ARTIGO: “Muito Mais que um Banco”, de Diego Pautasso, publicado no dia 31 de agosto.

31 de agosto de 2015 - 18:48

31 de agosto, 2015

 

 

 

A seguir, artigo de Diego Pautasso, intitulado “Muito Mais que um Banco”, publicado no jornal O Povo do dia 31 de agosto.

 

 

 

Pode acessado também através do link < http://www.opovo.com.br/app/opovo/mundo/2015/08/31/noticiasjornalmundo,3496877/muito-mais-que-um-banco.shtml>

 

 

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Muito Mais que um Banco

 

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O Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (Asian Infrastructure Investment Bank – AIIB) é muito mais que um banco. É, sem sombra de dúvida, parte do renascimento da Ásia oriental cujo centro volta a ser a China, depois do “século de humilhações” que se estendeu da Guerra do Ópio à Revolução Chinesa (1839-1949). Isso porque o AIIB é parte de uma ampla iniciativa chinesa para redefinir a arquitetura financeira global.

Tal importância deve-se ao fato de que um dos pilares da hegemonia dos EUA constituiu-se exatamente a partir do sistema de Bretton Woods: dólar, BIRD e FMI, além dos bancos regionais de fomento, como BID, BAD, etc.

Ter assumido a condição de maior PIB mundial em poder de paridade de compra em 2014 é a base de sua crescente capacidade financeira. Essa capacidade chinesa tem se manifestado: nas suas reservas internacionais de cerca de 4 trilhões de dólares; na importância global de seus bancos, considerando que em 2004 não havia nenhum entre os 10 maiores do mundo e em 2013 já tinha o primeiro (Industrial and Commercial Bank of China), o segundo (China Construction Bank), o sétimo (Bank of China) e o nono (Agricultural Bank of China); e na participação ativa da criação e fortalecimento de bancos de desenvolvimento, como o China Development Bank(CBD-1994), o China-Africa Development Bank(CAD Fund-2007), o Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS (NBD-2014) e agora o AIIB.

A criação oficial do AIIB se deu em outubro de 2014, projetado para ter, inicialmente, um capital social de 100 bilhões de dólares, sendo metade alocada pela China. É um banco de desenvolvimento multilateral tendo como foco o desenvolvimento de infraestrutura e de outros setores produtivos da Ásia, complementando e cooperando com os bancos multilaterais de desenvolvimento já existentes. Até o final de outubro de 2014, 22 países asiáticos assinaram um memorando de entendimento para estabelecer o AIIB, tendo Pequim como sede e Jin Liqun como seu primeiro secretário-geral interino.

Embora tenha sido uma iniciativa voltada para região, como sugere o nome do banco, sua composição inicial contou com 57 membros fundadores, incluindo aliados dos EUA na Ásia (Coreia do Sul, Tailândia e Filipinas), na Europa (França, Inglaterra, Itália, Alemanha, Luxemburgo e Espanha), na Oceania (Austrália) e no Oriente Médio (Egito, Turquia, Arábia Saudita e Catar). O fato é que a iniciativa ganhou uma importância muito maior e demonstrou a reduzida capacidade dos EUA de dissuadirem seus aliados. À época, o secretário do Tesouro dos EUA, Lawrence Summers, reconheceu que a China poderia abalar a hegemonia econômica dos EUA.

Apesar de a maturação dessas iniciativas chinesas e seus desdobramentos serem incertos, o fato é que as obras em infraestrutura na Ásia tendem a aprofundar a integração da economia da região, projetar a liderança regional (e global) da China e fortalecer novos sistemas de governança na economia mundial. O objetivo é integrar a Eurásia, recriando uma nova rota da seda, cujas diretrizes já foram expostas pelo presidente Xi Jinping, no Fórum Boao para a Ásia, em março de 2015.

Em suma, a integração da Eurásia, por seus mecanismos político-diplomáticos (Organização para a Cooperação de Xangai) e econômico-infraestruturais, está a redefinir a ordem mundial e recolocar desafios à superpotência global (EUA). O caso do AIIB e das demais instituições financeiras criadas pelo governo chinês sinaliza sua assertividade, bem como a compreensão de que o financiamento é uma ferramenta crucial para alavancar a internacionalização de suas empresas, criar mecanismos de concertação política e projetar seu poder regional e globalmente. Mais do que isso: são concepções de Estado, de desenvolvimento e de governança global que estão em conflito. Enquanto os EUA focam prioritariamente em elementos táticos e operacionais de cunho militar, o mundo segue a multipolarização e a emergência de novos polos de poder. E certamente o AIIB só pode ser compreendido como parte do renascimento da Ásia, da ascensão chinesa e da multipolarização em curso, do qual sua nova arquitetura geoeconômica e financeira é uma das facetas mais evidentes.

Diego Pautasso é Professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing e colaborador do Observatório das Nacionalidades.