Conclusões do III Encontro Internacional de Reitores Universia

30 de julho de 2014 - 11:57

O III Encontro Internacional de Reitores Universia reuniu nesta segunda (28) e terça-feira (29) mais de 1.100 universidades de 31 países no Rio de Janeiro para discutir o futuro da Educação Superior e a universidade do século XXI. Temas como a internacionalização da universidade e a importância da tecnologia no ensino superior foram discutidos pelos participantes. Veja a seguir quais foram as conclusões do encontro:

Internacionalização da universidade

A internacionalização e os desafios provenientes desse fator foram um dos temas discutidos no encontro. O programa Ciência sem Fronteiras, iniciativa de mobilidade acadêmica, foi apontado como um dos programas pioneiros na discussão. “Foi um tsunami nas nossas universidades. Estávamos despreparados. Começamos a nos reunir para identificar os problemas que impedem com que os processos de internacionalização ocorram de uma forma mais efetiva”, comentou Targino de Araújo, reitor da UFSCar.

Para Daniel Peña, reitor da Universidade Carlos III Madrid, “todas as boas universidades são internacionais e a qualidade acadêmica só se dá por meio da internacionalização. O reitor também defende que para isso é preciso incorporar cada vez mais a língua inglesa nas universidades.

“A internacionalização é a chance de fazer coisas melhores”, comentou o reitor da Universidade de Oxford, Andrew Hamilton. Ele afirmou que o corpo docente da instituição conta com 14% dos professores vindos de fora do Reino Unido.

Tecnologia

Se você pensa que a sala de aula ainda é lugar para desligar o celular, talvez seja uma boa ideia refletir sobre isso novamente. É o que dizem reitores como Raúl Aníbal, da Universidad Nacional de la Plata (UNLP). Para ele, a tecnologia obriga uma universidade a mudar sua forma de ensinar.

Mas afinal, a tecnologia veio para ficar? A reitora da PUC-Campinas, Angela de Mendonça Engelbrecht, acredita que Mobile Learning e educação baseada em jogos são conceitos passageiros. A reitora afirma que “as relações de ensino/aprendizagem são dinâmicas, ou seja, não vão durar eternamente. Vão passar e darão lugar a outros que nem imaginamos”.

Universidade x alunos x educação

“Hoje, prioriza-se o lucro e não a educação.” É o que pensa Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor da Unicesumar. Para ele, “a concorrência está cada vez mais profissional e menos educacional. As instituições universitárias que continuarem no modelo tradicional de gestão e de ensino não sobreviveram”. Como é possível, portanto, atender às necessidades dos alunos e melhorar a educação?

A reitora da PUC-Campinas acredita que “não há fórmulas definidas para satisfazer o aluno”. “A correspondência entre expectativas do estudante e o que as universidades oferecem para suprir esse anseio vem se tornando cada vez mais complexa.”, explicou. Por isso, este debate é de grande importância para que as universidades desempenhem papel de formadoras de profissionais para os estudantes.

Estruturas universitárias

A estrutura das Instituições de Ensino Superior frente a necessidade dos alunos também foi pauta do III Encontro Internacional de Reitores Universia. Para o Vice-Reitor do Unicesumar, Wilson de Matos Silva, é necessário que se entenda de educação para definir políticas universitárias, ou seja, “ter experiência prática, ou seja, ter vivido todas as etapas e níveis”, afirmou.

O reitor da Universidade de Heidelberg, Bernhard Eitel, falou também sobre a importância de ensinar Direitos Humanos e temas afins nas universidades a fim de que elas se tornem globais. “Temos que nos responsabilizar pelos Direitos Humanos, pela justiça e pelo ar que respiramos”, disse.

Postura dos professores

Uma melhoria no Ensino Superior também passa, inevitavelmente, pelas mãos dos professores. Sobre a postura dos docentes, o presidente do Conselho de Estudantes na Espanha (CREUP), Luis Cereijo, pediu que “professores, por favor, acreditem nos seus estudantes. Deixem que eles liderem projetos nas suas universidades. Todos dependem das universidades”, a fim de melhorar a relação entre alunos e mestres.

Para o  Reitor da Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM), José Narro, para ser um bom mestre é necessário ter paixão não só pela profissão, mas também pelos estudantes. “Um professor de verdade é aquele que tem amor pelos seus estudantes seja no presente ou no futuro”, afirmou.

A partir das questões levantadas nos debates, foram definidas questões chave para definir um plano de atuação. Veja quais foram os pontos considerados relevantes e documentados na Carta RIO 2014:

1. A consolidação do Espaço Ibero-americano do Conhecimento (EIC)

Essa consolidação requer novos, maiores e mais incisivos compromissos em âmbitos como mobilidade universitária, equivalência e transferência de créditos, comparabilidade da estrutura de cursos e reconhecimento dos diplomas ou credenciamento das instituições de ensino.

2. A responsabilidade social e ambiental da universidade

A universidade deve ter como objetivo de servir insubstituível instrumento em prol de inclusão social, bem estar, desenvolvimento, criatividade, transmissão de valores, transformação social e igualdade de oportunidades e proteção do meio ambiente.

3. A melhoria da informação sobre as universidades ibero-americanas

Uma informação ampla e rigorosa sobre cada instituição e os diversos sistemas nacionais em seu conjunto significa transparência, eficácia, equidade e governabilidade. O objetivo é divulgar as características próprias das instituições, suas atividades e programas de interesse para estudantes, empregadores e, portanto, também para governos e para a própria sociedade civil.

