Cenas do pingo do meio-dia

5 de julho de 2013 - 16:03

 O nome dela não é Francisca e nem é de Assis. Nascida em Fortaleza, há 26 anos, morou muito tempo com a família em Baturité onde tinham 13 cachorros e 11 gatos. Morando em um apartamento na capital, não pode ter animais de estimação.

“Assim que tiver minha casa, vou ter gato e cachorro”, diz Sacha Almeida, estudante de Química da UECE, sentada no chão do corredor que leva ao Restaurante Universitário para colocar delicada e amorosamente uma coleira contra Leishmaniose em Mel.

“Mas adotados e não comprados”, complementa de imediato sua frase. Na verdade, muito mais além que uma simples frase. Um posicionamento, uma questão pela qual luta porque acredita. E também sem preconceito quanto à raça dos felinos e caninos que adotará quando tiver um canto para chamar de seu.

Ao seu lado, outro cachorro dorme o sono profundo que somente quem se sente seguro e protegido de qualquer perigo consegue dormir.

Protegida contra o Mal de Calazar, Mel sai. O colo e as mãos livres de Sacha são logo ocupados por uma gatinha – mas pode ser um gatinho – querendo colo e atenção. De novo, Sacha esparrama seu amor sobre a felina, que é mirradinha.

Sacha faz parte do Grupo de Apoio ao Bem-Estar Animal (GABA), que reúne alunos e professores da UECE. A coleira em Mel é uma das vinte que o GABA recebeu de doação em um evento.

Sacha vai se formar no final deste ano. Logo no primeiro vestibular especial da UECE em 2014, ela vai tentar uma vaga na Faculdade de Veterinária.

Contrastando com a dureza do sol do meio-dia e da brutalidade tão enraigada nos bípedes que habitam este pedaço de terra a três degraus abaixo do Equador, a doçura do cuidar e do proteger, em uma cena quase invisível, no frescor calmante da sombra. 

Obrigada, Sacha.