Como destravar a inovação no Brasil?

12 de março de 2021 - 13:31

Segundo a CNI (Confederação Nacional da Indústria), reduzir o “custo Brasil” na área de inovação passa por “garantir o aumento e a estabilidade de recursos para Pesquisas, Desenvolvimento e Inovação”, “acelerar a implantação das redes 5G no Brasil” e “instituir o marco legal de Startups”. Essas e outras 22 medidas foram recomendadas em relatório divulgado pela entidade no fim do mês passado.

O Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), alvo de contingenciamentos, é uma das preocupações. “O orçamento de 2020 previa a arrecadação de aproximadamente R$ 5 bilhões, dos quais apenas cerca de 12% foram autorizados para uso”, afirma a entidade. O projeto de lei 135 do ano passado, que propõe vedar a limitação financeira do fundo, ficou em segundo plano no legislativo durante a crise, mas é fundamental para estimular o ecossistema de inovação no país, diz Jorge Audy, superintendente de Inovação e Desenvolvimento da PUCRS e do centro TECNOPUC.

“As políticas de desenvolvimento econômico e social devem ter como eixo central a inovação, assim como já ocorre nos países desenvolvidos”, diz. “Exemplo disso é que a crise sanitária está sendo resolvida pela tecnologia e inovação”. Além disso, o desenvolvimento da área no país também passa por incluir entidades representativas na Política Nacional de Inovação, instituída no ano passado pelo governo federal, defende Audy. “Na configuração atual, só há representantes do próprio governo”.

A CNI ainda aponta o leilão das redes 5G como um dos pontos-chave para o desenvolvimento da indústria brasileira. Depois de tensões envolvendo a possibilidade de participação de certas empresas ou não, a Anatel (Agência Nacional das Telecomunicações) aprovou o edital e o certame deve ocorrer ainda no primeiro semestre. “O avanço da digitalização proporcionado pelo 5G é um processo fundamental para prover mais e melhores serviços à população e para permitir o desenvolvimento de novos modelos de negócios e novas e melhores formas de prestação de serviços à sociedade”, defende a CNI.

O marco legal das startups também é visto como um passo importante para o ecossistema de inovação. Aprovado com alterações pelo Senado em fevereiro, deve seguir para a Câmara. A legislação não é unanimidade no setor, principalmente em relação à não equiparação de investimentos em startups com outras aplicações e o impedimento dessas companhias se organizarem como sociedades anônimas. “Entre 2011 e 2019, o país perdeu 19 posições no principal índice que mede a capacidade e o estágio de um país em termos de inovação”, lembra a CNI em documento.

Apesar das prioridades de curto prazo, destravar a inovação no país tem um remédio apenas no longo prazo, diz Audy. “Precisamos de uma verdadeira revolução na educação, que ela seja inclusiva, de qualidade, e que garanta que nossos jovens adquiram o conhecimento para viver e trabalhar no século XXI”. Apenas esse tipo de mudança é capaz de construir um país não apenas capaz de usar novas tecnologias, mas também gerá-las. “Enquanto isso não acontecer, é apenas um castelo de areia, com as bases frágeis”.

Fonte: Época Negócios, por Carolina Unzelte, em 09 de março de 2021, às 06:02