25 de julho – Dia do Escritor

25 de julho de 2014 - 16:02

“Dia bonito pra chover” é o título de um livro de ensaios de uma das mentes mais brilhantes do Ceará, o jornalista e professor Gilmar de Carvalho, um dos mais profícuos autores cearenses, com ênfase em cultura popular e literatura de cordel. Almas refinadas são nada afeitas a lugares comuns e convenções, o que lhes confere uma irreverência wildeana e as fazem ir na contra-mão de clichês, como “era uma bela manhã de sol…” Quem conhece a secura da terra esturricada reconhece a belezura da chuva.

No final da tarde de quinta-feira, dia 24 de julho, começou-se a desenhar um ocaso bonito pra chover. E choveu. O bambuzal no Campus do Itaperi celebrou a beleza dançando. Muito embora bambu seja antônimo de carvalho, Clarice Lispector juntou-se à Gilmar. “Posso ser vento ou ventania; depende de como você me vê”.

Naquelas exatas horas do dia, o Dom Quixote das caatingas era aplaudido em seu caminho entre o Palácio das Princesas e a Morada da Paz. Um senhor de 87 anos, paraibano de nascença e pernambucano de bem querença, fez com que ensaístas e cordelistas, auxiliares de serviços gerais e a fina flor do teatro, intelectuais (o que quer que isso signifique) e torcedores tricolores; enfim, fez um país ir dormir triste como um peixe afogado na quarta-feira, dia 23.

Perder de 7 para a Alemanha em 45 minutos foi fácil. Difícil é perder de 3 para Caetana em seis dias. O Brasil perdeu em seis dias três mortais – João Ubaldo, Rubem Alves e Ariano Suassuna, sem contar Ivan Junqueira no início de julho – que se tornaram imortais por seu ofício: escrever.

Sexta-feira,  25 de julho. Comemora-se o Dia do Escritor. Não carece de ser letrado para ser escritor. Não é preciso ser arrecursado para ser escritor.

Nasce-se escritor ou um escritor é forjado nos gritos da alma? Besteira. Tanto faz. Isso é pergunta da mente. E a mente às vezes mente, como ensina Manezim do Cacodé, com seu sorriso de menino malino. Somos mesmo é passarinho – como Ariano Suassuna se referia a seus personagens queridos.

O melhor de ser escritor é sair de si. E sair do outro. É perder-se para se achar. É ir para lugar nenhum. É ir para algum lugar no éter, como chamava outro Manoel, de Recife, o Bandeira. É quando se lança luz sobre os escuros recônditos da alma, parafraseando Bachelard.

É ofício (pode-se também dizer missão) de quem encontra o céu na terra quando senta e respira vida nas páginas brancas. Porque sua arte é a palavra; seu instrumento a caneta, o toco do lápis, a tela; seu veículo, o coração.