O docente refletiu sobre o trabalho como geração de cidadania e subjetividade – sobretudo o trabalho na saúde – e ainda sobre o trabalho em geral – tão prejudicado durante a pandemia. Jackson falou ainda sobre valor de uso e valor de troca, uma vez que o trabalho gera produtos que tenham valor de uso, ou seja, servem alguma necessidade concreta e abstrata do ser humano, e tenham um valor de troca, um preço no mercado. “Essas duas coisas numa sociedade capitalista vão constituir o conceito de valor”, definiu. Para ele, no capitalismo financeiro com o crescimento da comunicação remota, em tempo real, há uma nova realidade do trabalho baseada na fragmentação e na invisibilidade do produto.

O professor Jackson conceituou ainda a díade alienação e ideologia, conceituando alienação “como elemento formidável e fantástico da experiência humana, produto da nossa capacidade de simbolizar e abstrair, mas também tem possibilidade de nos alienar; e ideologia como forma de construir conceitos e ideias, sistemas de crença, de valores, falsa consciência ou consciência crítica”.

Ao expor sobre conhecimento e democracia, Jackson Sampaio ressaltou que o conhecimento avança para além da opinião, da sensação, da percepção da opinião e da representação social. “Já democracia é o conhecimento na política, a generosidade na política. É a compreensão das desigualdades e autorização da participação de todos; que o forte não domine o fraco e que o mesmo mais fraco possa ter direito à representação e voz na lógica da construção das decisões políticas que vão gerenciar a sociedade e a economia”.

Conforme o ex-reitor, o conhecimento pode ser descritivo, explicativo, crítico, teórico, prático epráxico (de práxis, quando articula o teórico e abstrato). Já os modos de produção de conhecimento podem se classificar em popular, religioso, arte, filosofia e ciência. O professor conceituou ainda os tipos de democracia (representativa, delegativa, participativa e corporativa), lembrando que no Brasil, em seus 521 anos de existência, a democracia é muito pequena, com 56 anos de história. “São 20 anos entre a queda de Vargas e o Golpe Militar de 1964 e 35-36 anos entre a queda da Ditadura militar e a atualidade”. Para Jackson, a democracia brasileira é “pequena, truncada e frustra, criou um presidencialismo de coalizão, gerencia o estado burocrático-autoritário, que às vezes sobrevive independente da figura do presidente ou dos ministros”.

O ex-reitor Jackson Sampaio concluiu a conferência ressaltando que a universidade é o lugar das reflexões que permitem criticar o seu ambiente e o seu entorno, fazendo uso da democracia e autonomia. “A Uece tem demonstrado uma grande capacidade de resiliência e criação, uma grande criatividade para sair das dificuldades e se tornar um símbolo de uma universidade pública, social, popular do trabalhador e inclusiva. Felizes nós que estamos fazendo este momento de encerramento da XXVI Semana Universitária da Uece. Essa universidade que, como disse o reitor no início, é um patrimônio do povo cearense”.

Também participaram da cerimônia, por meio do canal da Uece no YouTube, o chefe de gabinete da reitoria, professor Altemar da Costa Muniz; os médicos sanitaristas José do Vale Pinheiro Feitosa e Tereza Maria Piccinini Feitosa; a pró-reitora de Graduação (Prograd) professora Maria José Camelo Maciel (Mazza); a pró-reitora de Políticas Estudantis (Prae), professora Mônica Duarte Cavaignac; a pró-reitora de Extensão (Proex), professora Maria Anezilany Gomes do Nascimento; o pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento Institucional (Proplan) e vice-diretor do Centro de Estudos Sociais Aplicados (Cesa), professor Paolo Giuseppe Lima de Araújo; o pró-reitor de Administração (Proad), economista Fernando Antônio Alves dos Santos; além de diretores e vice-diretores de centros e faculdades dos campi da Uece.

A cerimônia de encerramento da XXVI Semana Universitária está disponível na íntegra no canal da Uece no YouTube.