Colegiado do curso de Educação Física publica carta sobre importância da atividade física durante a pandemia

13 de abril de 2021 - 09:36 # # #

Posicionamento do colegiado do curso de Educação Física da Universidade Estadual do Ceará (UECE) sobre a importância da atividade física para a promoção de saúde, prevenção e tratamento de doenças durante a pandemia da covid-19.

Fortaleza, 12 de abril de 2021.

 

Uma matéria do Jornal O Globo do dia 19.03.21 destacava a fala do cientista Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede Análise COVID-19: “Sem restrições de mobilidade podemos chegar a 4 mil mortes diárias”. No dia 22.03.21, em outra matéria do Jornal O Globo, o professor catedrático da Universidade de Duke (EUA), Miguel Nicolelis afirmou: “Se não forem implementadas medidas restritivas imediatamente, o Brasil deve alcançar a marca de 500 mil mortes em julho”.

Infelizmente, no dia 08.04.21 o Brasil bateu recorde com 4.249 mortes registradas em 24 horas devido a pandemia da COVID-19. Definitivamente, vivemos um paradoxo: a atividade física é essencial para a vida, mas hoje o contato entre as pessoas pode elevar o contágio pelo vírus SARS-CoV-2, gerando consequências severas para toda a população.

A luta pela sobrevivência é inerente à natureza humana. Ao nascer, o choro tem como função adaptar a respiração e todos os outros sistemas fisiológicos do bebê para o ambiente externo, possibilitando a continuidade da vida. O choro também é considerado a primeira forma de comunicação humana. E desde o nascimento, nos primeiros momentos de vida extrauterina, o bebê também é capaz de se movimentar. Assim, a tríade ‘luta pela sobrevivência, comunicação e movimento’ constitui a razão de viver dos seres humanos. Nascemos com essas necessidades e as cultivamos ao longo de toda nossa existência.

Em busca dessa sobrevivência, com a grande capacidade de comunicar-se e movimentar-se, o ser humano organizou-se em sociedade, aperfeiçoou métodos de investigação e, através das ciências, desenvolveu a medicina e a tecnologia com o propósito de melhorar a qualidade e o tempo de vida da humanidade. Hoje, de uma maneira geral, vivemos mais e, possivelmente, melhor do que nossos ancestrais.

O termo sociedade sugere “coletividade”, “agrupamento de seres que convivem em estado gregário e em colaboração mútua”, “associação com outros”. Ao longo da história da humanidade, desenvolvemos esferas de organização, baseadas na economia, política,

cultura, entre outras. Isso ocorreu, de acordo com alguns filósofos, porque o homem sempre teve consciência da própria morte e essas esferas organizacionais em sociedade possibilitaram o melhor desenvolvimento da vida. Somos, o tempo todo, uma sociedade em constante busca por melhores caminhos para nossas vidas. O homem, ainda hoje, continua a busca por sua imortalidade.

Dentro deste contexto social, com a prerrogativa de auxiliar o melhor desenvolvimento das sociedades, surge a Universidade no século XI. Com a expansão das Universidades pelo mundo foi possível a disseminação do pensamento reflexivo, crítico e construtivo. É através da Universidade que podemos gerar conhecimento e inovação para facilitar o meio de vida das populações.

Assim, fundamentado nos três pilares ensino, pesquisa, extensão, o Colegiado do Curso de Educação Física da Universidade Estadual do Ceará (UECE) vem, por meio desta carta aberta, contribuir com nossa sociedade neste momento tão difícil que todos os brasileiros estão vivendo.

O momento é de muita insegurança quanto à nossa sobrevivência humana, bem como da economia em nosso país. A pandemia do coronavírus, que provoca a doença denominada COVID-19, tem causado inúmeros transtornos sociais e econômicos, e exige reflexões que precisam ser realizadas com base em conhecimentos desenvolvidos por estudiosos, pesquisadores, normalmente, com formação nas Universidades.

Como professores universitários temos compromisso com nossos alunos da graduação, em orientá-los sobre o que é o mais adequado neste momento tão difícil. Baseados em pesquisas científicas de qualidade, sendo a grande maioria desenvolvida em Universidades, temos também que apontar os melhores caminhos neste cenário tão árido. E, principalmente, temos que disponibilizar à sociedade informações estratégicas, que visem o cuidado e o desenvolvimento social neste período de pandemia. Ainda não menos importante, devemos fomentar discussões que levem em conta os saberes desenvolvidos nas Universidades, de modo a garantir direitos e respeito das pessoas de nossa comunidade.

