800 anos de Língua Portuguesa

27 de junho de 2014 - 18:37

São oito séculos da Língua Portuguesa comemorados nesta sexta-feira, dia 27 de junho de 2014. São 800 longos anos que nos distanciam da mesma data, em 1214, quando foi escrito o Testamento de D. Afonso II.

De acordo com o professor do curso de Letras da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Claudio Barbosa, o Testamento do terceiro rei de Portugal foi considerado o mais antigo documento régio em língua portuguesa porque, além de ser escrito em Português, desmembrando-se do galego, é um documento oficial, com a data comprovada, daí sua escolha como certidão de nascimento da língua.

Contudo, como diz o também professor de Letras da UECE, Alberto Vitor Cintra, apesar de ter sido esse o documento que marca a data, existiram outros antes mesmo de 1214, como por exemplo, a Notícia de Fiadores, de 1175, ou mesmo a Escritura de Doação da Igreja de Lordosa”, de 882.

Os Estados-membros Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, que formam a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), realizam, desde 5 de maio até 10 de julho, eventos que homenageiam a nossa Língua.

Na UECE, o curso de Letras – Português é oferecido nos campi Fátima (Centro de Humanidades – CH), Iguatu (Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu – FECLI), Limoeiro do Norte (Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos – FAFIDAM) e Quixadá (Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central – FECLESC).

Quanto aos cursos de pós-graduação Lato Sensu, o CH oferece o “Ensino de Língua Portuguesa” e o Centro de Educação (CED), no Campus do Itaperi, “Língua Portuguesa e Literatura Brasileira”. 

Em pós-graduação Stricto Sensu, a UECE possui o Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada, também no CH.

Língua Portuguesa
Olavo Bilac

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…

Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

em que da voz materna ouvi: “meu filho!”,
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
 

 
Minha Língua
Caetano Veloso

Gosto de sentir minha língua roçar
A língua de Luís de Camões
Gosto de ser e estar
E quero me dedicar
A criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior
E deixa os portugais morrerem à míngua
“Minha pátria é minha língua”
Fala mangueira!
Fala!
Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas
Vamos na velô de dicção chao chao de Carmem Miranda
E que Chico Buarque de Holanda nos resgate
E, xeque-mate, explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da Tevê Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Flor de Lácio Sambódromo
Lusamérica Latim em pó
O que quer
O que pode
Esta língua?

Minha Pátria é a Língua Portuguesa
Fernando Pessoa (Livro do Desassossego)

Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, a ortografia sem ípsilon, como o escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.

Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.