Aluno egresso da Uece se destaca em mestrado belga por experiência em Iniciação Científica

30 de dezembro de 2020 - 18:00

 

A Universidade Estadual do Ceará (Uece) forma seus alunos não apenas para uma profissão. Ela forma cidadãos críticos, pesquisadores, pensadores, capazes de contribuir com o crescimento de uma sociedade. Uma das oportunidades que a Uece oferece para uma boa formação são os programas de Iniciação Científica, que permitem ao estudante adquirir maiores conhecimentos voltados para o desenvolvimento de pesquisas baseadas na ciência.

É com esse conhecimento em Iniciação Científica que o estudante egresso do curso de Ciências Biológicas da Uece, Matheus Fontenelle, conquista seu espaço e se destaca na Universidade Libre de Bruxelles (ULB), na Bélgica, onde realiza curso Master em “Biologie des Organismes et Ecologie”.

Matheus iniciou sua trajetória acadêmica na Uece em 2014, quando ingressou na graduação e no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PIBIC/CNPq).

O Programa tem, entre outros, os objetivos de despertar vocação científica e incentivar novos talentos entre estudantes de graduação; contribuir para a formação de recursos humanos para a pesquisa; proporcionar ao bolsista a aprendizagem de técnicas e métodos de pesquisa, bem como estimular o desenvolvimento do pensar científico e da criatividade, decorrentes das condições criadas pelo confronto direto com os problemas de pesquisa; e ampliar o acesso e a integração do estudante à cultura científica.

Sob orientação do professor de Biologia da Uece, Yves Quinet, Matheus foi bolsista no Laboratório de Entomologia: Unidade de Mirmecologia (LabEnt/Uece), onde muito aprendeu. “Foi uma experiência singular em todos os sentidos. Eu diria que existiu um Matheus pré-IC [Iniciação Científica] e hoje um Matheus pós-IC. As vivências e experiências que tive naquele laboratório carregarei comigo para sempre no meu percurso acadêmico e pessoal”, revela Matheus.

Com a bolsa de Iniciação Científica, o estudante despertou cada vez mais seu interesse pela área que estuda formigas, participando, por exemplo, de edições do Simpósio de Mirmecologia, o maior evento da área no Brasil, o que favoreceu, ainda, sua aproximação com outros pesquisadores. Matheus seguiu realizando cursos complementares na área de interesse, participou de outros eventos, produziu pesquisas e publicou artigos.

De acordo com seu orientador na Uece, professor Yves Quinet, Matheus teve várias oportunidades, mas não teria sido possível se ele não tivesse desenvolvido certas características. “Matheus teve a oportunidade de participar, ao longo de seis anos, de diversos tipos de projetos desenvolvidos no meu laboratório e ligados à ecologia e etologia (…), mas também nada teria sido possível sem os traços fundamentais da personalidade de Matheus: mente sempre curiosa, vontade de aprender, paixão pelos insetos sociais, independência e uma forte dose de autoditatismo”.

Com essas qualidades, o estudante aproveitou bastante seu período como bolsista de IC. “Essa formação possibilitou ao Matheus vivenciar de perto e praticar todos os aspectos dessa atividade tão particular chamada “pesquisa”: montagem e execução de projetos, elaboração de protocolos experimentais, busca das informações, análise e discussão de resultados, redação científica, etc. Adquiriu também habilidades e know how na prática experimental tanto de laboratório como de campo, bem como uma sólida formação teórica em vários dos temas associados ao estudo dos insetos sociais. Também se formou em todos os procedimentos necessários para cuidar das coleções de formigas do laboratório (manutenção, montagem, etiquetagem, organização etc.)”, conta professor Yves.

Toda essa experiência fez com que Matheus desejasse ir além. Foi quando, no final de sua graduação, em 2019, buscou o mestrado em Biologia dos Organismos e Ecologia, em Bruxelas, onde uma das principais linhas de pesquisa do curso é etologia dos insetos sociais, ou seja, o comportamento social de insetos como a formiga.

Matheus foi aprovado para o curso, arrumou as malas e partiu em busca de mais conhecimento. Lá ganhou destaque por sua noção e experiência em pesquisas, por já saber em que pretende se aprofundar e por tudo que aprendeu com o PIBIC. “Não é evidente para muitos, mas não são todos os países que possuem algo do gênero, por exemplo, aqui na Bélgica na ULB, eu conto nos dedos os colegas do mestrado que já possuíram algum contato direto com a pesquisa, que tenham já em mente o que querem fazer como projeto de dissertação, etc”, conta o mestrando.

O professor do curso Master da ULB, Jean-Christophe de Biseau, comenta que Matheus apresentou interessante dossiê em mais de um aspecto, que sua formação de seis anos em programa de Iniciação Científica o proporciona vantagem sobre os demais alunos em termos de preparação para a pesquisa. “Programme de qualité qui n’existe pas en Belgique” (“Um programa de qualidade que não existe na Bélgica”), acrescenta o docente se referindo aos programas de IC brasileiros.

Jean-Christophe destaca ainda que o egresso da Uece vem conquistando seu espaço. Por causa do conhecimento adquirido no LabEnt/Uece, no gerenciamento de coleções de insetos, Matheus foi inserido em programa institucional para atuar no Musée de Zoologie et d’Anthropologie de l’ULB. “Matheus sera d’une aide précieuse comme étudiant jobiste dans notre musée de zoologie” (“Matheus será de grande ajuda como estudante contratado [via programa que permite remunerar alunos por meio de contratos temporários] em nosso museu de zoologia”), informa Jean-Christophe.

Para o mestrando, a experiência está sendo enriquecedora, inclusive, no treinamento da língua francesa. “Também sempre gostei muito de estudar línguas estrangeiras e o fato de estar em uma universidade francófona é uma experiência única na vida, é sempre muito gratificante. (…) No último dia 17 foi o meu primeiro dia de trabalho no Museu de Zoologia da ULB, vou ter uma tremenda experiência como curador de uma importante coleção de insetos, acho que essa talvez seja uma das minhas principais conquistas no momento e, com certeza, da vida! Em alguns meses começarei a tocar o meu projeto de mestrado, mas em paralelo, o trabalho no museu vai seguir como um complemento na minha formação”.

Matheus faz, ainda, uma significativa observação. “Perceber que estou fazendo o caminho inverso ao do meu orientador, Yves Quinet, me enche de disposição e coragem, além de estar estudando em sua alma mater e no seu país. Ele saiu da Bélgica para o Brasil e eu saí do Brasil para a Bélgica. Esses ciclos são muito importantes na vida de um pesquisador e acredito que estou fazendo o possível com o que está ao meu alcance”.

Segundo professor Yves, seu orientando é uma amostra da formação de qualidade que a Uece proporciona. “Apesar de todas as dificuldades enfrentadas pelas universidades públicas no Brasil, e pela Uece em particular, os Cursos e as pessoas que formam esses Cursos, e nesse caso mais específico, o Curso de Ciências Biológicas, são capazes criar as condições adequadas para uma formação de qualidade dos alunos”, finaliza o docente.

Para saber mais sobre os Programas de Iniciação Científica oferecidos na Uece, acesse www.uece.br/propgpq