Vivemos hoje o paradoxo da relação entre atividade física e saúde. Paradoxo porque a vida necessita do movimento, mas o “movimento” auxilia na propagação do vírus. Se por um lado o propagado isolamento domiciliar vem ao encontro da necessidade de se evitar a disseminação da doença, por outro surge a questão da paralisação de boa parte dos setores produtivo e de serviços, envolvendo desde pequenos negociantes e informais até empresários consolidados. Este é um cenário de calamidade, seja pela corrosão econômica sofrida, seja pelo agravamento dos problemas de saúde. Estes últimos são, consequentemente, resultantes do colapso do sistema de saúde, que não consegue atender toda a demanda da sociedade. Hoje, no Brasil, assistimos ao caos instalado, com altos índices de mortalidade e morbidade decorrentes da pandemia, constantemente alimentados por dificuldades de leitos e insumos hospitalares, bem como pela exaustão das equipes de saúde.

É longa a lista de consequências que a infecção viral pode ocasionar nos indivíduos infectados, como: problemas respiratórios agudos e crônicos, doenças cardiovasculares, acidentes vasculares encefálicos, complicações neurológicas, lesões no fígado, problemas dermatológicos, entre outras complicações importantes, principalmente em pessoas com mais de 55 anos de idade e pessoas com morbidades preexistentes. Além destas sequelas, a pandemia da COVID-19 também trouxe uma série de doenças para as pessoas que estão em isolamento e não foram infectadas.

É fato que o isolamento social rígido impõe às pessoas menor possibilidade de movimentação, e com isso todas as consequências que a inatividade física pode causar na vida humana. A inatividade física tem sido apontada também como uma outra pandemia, despontando como a quarta principal causa de morte em todo o mundo. Ou seja, vivemos um paradoxo, onde o isolamento social é necessário para conter o avanço do contágio da SARS-CoV-2, mas esse mesmo isolamento impõe a toda sociedade o aumento do comportamento sedentário. Isso, de acordo com a literatura científica, coloca as pessoas em maior risco de desenvolvimento de doenças neuropsiquiátricas como a depressão e a demência, doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, alguns tipos de câncer, problemas ósseo/articulares/musculares, obesidade, dislipidemias, distúrbios do sono, declínio cognitivo, além de impactar sobremaneira toda a população que já possui algum problema de saúde e precisa se exercitar para minimizar os problemas de saúde já pré-existentes.

Regiões do país com níveis crescentes de inatividade física são uma grande preocupação para a saúde pública e para prevenção e controle de doenças. Essas informações mostram a necessidade de que todos os estados da federação brasileira aumentem a prioridade dada às ações para fornecer condições que estimulem a atividade física e aumentem as oportunidades para pessoas de todas as idades de serem ativas todos os dias. Estima-se que 5 milhões de vidas poderiam ser salvas por ano, no mundo, devido à prática de exercícios físicos regulares, sem contar aquelas que melhoram sua qualidade de vida e o controle de doenças pré- existentes. Além disso, várias pesquisas importantes têm chamado atenção sobre os efeitos do confinamento devido a COVID-19 e o aumento dos problemas de saúde. A médio e longo prazo isso será mais percebido ainda por toda a sociedade.

A imposição à sociedade de um isolamento social para conter a crise sanitária deve ser acompanhada de iniciativas para minimizar outros impactos que esse isolamento ocasiona. O combate à inatividade física, ao comportamento sedentário, deve ser uma responsabilidade de todos os entes do Estado. Mesmo em distanciamento social, os indivíduos de todas as idades e com doenças já diagnosticadas devem ser estimulados a se exercitar.

Assim, considerando que a prática regular e orientada de exercícios físicos tem importante impacto na promoção da saúde, bem como na prevenção, tratamento e recuperação dos principais agravos de doenças crônico-degenerativos; considerando que o exercício físico é um campo de intervenção direta do Profissional de Educação Física, regulamentado pela Lei no 9696/1998; considerando que o campo de atuação do Profissional de Educação Física não se restringe às academias de ginástica, de crossfit, de dança, mas também abrange clínicas, hospitais, domicílios, clubes, hotéis, resorts, praças, praias, parques, entre outros, com grande possibilidade de intervenção individualizada; considerando a necessidade de reconhecer a atuação do Profissionais de Educação Física como condição sine qua non para parte da população que precisa desses serviços para melhorar a autonomia e a qualidade de vida; considerando que os casos de COVID-19 entre pessoas de 30 a 59 anos cresceram mais de seis vezes em 2021; considerando que o percentual de pessoas jovens e adultas abaixo de 60 anos, mortas devido a COVID-19, cresceu de forma considerável no mês de março, representando atualmente 3 em cada 10 mortes no Brasil; o Colegiado do Curso de Educação Física da UECE faz as seguintes observações e recomendações para nossa sociedade neste momento da pandemia de COVID-19:

1. A atividade física é essencial para a saúde humana e deve ser realizada por toda a população, de crianças a idosos, por indivíduos com ou sem qualquer problema de saúde;

2. A atividade física e o exercício físico auxiliam na prevenção e no tratamento de doenças crônicas, e podem auxiliar na recuperação de pacientes pós-COVID que evoluíram com limitações físicas;

3. Os adultos mais velhos e populações especiais (que vivem com deficiência e/ou doença crônica que pode limitar a mobilidade e/ou a resistência física), podem se beneficiar da prática de um estilo de vida mais ativo fisicamente, geralmente aumentando o número de movimentos diários, mesmo em casa;

