Lançamento do livro “À beira do abismo: uma sociologia política do bolsonarismo”

30 de abril de 2020 - 14:02

#DicaON

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Adalberto Cardoso lançou esse mês o livro “À beira do abismo: uma sociologia política do bolsonarismo”, que pode ser conferido na Amazon < https://www.amazon.com/dp/B086Y2RW9W>. 

O livro tenta trazer pistas para a compreensão de um processo que significou a erosão da ordem constitucional de 1988, cujas origens devem ser buscadas pelo menos em 2005, e mais particularmente em 2013. Neste ano, o “reformismo fraco” (na definição de André Singer) dos governos do Partido dos Trabalhadores mostrou seus limites, pois o início da crise econômica frustrou expectativas de melhoria de vida de parcelas crescentes da população, que haviam vivido processo de mobilidade social ascendente e esperava continuar melhorando. Os movimentos de junho de 2013 ampliaram a conflitividade social, abrindo os horizontes de expectativas de todos, em especial das direitas e da extrema-direita, que tomaram as ruas a partir de 20 de junho, para não mais sair delas. O Brasil viveu processo crescente de polarização política, que a partir de 2014 opôs antipetistas e, durante o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, anti-antipetistas, isto é, pessoas e coletividades de vários partidos que se mobilizaram para defender o mandato conseguido nas urnas em 2014. O golpe parlamentar contra Dilma Rousseff, com suas ilegalidades e afrontas à Constituição, sob o beneplácito do STF, colocou esse agente no coração das lutas políticas no país. A Operação Lava Jato, iniciada em 2014, também contribuiu para a derruição da ordem constitucional, outra vez com o aval do STF. Com apoio da imprensa empresarial, a Lava Jato praticou diversas arbitrariedades, que atingiram todos os principais partidos políticos do país, fragmentando os mecanismos de construção de identidades políticas e abrindo as portas para a emergência de “outsiders” que personificassem a sanha antissistema de parcelas crescentes da população. O aprofundamento do neoliberalismo e da austeridade fiscal prolongaram a crise e fizeram crescer o desemprego, aumentando a vulnerabilidade social das massas, rebaixando os horizontes de expectativas e tornando as massas disponíveis para soluções de curto prazo, sobretudo na segurança pública. O aumento da violência estimulou discursos em favor do justiçamento policial, do armamento da população para autodefesa, da redução da maioridade penal. Por fim, os algoritmos das plataformas da internet (Facebook, Twitter, Google, YouTube) favoreceram o acirramento da polarização política iniciada em 2014, agora opondo um campo progressista e o “partido da Lava Jato”, que encarnou a luta contra a corrupção e o saneamento do sistema político. O livro mostra como o ano radical e violento de 2018, com atentados contra o ex-presidente Lula e contra Jair Bolsonaro, com a greve dos caminhoneiros, a prisão de Lula, com o cerrado bombardeio de fake news pelo WhatsApp contra o candidato do PT, com o apoio da Igreja Universal do Reino de Deus a Bolsonaro e muito mais, terminaria por abrir o caminho para sua vitória.