4. A atenção às novas expectativas dos estudantes

As atitudes, aptidões, perfis, competências e modos de comunicação das novas gerações de estudantes evoluem rapidamente, trazendo numerosos desafios às universidades. Deve-se, portanto, flexibilizar os planos de estudo para promover a mobilidade estudantil, reduzir o abandono prematuro dos estudos, assegurar a colaboração com os empregadores e facilitar a participação em experiências e conhecimentos profissionais.

5. A formação continuada dos professores e o fortalecimento dos recursos docentes

Ainda existem problemas na estruturação do corpo acadêmico, na proporção de professores doutores e na disponibilidade de recursos suficientes para o ensino, a infraestrutura e os equipamentos para o ensino de qualidade. Corrigir estes aspectos deve ser prioridade para as universidades ibero-americanas.

6. A garantia de qualidade do ensino e sua adequação às necessidades sociais

O Estado deve garantir sua profissionalidade, bem como o respaldo institucional e o respeito pela sua autonomia e adequado financiamento.

7. A melhoria da qualidade da pesquisa, a transferência de seus resultados e a inovação.

As universidades constituem a principal fonte de geração da ciência de qualidade nas sociedades ibero-americanas. Para dar um salto adiante em pesquisa e no seu impacto, na transferência de resultados e na inovação, as universidades enfrentam desafios de primeira magnitude.

8. A ampliação da internacionalização e das iniciativas de mobilidade

A mobilidade, resultado e motor da internacionalização, requer um compromisso adicional para que sejam removidos os obstáculos financeiros, administrativos e acadêmicos existentes.

9. A utilização plena das tecnologias digitais

As tecnologias digitais estão provocando uma mudança marcantes no cenário educacional presente, ao mesmo tempo que geram profundas transformações e inovações. As universidades devem estar preparadas para essas mudanças.

10. A adaptação a novos esquemas de organização, governo e financiamento

Essa adaptação é uma condição indispensável para um funcionamento eficaz das universidades ibero-americanas e um elemento fundamental para sua autonomia, independência e liberdade.

Confira, na íntegra, o plano de atuação registrado na Carta Universia RIO 2014 de acordo com essas questões chave:

1. Sistema de Reconhecimento de Estudos e Títulos, como peça imprescindível para o desenvolvimento do Espaço Ibero-americano do Conhecimento, e com o objetivo de harmonizar os mecanismos e normas de equivalência de estudos e cursos.

2. Programas de Responsabilidade Social (Cooperação Social e Voluntariado Universitário) a serem desenvolvidos pelas universidades, com visibilidade no Universia, para alavancar ações sociais em colaboração com as administrações públicas, as empresas e os demais agentes sociais e fortalecer o compromisso social da comunidade universitária.

3. Projetos de Desenvolvimento Local Sustentável, baseados em programas para estimular e reforçar o desenvolvimento sustentável do ambiente local e regional, vinculados a ações de fomento do empreendedorismo e da inovação baseada em conhecimento, nascidos da colaboração entre universidades e empresas, com apoio das administrações públicas e demais agentes sociais.

4. Sistema de Informação da Educação Superior na Ibero-América, como integrador dos sistemas nacionais ou de associações e redes universitárias existentes, com o objetivo de compilar e analisar dados e indicadores-chave das universidades e oferecer informação sobre os mesmos.

5. Programas transnacionais de excelência acadêmica, desenvolvidos mediante ações formativas interuniversitárias de reconhecida excelência acadêmica, tanto de graduação como de pós-graduação, realizadas por redes universitárias transnacionais, com apoio na mobilidade e em tecnologias digitais.

6. Programas de práticas profissionais e de empreendedorismo para estudantes, a serem desenvolvidos pelas universidades em colaboração com governos, empresas e instituições, visando promover a formação prática, a capacidade empreendedora e a experiência no mundo do trabalho, tanto em administrações públicas como privadas, com particular ênfase em pequenas e médias empresas.

7. Iniciativa Ibero-americana de formação do magistério, visando fortalecer a formação inicial e continuada dos docentes, a sua mobilidade, a atualização em metodologias didáticas e a disponibilidade de recursos educacionais abertos, contando com o apoio de espaços promovidos pela Universia.

8. Projeto “Ibero-América Investiga” para a formação de doutores e pesquisadores, baseado na colaboração entre universidades, empresas e administrações públicas, para robustecer a capacidade de pesquisa da região ibero-americana através, por um lado, da formação de investigadores e doutores em setores estratégicos, para o desenvolvimento de atividades em ambientes criativos ou produtivos; e, por outro, para dar visibilidade e difundir seus resultados em meio aberto.

9. Programa Ibero-americano de mobilidade universitária, que integre e impulsione as diversas ações de internacionalização e mobilidade acadêmica, tanto física como virtual, com o fortalecimento de unidades de internacionalização das universidades criadas para o fomento da cooperação interuniversitária.

10. Espaço digital ibero-americano, para reforçar a cooperação interuniversitária no desenvolvimento e uso cooperativo das novas tecnologias, cursos, conteúdos, métodos e programas abertos, MOOC, a partir dos recursos e suporte que proporcionam a disponibilidade, trajetória, enraizamento e conquistas da rede Universia.

11. Planos de uso compartilhado de grandes instalações e equipamentos para a ampliação e o uso racional das infraestruturas e dos recursos acadêmicos e de investigação da região, a partir de um mapa das grandes instalações e da sua gestão.

Compromisso assumido pelas instituições participantes

Ainda segundo o documento, as universidades participantes no encontro comprometem-se a divulgar suas reflexões e dar conhecimento das propostas da Carta a todos os governos e administrações públicas, associações empresariais e atores sociais com os quais desejem compartilhar a responsabilidade da execução do plano.

Fonte: Universia Brasil

Veja a Carta Universia Rio 2014 na íntegra

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