4. A Atividade da Vida Diária (AVD) é um termo usado para descrever as habilidades fundamentais que são necessárias para cuidar de si mesmo de forma independente, tais como comer, tomar banho e se locomover. A AVD é usada como um indicador do status funcional de uma pessoa. A incapacidade de realizar AVD resulta na dependência de outros indivíduos e/ou dispositivos mecânicos. A incapacidade de realizar atividades essenciais da vida diária pode levar a condições inseguras e baixa qualidade de vida. A hospitalização devido a uma doença aguda ou crônica, como a COVID-19, pode influenciar a capacidade de uma pessoa de atingir seus objetivos pessoais e manter uma vida independente. As doenças crônicas também progridem com o tempo, resultando em um declínio físico que pode levar à perda da capacidade de realizar AVD. Nestas situações, um programa regular de atividade física pode minimizar os danos sofridos por indivíduos durante a pandemia;

5. A atividade física regular está associada a taxas reduzidas de mortalidade por todas as causas, doenças cardiovasculares, hipertensão, acidente vascular cerebral, síndrome metabólica, diabetes tipo 2, câncer de mama e cólon, depressão e quedas;

6. Os principais benefícios com as práticas regulares de atividades físicas são: desenvolvimento psicossocial e pessoal, menor consumo de álcool, aumento do gasto calórico e com isso menor desenvolvimento de sobrepeso e obesidade, prevenção ou alívio de doenças mentais, aumento da força e do equilíbrio, modulação do sistema imune, com benefícios na resposta do organismo ativo fisicamente às doenças virais como a COVID-19, entre vários outros benefícios;

7. Os exercícios físicos devem ser orientados por profissionais de Educação Física, com registro profissional nos Conselhos Regionais de Educação Física (Resolução CONFEF 46/2002);

8. Preferencialmente, neste momento de pandemia, para pessoas com boa capacidade funcional e que busquem saúde, os exercícios devem ser orientados de maneira virtual, sem contato pessoal;

9. Caso haja necessidade de acompanhamento presencial profissional, recomendamos que a prática seja individualizada, respeitando a legislação vigente, adotando todos os protocolos sanitários importantes para evitar o contágio, como: uso de máscaras apropriadamente, aferição prévia da temperatura corporal, uso de álcool 70% (de preferência em gel) para limpeza das mãos e higienização dos aparelhos, distanciamento físico de pelo menos 1,5 metro, testagem rotineira;

10. Em caso de práticas corporais em locais com maior fluxo de pessoas, aconselhamos redobrar os cuidados descritos no item 9.

Estas recomendações visam a conscientização e a proteção da população. Destacam o papel da atividade física para a saúde, bem como a importância do acompanhamento pelo profissional de Educação Física no sentido de minimizar os danos que esta terrível doença tem causado a milhares de famílias brasileiras. Acreditamos também que somente após a vacinação de toda a população, única medida eficaz contra os agravos da exposição ao vírus, a prática coletiva de exercício físico poderá voltar ao padrão ao qual estávamos acostumados, anterior ao surgimento da pandemia.

Além desses cuidados formulados, é particularmente importante, durante este período, evitar a automedicação, evitar estímulos que possam viciar (álcool, cigarros, outros), ter bom plano alimentar, seguir todas as regras sanitárias adequadas para evitar o contágio, não repassar informações falsas em qualquer hipótese, buscar sempre o bem-estar e o contato virtual com amigos e familiares para conversar coisas positivas sempre que possível.

Somente juntos poderemos minimizar o impacto do vírus em nossas vidas!

SUBSCREVE ESTA CARTA OS PROFESSORES DO COLEGIADO DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARA (UECE).

Prof. Dr. Adriano César Carneiro Loureiro

Prof. Dr. André Accioly Nogueira Machado

Prof. Dr. Antônio Ricardo Catunda de Oliveira

Prof. Dr. Ariclécio Cunha de Oliveira

Prof. Dr. Bruno Andrade Cardi

Prof. Dr. Evandro Nascimento da Silva

Prof. Dr. Heraldo Simões Ferreira

Profa. Dra. Jaina Bezerra de Aguiar

Profa. Dra. Jardenia Chaves Domeneguetti

Prof. Dr. José Airton de Freitas Pontes Junior

Profa. Dra. Luilma Albuquerque Gurgel

Profa. Dra. Paula Matias Soares

Prof. Dr. Wellington Gomes Feitosa

Profa. Me. Ana Luisa Batista Santos

Profa. Me. Daniele Vasconcelos Fernandes Vieira

Profa. Me. Giselly dos Santos Holanda de Oliveira

Profa. Me. Kristiane Mesquita Barros Franchi

Prof. Me. Paulo Gabriel Lima da Rocha

Profa. Me. Vanessa da Silva Lima

Profa. Esp. Jeania Lima Oliveira

Prof. Esp. Marcelo Soldon Braga