OPINIÃO: Mônica Martins afirma que a crise não limita a capacidade brasileira de receber refugiados.

14 de setembro de 2015 - 17:45

14 de setembro, 2015.

 

Eis artigo de Mônica Martins, publicado no jornal O Povo do dia 13 de setembro.

Pode também ser acessado através do link < http://digital.opovo.com.br/jornalopovo/13/09/2015/p18#.VfYEUBCe2WY.gmail >.

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A Crise no País pode limitar a capacidade de o Brasil receber refugiados?

 

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Em 2014, a estudante de Biologia Nabilah Abdelaal, participa de protesto silencioso marcando o terceiro ano da guerra-civil na Síria.

 

 

Não! O Brasil tem exercido um papel de cooperação junto aos refugiados e, em 1960, foi o primeiro país a ratificar a convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951. Hoje, abrigamos 5.208 refugiados de 79 nacionalidades, sendo 64% da África, conforme o Comitê Nacional para Refugiados (CONARE). Por que agora seria diferente nossa ação face à crise na Europa? Por que limitar a oferta de asilo a milhares de sobreviventes da política criminosa de guerras e intervenções dos EUA e da OTAN? Ou das trágicas incursões do Estado Islâmico? Devemos sim continuar acolhendo pessoas que sonham com uma vida melhor em um novo ambiente. Há razões de sobra, dentre as quais elenco as seguintes:

  1. o território brasileiro é vasto, abundante em riquezas naturais e com áreas ainda por ocupar produtivamente, inclusive no Nordeste, região mais densamente povoada do país;
  2. somos fruto da miscigenação de variados povos que vieram para o Novo Mundo, por vontade própria ou coagidos, com destaque aos africanos escravizados que deram aportes inestimáveis ao que se admira, em todo mundo, como cultura “brasileira”;
  3. nossas atuais dificuldades econômicas, similares a de outros países, não são conjunturais, pois há tempos o caminho de desenvolvimento imposto pelas elites e seus parceiros internacionais vem sangrando nossa população, em particular, a classe trabalhadora;
  4. existe uma tradição humanitária e um jeito de ser alegre, hospitaleiro e amável que nos caracteriza internacionalmente como “brasileiros”;   
  5. Por último, e não menos importante, boa parte da presente onda de refugiados é de estudantes ou profissionais qualificados, o que revela um perfil próximo ao do caso recente de jovens recém-formados da União Europeia que para cá migraram em busca de oportunidades.

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Espero que o plano global em negociação entre o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e o governo brasileiro assegure aos expulsos de suas pátrias melhores condições de vida e trabalho em nossa sociedade.

 

 

Mônica Dias Martins é professora da UECE e

Coordenadora do Observatório das Nacionalidades.