Artigo: Inovar é pensar global

26 de setembro de 2017 - 11:16

Por Maureen Flores                

Uma pontada no joelho, uma partida de tênis, uma “saideira” com os amigos. Assim nasceram no Brasil, Estados Unidos e Austrália algumas das inovações  disponíveis no mercado esportivo. Comum entre os inovadores: formação sólida e muita disposição para errar e levantar. A coluna de hoje destaca as experiências de inovadores internacionais e suas vantagens sobre os inovadores brasileiros.

Ai ai meu joelho
Nos Estados Unidos, um aluno de medicina e outro de administração decidiram investigar como o uso da tecnologia poderia prevenir as lesões no joelho tão comuns aos atletas. Definiram que essa seria uma grande oportunidade de mercado se pudessem desenvolver um protótipo ao custo inferior de 100 dólares. Para realizar a tarefa convidaram outros parceiros e, de um grupo de seis, nascia a Torqlabs. O grupo conseguiu aporte de recursos, incorporou o parceiro tecnológico, estudou os mercados e decidiu que o potencial de expansão estava na Europa, no coworking Station FC, na França, o maior espaço de inovação do mundo. A mudança valeu à pena. Julian, o porta-voz do grupo, afirma que estar no Station FC cria o ambiente propício a formação de redes com as melhores startups, abre caminhos para aporte de capital e facilita o acesso aos programas europeus de inovação. Na opinião de Julian, apesar de todas as conquistas, a inovação mundial ainda carece de um lócus global que atue na facilitação da mobilidade internacional.

Sharapova, meu amor
O engenheiro australiano Martin, fã incondicional de tênis, ao assistir um jogo de Maria Sharapova percebeu que a atleta precisava interromper o jogo a toda hora para que a fisioterapeuta pudesse checar a mão lesionada. Nesse momento, Martin enxergou um produto capaz de eliminar o suor do atleta, oferecer compressão interna para estabilizar o pulso e absorver o impacto do grip. Rapidamente, realizou um levantamento de patentes, viu o vazio, patenteou sua ideia, testou na Austrália, achou o mercado pequeno e com baixa qualidade de produção. Decidiu  se mudar para Hong Kong, para o Coworking Hive, o maior da Ásia, de onde passou a administrar a marca Eliminator. A Eliminator já conta com uma linha extensa de produtos voltados para ciclismo, boxe, natação e outros. Martin não tem funcionários, a Eliminator sub-contrata todos os serviços e aproveita a rede oferecida pelo Hive para divulgar seus produtos na região. Na sua busca por investidores, o Depto de Comércio de Hong Kong passou a contribuir na promoção dos produtos mas ainda há necessidade de capital para expansão. Martin afirma que fazer parte do Hive e estar em  Hong Kong é perfeito para quem quer expandir seu negócio na Ásia.

4-3-4, carrousel ou 4-2-3-1
Apaixonado por futebol, um cientista da computação pela UNICAMP, em bate papo com colegas sobre as  jogadas ensaiadas no futebol, lamentava não ter uma coletânea dos momentos criados por grandes treinadores. Assim, juntando paixão e profissão, Fernando criou a TacticalPad: um software esportivo, usado na preparação de exercícios, sessões de treinamento, análise de desempenho e estudos táticos. 

Passados 10 anos, Fernando afirma que a incubadora foi um grande facilitador na criação de uma “cultura” de empresa entre jovens inexperientes; entretanto, a mentoria, o aconselhamento, para o desenvolvimento do produto e da organização foi e ainda é deficitário. Os erros são muitos no início; contrata-se errado, comete-se erros operacionais graves  e esse desperdício de recursos normalmente é fatal para as startups.
Quando começaram, a tecnologia era pouco aplicada ao esporte; havia grandes barreiras e o mercado era fechado. O contato com o clube acontecia através “do amigo-do amigo-do amigo”. O primeiro cliente foi a categoria de base do Palmeiras mesmo assim só cresceram quando a imprensa esportiva adotou a solução. No caso da TacticalPAD o segredo foi ter foco. Hoje, a empresa já exporta sua solução para outros países.

Mercado Global
Participar da rede formada por startups internacionais requer acesso aos melhores espaços de coworking que estão localizados na Europa, Asia e Estados Unidos. A mobilidade entre essas startups é grande, o mercado é global e elas não nascem para serem locais. Esses inovadores são cidadãos do mundo que se estabelecem com base na relação custo benefício. 

A ausência de mentoria e aconselhamento de qualidade internacional no Brasil é mais fatal para as startups do que a limitação de acesso ao capital de risco; principalmente, no esporte que é um nicho de mercado. Para que o esporte possa contribuir com a pauta de exportação nacional é preciso encará-lo como um segmento econômico e, como tal, capaz de gerar inovação e divisas.

Meus agradecimentos ao Station FC, ao Hive, a Fernando Closs da TacticalPad, a Julian Holtzman do Torqlabs e a Martin McDonald da Eliminator.