Aluno da FAFIDAM tem trabalho sobre Covid-19 publicado em revista internacional

8 de maio de 2021 - 12:17 # # # # #

O aluno de graduação do curso de licenciatura em Química da FAFIDAM, Matheus Nunes da Rocha, teve trabalho sobre uso de um composto natural extraído de frutas cítricas no combate à zika e à Covid-19 divulgado na revista Journal of Computational Biophysics and Chemistry, em abril último. O estudo foi desenvolvido com a colaboração das professoras Daniela Ribeiro Alves (Química-CCT), Márcia Machado Marinho (FECLI) e Selene Maia de Morais (Química-CCT), sob coordenação do professor Emmanuel Silva Marinho, coordenador do grupo de Química Teórica e Eletroquímica (GQTE/FAFIDAM).

Segundo o professor Emmanuel Marinho, três polos da UECE – FECLI, CCT e FAFIDAM – se uniram para buscar alternativas de combate à Covid-19 – doença que resultou na pandemia que, desde o ano passado, vem levando a milhões de mortes e de infecções em todo o mundo – e à febre zika, doença negligenciada transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. A pesquisa consiste em usar o composto tangeritina, encontrado na casca de frutas cítricas, em maior quantidade, na tangerina. O estudo concluiu que a substância atua como agente terapêutico no tratamento e no combate ao coronavírus e ao zika vírus.

O professor Emmanuel Marinho explica que o projeto se encontra na primeira etapa. Os pesquisadores elaboraram simulações teóricas e ainda não iniciaram as fases em laboratório. “Pegamos uma estrutura que já conhecíamos, a tangeritina, e fizemos toda a pesquisa em processo computacional; nada foi feito ainda em bancada de laboratório. Sabemos que muitas pessoas usam chás para combater gripes e, a partir do conhecimento popular, buscamos bases bibliográficas e encontramos referências que indicam a tangeritina como potencial antiviral, já comprovado cientificamente. Importante ressaltar que esse trabalho é a primeira etapa da pesquisa, e a tangeritina deverá ser testada in vitro. Essa primeira fase computacional ajuda no desenvolvimento mais rápido da pesquisa, não sendo necessário testar em animais nessa fase inicial”, detalha o professor Emmanuel.

Com início há um ano aproximadamente, o projeto é intitulado Virtual Screening of Citrus Flavonoid Tangeretin: A Promising Pharmacological Tool for the Treatment and Prevention of Zika fever and COVID-19. O estudo destaca que é de grande importância para a indústria farmacêutica encontrar substâncias terapêuticas extraídas de fontes naturais e abundantes, obtidas com baixo custo e apresentando potencial antiviral para o tratamento do vírus da zika e do coronavírus.

O autor da publicação, o estudante de licenciatura em Química da FAFIDAM, Matheus Nunes da Rocha, compartilha a satisfação de estar representando a Universidade Estadual do Ceará na pesquisa, sobretudo em um momento tão adverso como o da pandemia da Covid-19. O estudante explica que, inicialmente, os estudiosos pesquisaram grupos moleculares de fontes naturais que possuíam atividade contra doenças respiratórias, no caso os flavonoides cítricos. A equipe constatou que a tangeretina está em fase de investigação e possui atividade contra as SRV (síndromes respiratórias virais) e pode ser isolada da casca da tangerina.

A partir daí, os pesquisadores otimizaram a estrutura molecular a nível quântico, para obter uma geometria de energia mínima para interagir com a proteína da replicação do coronavírus, a Mpro SARS-CoV-2. Matheus explica que a simulação é um docking (ancoragem) molecular, que leva em consideração as interações eletrostáticas da molécula com os sítios ativos da proteína do vírus.

“A simulação mostrou que existe a possibilidade de se consumir a tangeretina simultaneamente com o medicamento Baricitinib, pois elas interagem com a proteína do vírus em sítios diferentes. Esse é um resultado promissor, porque ambas as substâncias não resultariam em hepatite medicamentosa se consumidas simultaneamente, ao contrário do consumo simultâneo da azitromicina e ivermectina”, esclarece o estudante. Ele acrescenta que a substância é facilmente absorvida no intestino e só é tóxica em altas dosagens, o que permite o controle da dose sem resultar em toxicidade.

Zika vírus

Matheus explica que as interações da tangeretina com a proteína do zika vírus mostraram que a substância também é um forte inibidor do vírus. Enquanto o tratamento contra a Covid-19 prevê o uso suplementar do Baricitinib, medicamento indicado para o tratamento da artrite reumatoide, as simulações indicam que a tangeretina pode ser consumida isoladamente para o tratamento da zika.

O artigo completo dos pesquisadores está disponível em: https://www.worldscientific.com/doi/abs/10.1142/S2737416521500137

Outros estudos

O professor Emmanuel Marinho cita, ainda, a contribuição da UECE em outras três pesquisas desenvolvidas no combate à Covid-19, também publicadas em revistas internacionais. Em mais um trabalho envolvendo a FECLI, a FAFIDAM e o CCT, foi investigado o potencial da curcumina (substância extraída da raiz da cúrcuma) no tratamento contra a doença. O artigo intitulado Virtual Screening of Natural Curcumins and Related Compounds Against SARS-CoV-2 foi publicado no Journal of Computational Biophysics and Chemistry e pode ser acessado em https://www.worldscientific.com/doi/10.1142/S2737416521500046.

Ainda de acordo com o professor Emmanuel Marinho, em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC), pesquisadores da UECE desenvolveram o estudo Virtual screening based on molecular docking of possible inhibitors of Covid-19 main protease, que investigou o potencial da hidroxicloroquina Contra a covid-19. O projeto foi publicado na revista Elsevier e está disponível em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32619669/.

O pesquisador menciona ainda uma parceria envolvendo UECE, UFC, Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), Universidade Regional do Cariri (URCA) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em que a equipe está sintetizando novas moléculas com potencial para coibir a Covid-19. Também publicado na Elsevier, trata-se do estudo In silico study of the potential interactions of 40-acetamidechalcones with protein targets in SARS-CoV-2. O artigo pode ser acessado em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33387885/.